segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Dr. Cristóvão da Costa: uma genealogia tentativa.

1. Vasco Lourenço. Atestado em Tavira e nascido em 1404. Poderia ser filho de Lourenço Paes da Costa, de Lagos (Lourenço Pais da Costa foi escudeiro do infante D. Pedro, tabelião de Lagos onde morava, procurador dos resíduos de Lagos (31.5.1443) e escrivão perante o contador dos vassalos (9.1.1444)).

Vasco Lourenço era cunhado ou concunhado do Dr. Mestre Rodrigo [de Lucena], físico mor. Pelo nome de seu filho, poderia ser casado com uma filha de Afonso Madeira, vassalo d'El Rei, citado em 1385, e cuja descendência fica em Tavira no século XV. Nesse caso, a relação ao Dr. Rodrigo de Lucena seria de concunhado.

Vasco Lourenço é dado como vassalo d'El Rei em 1474, aos 70 anos. Pai de:

2. Dr. Mestre Afonso Madeira. Teria nascido c. 1434; habilitado como cirurgião perente o tio Dr. Rodrigo de Lucena em 1456; falecido em 1475. Pai de:

3. Dr. Cristóvão da Costa, já biografado. Seu nascimento ter-se-ia dado em 1475 ou pouco antes.

Dr. Cristóvão da Costa: mensagens de Manuel Abranches de Soveral

Manuel Abranches de Soveral, sempre prestimoso, mandou-me duas mensagens sobre o Dr. Cristóvão da Costa, que transcrevo em seguida:


Caro Francisco
Dados os cargos do doutor Cristóvão, a solução tinha de estar, como de facto estava, na Chancelaria de D. Manuel I. E agora posso-lhe acrescentar mais alguma coisa, pois já me confrontei com esses físicos-mores. Desde logo, não eram judeus, mas sim gente nobre. Ao contrário do que se possa pensar, se é verdade que os judeus (e depois os cristãos-novos) pontificavam na Medicina, não tinham o seu exclusivo e muitos cristãos-velhos, inclusive membros da Igreja, até bispos, ocuparam o cargo de físico-mor. Antes da conversão obrigatória, é até muito fácil distingui-los na documentação, não só pela onomástica mas porque os judeus são em geral referidos como tal.

Há muitos Mestres Afonsos, físicos e cirurgiões contemporâneos. E, para complicar ainda mais as coisas, há até dois doutores Mestre Afonso físicos-mores, um de D. Afonso V e outro de D. Manuel I. Fui tentar saber de qual dos dois era filho o seu Cristóvão. E verifiquei que já a 11.10.1520 o doutor Cristóvão da Costa é referido como filho do doutor Mestre Afonso, que foi físico-mor. Ora, o doutor Mestre Afonso que foi físico-mor de D. Manuel I ainda se documenta neste cargo a 24.8.1521. Pelo que não pode ser o mesmo. Temos, assim, que o doutor Cristóvão da Costa era filho do doutor Mestre Afonso, físico-mor de D. Afonso V, o que aliás concorda melhor com a cronologia, pois o físico-mor de D. Manuel I só ocupou o cargo em 1515, devendo ser o homónimo que teve carta de cirurgião a 1.6.1489 (CJII, 16, 23). Antes dele foi físico-mor António de Lucena, que sucedeu a seu presumível pai Rodrigo de Lucena.
E felizmente para si que assim é, porque sobre o doutor Mestre Afonso, físico-mor de D. Afonso V, já lhe posso dizer bem mais. Desde logo, que se chamou Afonso Madeira, era cavaleiro da Casa Real, filho de Vasco Lourenço, morador em Tavira, que foi aposentado com honras de vassalo do rei, e sobrinho do dito físico-mor Rodrigo de Lucena, cavaleiro da Casa Real, «homem fidalgo», que foi sucessivamente cirurgião do infante D. João, do infante D. Henrique e do príncipe herdeiro (futuro D. João II), e finalmente substituiu o sobrinho, que morreu novo, como físico-mor.

