segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Margô e Manuel, 1989


Tô catando uma foto com todos meus filhos juntos. Não achei ainda. Mas tem essa, de Margô e Manuel, em meados de 1989, no apartamento antigo de Nonô, minha sogra, em Miguel Lemos.

Duas fotos algo mais recentes, 1977 e 1978



A de baixo mostra, no Natal de 1977, em casa de Dindinha, já o apartamento de Bulhões de Carvalho, papai (de bengala) e Dindinha - Conceição, que nunca foi, como Tatá me disse aquela vez, Maria das Conchas Conceição; Tio Agostinho com Pedro no colo, Pedro ainda de cabelos louros e cacheados; Margô, grávida de Mariana; e eu, sem barba.

(Tio Agostinho não era tio; era um grande amigo de papai, Agostinho Olavo Rodrigues. Conhecera a verdadeira Mme de Guermantes - Mme Greffulhe - e era amigo de Jacqueline de Ribes. E, como dizia, era pobre feito um rato de igreja. Tinha uma língua afiadíssima: na saída de meu casamento, Nise da Silveira, sua amiga e vizinha, emocionada, pegou Tio Agostinho e disse, Agostinho, eles se conheceram lá em casa! Tio Agostinho, na lata: Nise, não sabia que você agora arranjava encontros entre casais...

Pano rápido, tipo fim do segundo ato de Die Meistersinger.

Tio Agostinho foi a única pessoa que conheci que dava rasteira na Nise :))

A outra mostra Margô se equilibrando num dos braços da Ponte de Comando, a cadeira favorita de Tatá, que eu herdei e está na varanda aqui de casa, num canto como no Rosário, com Pedro - tendo Leone no colo, fazendo pfff! - e, nos braços da mãe, Mariana. Maio de 1978, um inverno que começava, pesado.

Criança abandonada


Não, não era criança abandonada, longe disso, mas tô com cara de criancinha jogada fora nessa foto, que mamãe tirou no dia de ano novo de 1949. Foi na casa onde meus pais continuavam a morar, 19 de Fevereiro, 64, depois da morte de Vuvu, Raul Moitinho Doria, em 1948. O jardim onde estou era o jardinzinho estilo Binot ao lado da casa, indo da entrada até o quintal no fundo, onde ficava a grande mangueira de manga-espada.

domingo, 30 de dezembro de 2007

A Joaquina da Praia da Joaquina (SC) e seu marido



O marido é Antonio Gomes de Mattos Jr., engenheiro naval, patrono da marinha mercante brasileira. Ela, D. Joaquina Rosa de Oliveira Costa, filha do almirante e senador Jesuíno de Lamego Costa e de sua mulher D. Leonor Auta de Oliveira, 2os. Barões da Laguna.

O Velho Justo


Ninguém jamais chamou a vovô de Velho Justo. Durante muito tempo só o chamava de Vovô Dindinho, porque era meu padrinho de batismo - batizava os netos, apesar de ser agnóstico declarado e militante, livre-pensador, como se dizia. Para os de fora da família era o Doutor Justo, embora só fosse bacharel em direito; uma vez me contou que se recusou a apresentar tese de doutoramento depois da colação de grau na Faculdade de Direito (era comum escreverem tais teses) porque achava uma inutilidade e perda de tempo.

Chamava-se Justo, Justo Rangel Mendes de Moraes, devido ao avô materno, Justo de Azambuja Rangel, engenheiro de ponts et chaussées. Que se chamava Justo devido ao pai, Justo José Luiz, casado com Rita Justina de Azambuja Rangel - e daí sobe o pedigree até o fundador de Porto Alegre, Jerônimo Dornelas, indefinidamente pelas famílias da ilha da Madeira.

Duas vezes recusou uma cadeira no Supremo. Dizia que era mais honroso permanecer como advogado. Uma vez foi, creio, no começo do regime Vargas, logo depois de 1930; outra vez no tempo do Dutra.

A foto é de cerca de 1935.

Tia Neta


Na imagem, de dezembro de 1974, Pedro no colo de vovó, e ao lado Tia Neta. Estão no sofá embutido da saleta da Casa da Vovó; atrás dos almofadões verticais havia um socavão onde a gente se escondia em brincadeira de pique-esconde.

Hoje Tia Neta faria 97 anos. Tia Neta, Antonieta Miró de Moraes, casada com Tio Luiz, Luiz Mendes de Moraes Neto. Tia Neta era prima-irmã de vovô, filha de um irmão caçula do bivô marechal Luiz Mendes de Moraes, o também marechal Francisco Mendes de Moraes, casado com Irmina Miró.

Outra foto aqui de casa


Ontem de tarde, uma tarde magnífica. E' a entrada de casa; visível, quase como um torreão, a janela de nosso quarto. No meio do caminho a Helga, a labrador.

Camillo Cresta, I e II

Camillo Cresta, o neto, genovês, primo duas vezes de vovó por sua avó Cecilia Gomes de Mattos Cresta, casada com Camillo Cresta, sr., deixou uma mensagem aqui no blog.

Encontrei uma carta de Machado de Assis ao avô, encaminhando correspondência a Guglielmo Ferrero, sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras, em 1907:

[162] A CAMILO CRESTA [RJ, 18 mai. 1907.]

