domingo, 27 de maio de 2007

Cristóvão da Costa Doria e o inquisidor, 1592

Apenas como registro: um documento histórico inédito, que está nos ANTT.

Aos ujnte e seis dias do mes de ojtubro/ de mil e qujnhentos e nouenta e dous/ annos nesta cjdade do Saluador — / Capitanja da bahia de todos os Santos/ nas casas da morada do s.or ujsita-/dor do s.to offj.o hejtor furtado de men-/doça perante elle pareçeo sendo/ chamado Cristovão da costa o qual/ reçebeo o juramento dos Santos/ euangelhos em que pos sua mão de-/rejta sob cargo do qual prometeo/ dizer uerdade e foj logo amoes-/tado com mujta carjdade pello/s.or vjsitador que declare e com-/fesse todas suas culpas per que em-/tende ser chamado a esta mesa e por-/que lhe aprouejtara mujto para/ descargo de sua concjencja e seu// bom despacho, respondeo q não sente/ em si ne sabe por que he chamado &/ foi logo perguntado se despois que/ elle ujo aconteçer os casos de gaspar/ rebello disser que não era tamanho/ peccado dormir com pagãa como co˜/ cristãa, ¶ o caso de bernardo Rib.ro/ a cerqua dafee que se auja de saluar/ sobre os quais elle Reo Ja foj chamado/ e perguntado nesta mesa se tratou/ ou fallou, ou conuersou cõ os sobre dittos/ Respondeo que Sim se fallão mujtas/ Vezes e sam amigos, e o djto gaspar/ rebello he filho de hum prjmo de mar-/tim carualho cunhado delle e foj logo/ perguntado quem he ho que tratou/ cõ elle q não ujesse denunciar a/ esta mesa contra os Sobredictos casos/ Respondeo que njnguem lhe co-//meteo tal — perguntado se quando/ elle ueo a esta mesa denuncjar o q/ lhe contou NicoLao falleiro e o P.e joam/ fez. dentro nos trjnta djas da obrj-/gação d elle dejxou de denuncjar/ as djttas cousas dos sobredjttos seus/ amjgos lembrando lhe mujto bem/ se aduertio elle que em callar as dj-/tas cousas ficaua excomungado/ com forme o monjtorjo geral/ Respondeo que quando elle ueo a esta/ mesa no djto tempo, e despois delle/ o nunca lhes lembrarão as djttas cou-/sas e que por lhe não lembrarem as/ não dixe ne denuncjou porque se lhe/ Lembrarão não ouuera de deixar/ de as denuncjar por nenhures fejto/ Jnda q forão contra seu paj, e foi lhe/ declarado que esta forte presumpção// contra elle que pois elle he amjgo dos/ sobredjttos e sempre presentes na/ mesma terra e as sobredjttas cou-/sas de tanta sua tancja [?] que pareçe/ que não se auja a elle de esquecer — / respondeo que as sobredjttas cou-/sas acontecerão mujto tempo ha - / e que nunca lhe lembrarão se não/ quando elle s.or ujsitador lhe tocou/ nesta mesa na materja dellas, e foj/ logo amoestado que se as dejxou/ de denuncjar lembrando lhe , esta/ excomungado a qual excomunhão,/ não pode njmguem absoluer senão elle vjsitador, que portanto/ declare a uerdade, porque aquj/ tractasse da Saluação de sua alma/ respondeo que nunca lhe lembrarão/ como djtto ten e que tem djtto a uer-/dade e asignou cõ o s.or ujsitador/ Manoel fr.co Notr.o do s.to offj.o nesta vj-/sitação o escreuj. E foi lhe manda-/do que não se saja desta cjdade/ sem licença desta mesa o sobre-/ditto o escreueu Xpouão da Costa Mendoça



Aos vjnte e sete djas do mes do oi-/tubro de mjl e qujnhentos e noveta/ e dous annos nesta cjdade do sal-/vador capitanja da bahia de todos/ os sanctos nas casas da morada/ do sor. vjsitador do Sancto offj.o hejtor/ furtado de mendoça perante elle/ pareçeo Sendo chamado Cristovão/ da Costa conteudo nestes autos e/ recebeo Juramento dos Sanctos// euangelhos em que pos sua mão derejta/ sob cargo do qual prometeo dizer ver-/ dale e logo foj tornado amoestar/ pelo sor. ujsitador com mujta carj-/ dade que acabe de fazer confissao/ jntr.a e uerdadr.a e declare quem ho/ persuadio, que não denuncjasse/ as sobre djttos culpas nesta mesa/ contra os djttos gaspar rebello, e/ bernardo Ribr.o, respondeo que njn-/guem tal lhe cometeo ne˜ persuadio/ que tal dejxasse de denuncjar mas/ que ha uerdade he que lhe esque-/ceo e nunca tal lhe lembrou quãdo/ veo a esta mesa no termo do monj-/torio geral ne˜ despois se não quã-/do elle ditto sor. ujsitador manda-/do chamar a esta mesa despois de/ mujtas enterogaçõis lhe tocou na// materia das djttas culpas, porq˜ se/ dantes lhe lembraua nenhua rezão/ de cunhadio ne˜ parentesco ne˜ amj-/zade lhe ouuera de estouar que dej-/xasse de fallar a uerdade nesta mesa/ e foj perguntado de sua genelogia/ dixe que he cristão uelho filho de fer-/não vaz da costa e de sua molher cle-/mencja dorja genevesa não conhe-/ceo seus auoos mas ouujo q seu a-/voo paj de seu paj se chama cristo-/uao da costa desembargador que/ foi em Lix.a e sua avoo maj de seu paj/ se chamaua gujmar camjnha, e ouujo/ dizer que seu avoo paj de sua maj se/ chamaua andre dorja, teue tias Jr-/mãas de seu paj florença da costa/ e dona fr.ca da costa molher que foj/ de Ant.o correa moradoras em Lix.a/ não conheçeo tios da parte de sua maj/ teue hum jrmão, que matarão em/ Lix.a chamado Njcolao da Costa/ soltr.o e outros que morrerão e tem/ tres Jrmãas ujuas – S – Luisa dorja mo-/lher de Martim Carualho, e fr.ca de Saa/ molher de fr.co dabreu da costa e Anna/ dorja Jnda soltr.a e os djttos seus cu-/nhados são cristãos uelhos e djxe q˜/ Sabja a doutrjna cristãa e em/ fim pedjo despacho com breujda-/de e asinou co˜ o sor. ujsitador/ Manoel fr.co Notr.o dos +os offj.o nesta/ ujsitação o escreui.