Tudo indica, portanto, que a mãe do doutor Mestre Afonso Madeira (normalmente aparece apenas como doutor Mestre Afonso) era Lucena. O pai, Vasco Lourenço, foi aposentado em 1474 com 70 anos, pelo que nasceu em 1404. Talvez seja o Vasco Lourenço, escudeiro da Casa Real, que foi nomeado escrivão da Alfândega de Tavira em 1464. O doutor Mestre Afonso Madeira terá nascido cerca de 1434, e teve carta de cirurgião em 1456, teria 22 anos. Em 1459 já era físico-mor, vindo a falecer relativamente novo em 1475, sucedendo-lhe o tio no cargo. Portanto, o doutor Cristóvão da Costa nasceu em 1475 ou antes, ficando órfão criança. O doutor Mestre Afonso é certamente o que, referido como comendador de Pinheiro de Ázere na Ordem de Santiago, teve menos uma filha ilegítima, Luzia Afonso, legitimada por carta real de 1472. É possível que o doutor Mestre Afonso Madeira seja irmão ou sobrinho de um João Madeira que a seu pedido foi em 1459 feito escrivão dos feitos das sisas régias de Mértola.

Vasco Lourenço, o pai, seria Madeira, de Tavira, supõe-se. O Miguel Corte Real poderá dizer melhor. E pergunto-me se não seria também Costa e irmão do Fernando Lourenço da Costa que era escudeiro do infante D. Pedro e morador em Beja quando 16.1.1441 seu criado Fernão Rodrigues foi nomeado homem do almoxarifado dessa vila. Alternativamente, o doutor Mestre Afonso Madeira podia ter casado com uma Costa, possivelmente de Tavira, donde ele seria natural, já que o pai aí vivia.

O doutor Mestre Rodrigo de Lucena (em geral aparece apenas como doutor Mestre Rodrigo ou apenas Mestre Rodrigo) teve documentalmente um filho João, que em 1468 teve uma bolsa de estudo. E é certamente pai do já referido físico-mor doutor Mestre António de Lucena, que lhe sucedeu no cargo. A relação de Mestre Rodrigo com o doutor Vasco Fernandes (de Lucena) não a tenho apurada. É certo que o doutor Vasco Fernandes casou com Violante de Alvim e que não era judeu. E também é certo que nunca aparece como Lucena, e sempre apenas como doutor Vasco Fernandes e assim assina inúmeras cartas como desembargador de D. Duarte.
Finalmente, há um Afonso Madeira que ronda a cronologia do doutor Cristóvão da Costa e pode ser seu irmão. Foi lente de Cânones da Universidade (Estudos Gerais) de Lisboa e era depois arcediago e desembargador dos agravos da Casa da Suplicação. Como clérigo, tomou ordens, matrícula onde virão os nomes dos pais.

Segue a indicação da documentação concernente:

28.9.1497 - A mestre Jerónimo, físico, morador em Estremoz, confirmação da licença para exercer em todo o reino. Fora examinado há 24 anos pelo doutor Mestre Afonso. O doutor Mestre António de Lucena
examinou-o e achou-o suficiente (CMI, 28, 23v).

26.3.1498 - A mestre Lopo, morador em Elvas, confirmação da licença para usar da ciência e arte de
medicina por todo o reino e senhorios, com parecer favorável de mestre António de Lucena, físico-mor.
Fora examinado há 25 anos pelo doutor Mestre Afonso Madeira. Jurou na Chancelaria. El-rei o mandou
pelo mestre António de Lucena, físico-mor. (CMI, 44, 3)

25.3.1498 - Mestre António, físico-mor na vila de Tomar, informou, através de uma carta, que havia muitos
anos que aprendera a arte de cirurgia e medicina, e que há cerca de 30 anos tinha sido examinado por
Mestre Afonso Madeira, físico-mor de el rei D. Afonso V. Agora queria ser examinado pelo doutor Mestre
António de Lucena, físico-mor, para lhe ser passada nova mercê do ofício de confirmação, o que
aconteceu. El-rei o mandou pelo doutor Mestre António, seu físico-mor (CMI, 14, 53v).

15.1.1496 - Ao bacharel Afonso Madeira, confirmação do instrumento de eleição do lente da cadeira de
Cânones, do Estudo da cidade de Lisboa, datado de 1495, apresentado pelo protonotário bedel desse
Estudo. E mandava ao reitor e lentes, conselheiros e (…). dessa Universidade que o houvessem por lente
dessa cadeira, e outro não, com os próis que direitamente pertencessem (CMI, 32, 60).

7.8.1498 - Carta de confirmação da eleição do bacharel João Carreiro para a cadeira dos Cânones da
hora de prima, conforme um instrumento de eleição, que apresentou, que foi feita pelo reitor e lentes das
escolas gerais de Lisboa. A mesma foi feita porque o lugar era vago, por renunciação que dela fez, nas
mãos do dito reitor, Afonso Madeira (CMI, 29, 122).

8.3.1496 - Ao bacharel Afonso Madeira foi dada confirmação da eleição para reger uma cadeira nas
escolas gerais de estudo da cidade de Lisboa, da qual era reitor Álvaro Anes, capelão da Rainha. O eleito
apresentou um instrumento público de eleição, feito a 22.2.1496, dizendo que a cadeira de cânones
estava vaga por renunciação do licenciado Fernão Rodrigues, por ser desembargador na relação do Rei.
João Fernandes, bacharel, disse na escola diante de todos os presentes que deixava o lugar vago a
Afonso Madeira. Todos concordaram que ele fosse eleito e o reitor lhe passou instrumento, sendo
testemunhas o doutor Estêvão Borges, de Leis, Vicente Gonçalves, escolar em Leis e conselheiro da dita
escola, Pero Afonso, escolar em Cânones, e Fernão Gonçalves, bedel do dito estudo e público notário por
autoridade real (CMI, 26, 40).

29.2.1519 - Mercê ao arcediago Afonso Madeira, desembargador dos agravos da Casa da Suplicação, do
mantimento de 60.000 reais por ano (CMI, 35, 108).

2.12.1456 - D. Afonso V privilegiou mestre Afonso, sobrinho de mestre Rodrigo, cirurgião do infante D. João,
concedendo-lhe licença para exercer a profissão de cirurgião em todo o reino (CAV, 13, 70v).

13.1.1459 - D. Afonso V nomeou novamente João Madeira, escudeiro régio, a pedido de mestre Afonso
Madeira, físico-mor, para o cargo de escrivão dos feitos das sisas régias de Mértola (CAV, 36, 33v e 125v e
126).

6.9.1462 - D. Afonso V privilegiou Pedro Domingues, alfaiate, morador em Coimbra, a pedido do mestre
Afonso Madeira, físico-mor, isentando-o do direito de pousada. (CAV, 1, 9v)

13.2.1464 - D. Afonso V nomeou Vasco Lourenço, escudeiro da sua Casa, para o cargo de escrivão da
Alfândega de Tavira, em substituição de Gil Vasques (CAV, 8, 187).

27.7.1466 - D. Afonso V privilegiou Afonso Rodrigues, carniceiro, a pedido do doutor Mestre Afonso
Madeira, físico-mor régio, concedendo-lhe licença para que possa comprar gados em qualquer lugar do
reino (CAV, 14, 53).

11.9.1472 D. Afonso V privilegiou mestre Fernando, cirurgião, natural do reino de Castela, e na sequência
do exame feito pelo Dr. Afonso Madeira, fisico-mor régio, cavaleiro da Casa Real, concedendo-lhe
licença para usar da arte da física por todo o reino (CAV, 33, 199).

2.12.1472 - D. Afonso V legitimou Luzia Afonso, filha do doutor Mestre Afonso, comendador de Pinheiro de
Ázere na Ordem de Santiago, e de Margarida Afonso, mulher solteira, a pedido de seu pai (CAV, 29,
264v).

1.2.1474 - D. Afonso V privilegiou Vasco Lourenço, morador na vila de Tavira, pai do doutor Mestre Afonso
Madeira, físico régio, recebendo-o por vassalo régio e concede-lhe aposentação, com todas as honras,
privilégios, liberdades e franquezas dos vassalos aposentados pela idade de 70 anos (CAV, 10, 69v)

13.9.1475 - D. Afonso V nomeou o doutor Mestre Rodrigo, físico do príncipe D. João, para o cargo de
físico-mor, com todos os direitos que tinham os outros físico-mor, em substituição do doutor mestre Afonso
Madeira, que morrera (CAV, 30, 30).