Mendoça Xpouão da Costa

O Reo Affirma q não deixou/ de denunciar nesta mesa as cousas/ de q aqui se trata, por malicia,/ senão por não lhe lembrarem: E/ não ha do contrairo proua algua/ contra Elle. Pello q Vaa/ se Em boa hora. Baja 9/ dez.ro 1592 Mendoça

quinta-feira, 24 de maio de 2007

O gato do Zio Andrea



O quadro enche a parede lateral num dos salões do Palazzo del Principe. Não tem cores: só tons de marron, e violeta, e um vermelho-ferrugem onipresente. De largo, quase dois metros. Data, ao que parece, de 1560, ano da morte de Andrea Doria, e deve-se a um pintor veneziano anônimo, qualificado nos catálogos como “primitivo.”

Por que o Zio Andrea foi colocado diante do gato tabby que o observa? Não sei. Mas esse gato é igualzinho à nossa Domitilla, aqui em casa.

Em tempo: está aqui o parentesco a Andrea Doria — bastante próximo. Tiro isso de Battilana, Doria, tav. 23:

1. Niccolò Doria, filho de Babilano; atestado em 1292 e em 1310. Sr. de Oneglia. p.d. (e.o.):

2. Cattaneo Doria, † antes de 1314, c.c. Margherita.. . P.d.(e.o.):

3. Antonio Doria ou Aitone Doria, que morre na batalha de Crécy, onde comandava os besteiros genoveses a serviço dos franceses. P.d. (e.o.):

- Ceva Doria. c.c. Maria di Gaspare Grimaldi. Pais de Francesco Doria, atestado em 1417, c.c. Caterina Grimaldi, dos senhores de Antibes, filha de Giorgio Grimaldi. Pais de, e.o., Ceva Doria, co-senhor de Oneglia, † c. 1470, c.c. Caracosa Doria, filha de Enrichetto Doria, sr. de Dolceacqua. Pais de Andrea Doria (1466-1560), príncipe de Melfi.

- Lodisio Doria. C.c. Alterisia... P.d. Aloisia ou Luigia, atestada em 1417, c.c. Battista di Napoleone Lomellini. Destes descendem os Lomellinis da Madeira, e do casal Lomellini-Doria era filha a mulher de Lodisio Centurione Scotto, nostra antenata.

domingo, 20 de maio de 2007

Gênova, 13 de maio de 2007


Diante dos Dorias do século XIV, na Galleria degli Eroi, dando para os jardins do Palazzo del Principe. Mariana, sábado, me sugeriu que a gente desse um pulinho a Gênova — estávamos em Turim — e na manhã de domingo, dez horas, desembarcávamos na estação de Genova-Brignole. Fomos direto à Piazza San Matteo, ver a igrejinha (l'abbazia dei d'Oria) e os palácios medievais de Branca, Domenicaccio, Lamba e Andrea Doria — este último, na verdade construído em meados do século XV.

Depois fomos ao Palazzo del Principe, a residência de Andrea Doria. Aí em cima estou debaixo de Pagano Doria (o da capa vermelha). Ao lado, de veste verde, Luciano Doria. O de barba branca como eu é Pietro Doria. Pagano Doria venceu, no Bósforo, a frota greco-veneziana-catalã, em 1352; dois anos depois incendiou Parenzo, e de sua catedral trouxe as relíquias de S. Mauro e S. Eleutério, depositadas na igreja de S. Matteo. Era filho de Gregorio di Niccolò Doria (em Battilana, tav. 44). Luciano Doria, filho de Ugolino, saqueou Rovigo, e venceu em batalha ao almirante veneziano Vettor Pisani. Tomou, de Cittanova d'Istria, relíquias de S. Massimo, também depositadas em S. Matteo em 1381. (Sua filha Andreola casou com Niccolò di Acciò Doria, de quem descendo.) Pietro Doria, enfim, co-senhor de Loano, é quem quase tomou Veneza, tendo morrido em combate naquela cidade em 1380. Era trineto do grande Oberto Doria.

Melhor foi o comentário do carinha no bookstore do Palazzo del Principe: questo Andrea Doria il vostro zio era stato un vero furbaglione. Ou seja: vigaristão...