19.1.1439 - D. Afonso V concedeu carta de privilégio a mestre Rodrigo, cirurgião, cavaleiro da casa régia,
para quatro lavradores que estiverem no paúl e nas terras de arredor dele, junto a Soure, isentando-os do
pagamento de diversos impostos e encargos concelhios (CAV, 25, 12v).

20.3.1442 - D. Afonso V privilegiou mestre Rodrigo, homem fidalgo, cirurgião do infante D. João, e a pedido
deste, concedendo-lhe todas as honras, privilégios, liberdades e franquias dos vassalos régios (CAV, 95, 93).

3.12.1455 D. Afonso V perdoou a justiça régia a Mestre Rodrigo, cirurgião do infante D. Henrique, rendeiro
das sisas régias na vila de Leiria, pelas más palavras que dirigira ao juiz da dita vila, por este ter posto em
pregão os bens que possuía na mesma vila sem seu conhecimento e sem razão, porque esteve ausente
dessa vila durante alguns dias, tendo pago 300 reais brancos para a Chancelaria régia (CAV, 25, 92).

31.11-1468 D. Afonso V doou a João, filho do doutor Mestre Rodrigo, físico do príncipe, enquanto sua
mercê for, uma tença anual de 4.800 reais brancos, a partir de 1 de Janeiro de 1468, para mantimento
do seu estudo (CAV, 28, 34v).

27.6.1475 D. Afonso V doou ao doutor Rodrigo, mestre, físico-mor régio, a metade dos bens de Isabel
Martins, viúva de Luiz Martins, vassalo régio, morador na cidade de Lisboa (CAV, 30, 78).

30.3.1499 - Diogo da Mota, criado de Mestre Rodrigo, físico-mor da corte, mercê do ofício de tabelião na
vila de Armamar (CMI, 14, 22v).

22.2.1496 - A Mestre Salomão Abraão Abile, filho de Mestre Samuel, morador em Setúbal, foi dada carta
de físico. El-Rei o mandou pelo doutor Mestre Rodrigo de Lucena seu físico-mor, cavaleiro de sua casa
(CMI, 26, 102).

17.1.1496 - Ao doutor Mestre Rodrigo, nosso físico-mor, foi dada confirmação de uma carta padrão de
tença anual, que ele já tinha de D. João II, de 38.632 reais que ele tinha em cada ano, a saber: 30.000 de
morada, à razão de 2.500 por mês, mais 4.200 de sua vestiaria e 4.392 de sua cevada, ordenada à razão
de um alqueire de cevada por dia a 120 reais o alqueire. Pediu-nos o dito doutor que o dinheiro todo lhe
mandássemos assentar, por tença, nos livros da fazenda e nós querendo-lhe fazer graça e mercê, damo-
lo a partir de Janeiro de 1496 em diante. Mandamos aos vedores da fazenda que o assentem nos livros
dela. (CMI, 26, 120 e 120v).

21.8.1438 - D. Afonso V doou a Violante de Alvim, donzela da sua Casa, e ao doutor Vasco Fernandes, desembargador régio, uma tença anual no valor de1.500 coroas de bom ouro e cunho do rei de França, por seu casamento, a partir de Janeiro de 1439 (CAV, 18, 36).

1.8.1439 - D. Afonso V doou ao doutor Vasco Fernandes, desembargador régio, uma tença anual de 245.000 libras, até lhe serem pagas 700 coroas de ouro, que ainda lhe não foram pagas por seu mantimento quando fora embaixador na embaixada do conde de Ourém (CAV, 19, 91v).

Um abraço,
Manuel



Caro Francisco

Estive para fora, pelo que só agora lhe respondo.

Por mim pode postar o que entender, mas convém ter todos os cuidados, porque, como verá
adiante, nem sempre o que parece é. Eu sei que é frustrante estar longe das fontes, mas o assunto carece de maior investigação. Sobretudo no que respeita às ligações Lucena e Costa.
Porque quanto ao resto, não me restam muitas dúvidas de que, de uma forma ou doutra, era
Madeira Arrais, de Tavira.

Manso de Lima fala num Afonso Madeira de Mendonça que foi clérigo e desembargador e teve
uma filha, Maria de Mendonça, casada com Jorge de Brito de Souza. É claramente o que referi,
arcediago e desembargador dos agravos da Casa da Suplicação em 1519, embora sem o
Mendonça. E o mesmo autor di-lo filho de Rui Madeira Arrais, que viveu em Faro nos reinados de D. Afonso V e D. Duarte, a quem noutro sítio chama Rui Madeira de Mendonça e diz filho de um doutor Afonso Madeira de Mendonça que viveu no reinado de D. João II (diz III, mas devia querer dizer II) , o que em qualquer dos casos é anacrónico.

Não topei com nenhum destes.

O certo é que os Madeira Arrais, de Tavira, descendem de Gonçalo Arrais, vassalo de D. João I,
que viveu em Tavira, e de sua (segunda) mulher (Inez) Madeira, filha de Afonso Madeira, também vassalo do mesmo rei.

A 17.4.1384 D. João I doou a «gonçallo arraiz nosso uasallo», pelo muito serviço que lhe fez e
esperava ainda dele receber, para todo o sempre, um figueiral em Tavira que pelo rei D. Fernando trazia de foro Constança Vasques, mulher que fora de Diogo Gil, moradores nessa vila, conquanto de seu prazimento a dita Constança Vasques lhe queira deixar o dito figueiral.

A 10.12.1385 o mesmo rei doou a Afonso Madeira, seu vassalo, o senhorio do julgado de Fermedo, com todas as suas rendas, direitos, foros, pertenças e jurisdição cível e crime. Tinha-lhe antes doado os bens de Afonso Gomes da Silva, que estava em deserviço, e a este devolveu a 4.12.1385. E a 27.10.1387 confirmou a Afonso Madeira as terras que tinha Aires Gonçalves de Figueiredo, que estivera preso com o conde de Neiva, em deserviço. As restantes terras de Aires Gonçalves de Figueiredo tinham passado a 5 do mesmo mês para o camareiro-mor João Rodrigues de Sá (casado com uma neta do dito Aires Gonçalves de Figueiredo). Essas terras, não especificadas, eram basicamente Fermedo, senhorio que por morte de Afonso Madeira passou para Isabel Pereira, neta do antedito Aires Gonçalves de Figueiredo, casada com Vasco Pereira, filho segundo da Casa da Feira, em cuja geração este senhorio se manteve.

E certo, também, é que os Madeira/Arrais permaneceram em Tavira no século seguinte:

A 3.7.1450 D. Afonso V perdoou a justiça régia e concedeu carta de segurança a Lourenço
Esteves, morador que foi em Tavira, pela morte de João Vasques Madeira, pelos serviços prestados nas guerras passadas, contanto que vá cinco anos para a cidade de Ceuta (CAV, 34, 123v).

A 26.2.1454 D. Afonso V confirmou o aforamento a João Arrais, morador em Tavira, de uns moinhos e terras no termo da vila de Tavira, segundo as cartas dos reis seus antecessores que as aforaram a seu avô, João Arrais, e posteriormente a sua mãe (CAV, 6v a 7v).

A 18.7.1456 D. Afonso V legitimou Luiz, filho de Frei João Arrais, frade da Ordem de S. Francisco e de Inez Lourenço, mulher solteira, a pedido de seu pai (CAV, 13, 96).

A 26.12.1460 D. Afonso V doou a D. Vasco de Ataíde, prior de S. João do Hospital, os bens móveis e de raiz que pertenceram a Luiz Madeira, escudeiro da Casa Real, morador em Tavira, que os perdeu por ter levado carneiros para Castela (CAV, 35, 103v).

E, é claro, em Tavira vivia o pai do doutor Mestre Afonso Madeira, Vasco Lourenço, n. em 1404, ao que tudo indica casado com uma irmã do doutor Mestre Rodrigo de Lucena (se bem que este
também podia ser tio de Afonso Madeira por afinidade, e neste caso ter casado com uma irmã de
Vasco Lourenço ou com uma irmã de sua mulher, que assim já podia ser uma Costa).

Finalmente, há um Lopo Madeira que a 28.7.1473 teve licença para praticar cirurgia por todo o
reino (CAV, 33, 152v). Terá assim nascido cerca de 1451 e deve ser parente do doutor Mestre
Afonso Madeira.

Um abraço,
Manuel

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Dr. Cristóvão da Costa: marranos, Lucenas e Costas

Filiar como havia feito antes o Dr. Cristóvão da Costa nos Costas algarvios (e dele a biografia já explicito) foi um erro meu. Coloquei-o — com base na interpretação errada de um documento — como filho de Afonso da Costa, alcaide de Lagos. Não o foi. O Dr. Cristóvão da Costa foi filho do Dr. mestre Afonso, físico mor (uma espécie de ministro da saúde) de Portugal e catedrático de física do studium generale de Lisboa, depois de 1499.

Leio, num artigo de Iria Gonçalves, “Físicos e cirurgiões quatrocentistas,” que cerca de 2/3 dos médicos (físicos) e cirurgiões desse período em Portugal eram judeus ou marranos. Era, com certeza, este o caso do Dr. mestre Afonso. E agora conto a história de sua gente.

Notemos de início o status muito alto de sua família, no estamento burocrático português: o Dr. mestre Afonso chega a físico mor (parênteses: não me habituo a escrever fisicomor, como o exige esta infame nova ortografia), e seu filho o Dr. Cristóvão da Costa será reitor da universidade em 1526, desembargador em 1521, e chanceler-mor depois de 1530. Pois encontro, no artigo de Iria Gonçalves, em 2.12.1456, um mestre Afonso que recebe carta de cirurgião. Na carta nota-se que é sobrinho de mestre Rodrigo, cirurgião do infante D. João. Penso que neste cirurgião diplomado em 1456 começa esta minha história.

Em Anselmo Braamcamp Freire leio (baseia-se em parte em Alão de Moraes) sobre os três irmãos Lucenas: o Dr. Vasco Fernandes de Lucena, sobre quem já falo; o Dr. mestre Rodrigo de Lucena, físico mor do reino até 1499 ou pouco depois, e o mestre Afonso, que Braamcamp Freire identifica ao “físico da infanta,” embora não saiba eu que infanta o era.

O Dr. Vasco Fernandes de Lucena é formidando personagem. Amarranado na origem, segundo Alão, seria seu pai certo Fernão Vaz ignoto, irmão presumido do mestre Rodrigo que se documenta. Fernão Vaz está em Felgueiras Gayo (sim, sim, sei das desconfianças com o que diz Gayo, mas este nome reaparece nas gerações futuras, e faz pendant com Vasco Fernandes). Imagino este Fernão Vaz como um marrano de primeira geração, nascido nos últimos anos do século XIV, rico e muito bem educado, porque tiveram alta educação seus filhos. E bem sucedidos o foram. Em 20.4.1487, numa sentença, o Dr. Vasco Fernandes de Lucena dá-se os títulos de — “do conselho e desembargo de el Rei, conde palatino e cronista-mor do reino.” O título de conde palatino ter-lhe-ia sido concedido pelo papa Inocêncio VIII Cybò em 1485 quando o Dr. Vasco a este se apresentou como embaixador de Portugal. Braamcamp despreza o título, dizendo que nada valia — mas na Itália era muito apreciado, e ecoava os comites stabuli etc que vinham do tempo dos romanos.

Desembargador, cronista mor, embaixador e conde palatino. Notável indivíduo. Seu irmão o Dr. mestre Rodrigo de Lucena é físico mor do reino até pelo menos 1499, e a ele sucede como físico mor o Dr. mestre Afonso, nomeado em 1499 para a cátedra portuguesa de física. Pois nisso, e no alto status, no estamento burocrático português, de seu filho o Dr. Cristóvão da Costa, me baseio para identificar o “mestre Afonso” irmão dos dois Lucenas, Vasco e Rodrigo, ao Dr. mestre Afonso que passa a físico mor do reino em 1499.

Eram, de fato, altos personagens. O Dr. Cristóvão da Costa nasce por volta de 1485 — seu pai já teria então mais de 50 anos, presumo. Estuda cânones em Salamanca, e é admitido no studium generale de Lisboa em começos de 1512 como bacharel. Doutora-se em cânones em Siena em 1518; volta a Portugal e em 19.9.1520 é nomeado desembargador da casa do cível por D. Manuel, com 2 mil reais de mantimentos por ano (recebe outros emolumentos, ainda, e vultosos). Depois de 1530 é chanceler da relação, posição que é a terceira mais alta do reino.

Numa carta de brasão passada a um seu descendente em 14.7.1603, falam do parentesco destes aos Costas do Armeiro-Mor, de D. Duarte da Costa, governador geral do Brasil até 1556. Aparece na descendência do Dr. Cristóvão da Costa o nome “Pedro Homem da Costa,” que ocorre pela primeira vez nos Algarves em começos do século XV. Esses marranos de alta hierarquia, Damião Dias, Diogo de Crasto do Rio, o próprio Dr. Vasco Fernandes de Lucena, costumavam casar com mulheres nobres, de nobreza notável, ou seus descendentes — o próprio Dr. Vasco teve por mulher a uma Azevedo, dos Azevedos antigos; Damião Dias, a uma Meneses. Assim, é possível que o Dr. mestre Afonso tenha tido por mulher uma Costa de nobreza explícita, e este sobrenome da mulher será o que repassa aos descendentes.

O filho do Dr. Cristóvão da Costa, Fernão Vaz da Costa — nome que herdou do avô materno, o desembargador Dr. Fernão Vaz de Caminha (sim, seria sobrinho neto de Pero Vaz, o cronista) — nasce por volta de 1520 e morre em 1565 ou 1566. Vem para o Brasil com Tomé de Sousa, em 1549, largando em Portugal o morgadio constituído pelo avô materno, e aqui se casa com Clemenza Doria, bastarda do banqueiro genovês Aleramo Doria. E começam minha família, os Costas Dorias.

O nome “Fernão Vaz” vem-lhe, e aos demais Fernãos Vaz sucessivos, que os houve quatro, nos séculos XVI e XVII, na Bahia, do desembargador Caminha, que o teve do avô materno, clérigo de missa e luxurioso como todos que tais, no século XV. Mas — pode ser que o presumido bisavô, o Fernão Vaz marrano, tenha tambem contado para que este fosse o nome de meu antepassado, e dos seus descendentes, na linha que usava alternadamente os nomes Vaz da Costa e Sá Doria. E ainda há quinze anos vivia em Salvador, já idoso, um primo, Fernão da Costa Doria. Que exibia este prenome familiar obsessivo, desde o século XV, talvez mesmo o século XIV...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Dois livros obscenos recentes

http://e-papers.com.br/produtos.asp?codigo_produto=1573&promo=0

http://www.collegepublications.co.uk/tributes/?00007

Livro sobre os Acciaiolis

Podem baixar; tá bonitinho, é todo ilustrado — e é de graça.

http://www.sendspace.com/file/617sbl

sábado, 20 de setembro de 2008

Uma aula

Pra vocês verem minha cara feia, e minha voz de cana rachada...

(Aula que dei em 19.9.08.)

Meu clínico determinou que devo perder dez quilos.

domingo, 31 de agosto de 2008

Montegufoni, 30 de agosto de 2008


Tem história desde o século X. No século XII, Gugliarello Acciaioli comprou as terras, e lá construiu uma torre e umas casas fortificadas. Pertenceu aos Acciaiolis até 1837, quando morreu o marquês de Novi, último da linhagem, Nicola Diacinto Acciaioli de Vasconcellos.

A torre visível na foto data de fins do século XIV, e foi construída por Donato di Jacopo Acciaioli, gonfaloneiro várias vezes em Florença e barão de Basciano.

No portão, o leão dos Acciaiolis e o galgo dos Altovitis — Anna Maria Altoviti foi mulher de Donato Acciaioli, no século XVII; era poetisa.

Monteguffoni, monte dei guffi, morro dos corujões. Mas só ouvi de longe o pio de mochos, nada mais.