Exmo. Sr. C. Cresta. / Aproveitando a sua viagem à Itália, peço-lhe o obséquio de levar a carta junta e entregá-la ao Sr. Guglielmo Ferrero. Pelo que ela diz verá que a Academia Brasileira de que é membro correspondente aquele escritor, sabe que ele vem brevemente a Buenos Aires; nela lhe pede que se demore alguns dias no Rio de Janeiro, onde nos poderá fazer duas ou três conferências. Naturalmente esta interrupção da viagem lhe trará algum transtorno, e para compensá-lo e acudir às despesas de estadia pode oferecer-lhe a soma de dez mil liras, que lhe serão entregues pelo modo que parecer melhor. / Agradecendo-lhe desde já este obséquio, peço-lhe também q disponha de mim para o que for do seu serviço, como / Adm.º, am.º e obr.° / MACHADO DE ASSIS.

[163] A GUILHERME FERRERO [RJ, 18 mai. 1907.]

Monsieur. / Cette lettre, que j’ai l’honneur de vous écrire au non de l’Académie Brésilienne, vous sera remise par M. Camillo Cresta, notre ami. L’Académie, dont vous venez d’être élu membre correspondant, connaît votre prochain voyage à Buenos Aires. Elle recevrait un grand honneur et un bien vif plaisir, si vous vouliez passer quelques jours à Rio de Janeiro. Ici, Monsieur, où vous avez des admirateurs fervents et nombreux, vous pourriez nous donner deux ou trois conférences publiques. Le sujet en serait à votre choix; naturellement il sera italien, comme vous-même, et moderne, comme votre esprit; personne ne sait dire comme vous de ce qui est matière artistique et sociale. / Nous serons bien heureux si vous acceptez cette invitation. Monsieur Cresta nous dira par lettre ou par telegramme votre réponse, et j’en donnerai la nouvelle à mes amis et nos confrères. / Agréez, Monsieur Ferrero, mes respectuex hommages et l’assurance de notre grande admiration. / MACHADO DE ASSIS.

Greg Chaitin, agosto de 2007


Greg Chaitin e o Moderno, presidente da Academia Brasileira de Filosofia. Na mesa, Oswaldo Chateaubriand, de cavanhaque, e eu. Estávamos no jantar que Maria Beltrão ofereceu ao pessoal do encontro Goedel e Einstein, Lógica e Tempo, no restaurante - fantástico - de sua filha.

Tenho imensa admiração pelo trabalho e pelas idéias de Greg. Levamos, Roberto Lins e eu, nesses dias de agosto, Greg e John Casti para almoçarem no Arab, o restaurante da Vivi, mulher do Chaim. Greg me disse que adora comida árabe, e que em Nova York não tem restaurante árabe decente. Até café da manhã tomou lá no Arab.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Histórias de Tatá e outras histórias

Tatá foi meu tio mais velho, do lado de papai. Antonio Adolpho Accioli Doria, oficial de marinha, reformado como mar-e-guerra. Nasceu em 1901 e morreu em 1971, no domingo de Carnaval. Casou-se com Tia Minha Helena (por que o nick? Alguma vez explico), ou Helena Maria Amália Fialho de Castro Silva, nome ao qual juntou ainda assim o “Accioli Doria” de Tatá. (Tem também outra história aí.)

Tia Minha Helena morreu em 98. Era filha do almirante José Machado de Castro Silva, comandante de vários comandos navais e ministro do STM, e de Dona Marieta, Marietinha - Maria Amália Fialho. (Castro Silva do Ceará.) Tem muita história de Dona Marieta, também, que vou algum dia contar, depois das histórias de Tatá.

Tatá era muito alto, empertigado, falava de modo solene. Fazia cara feia em público. Se alguém aí leu o livro de Alfredo Mesquita, Silvia Pélica na Liberdade, Tatá era um pouco feito seu Cézar, José Joaquim de Cerqueira Cézar, lá descrito e caricaturado pela Hilde - só que Tatá não
tinha o cavanhaque do seu Cézar. Tatá era um gozador como o seu Cézar; foi um dos maiores gozadores que conheci. Só vi Tatá de mau-humor uma vez (e depois, depois conto disso; foi para cima de um amigo meu). De sua carreira, foi observador brasileiro na guerra do Chaco, um retiro de três meses que ele tirou de letra lendo Ulysses de Joyce, isso mesmo, e na década de vinte. Quem mandou para ele foi uma inglesa, transa do momento (foi ele que me contou). Reformado, virou diretor da antiga SNAAP - Serviço de Navegação da Amazônia e Administração do Porto do Pará, e depois de re-aposentado, fixou-se no Rio.

Papai tinha adoração por Tatá, seu irmão mais velho; papai era o caçula. Fui Francisco *Antonio* como já disse devido a Tatá e a Tunico, meu tio-avô, tio direto dos irmãos e de papai, Antonio Moitinho Doria, um advogado de muito prestígio - quem tinha diploma superior, nesse meu povo (não era todo mundo), era ou advogado ou médico. Papai comentava que “tinha que ter um Antonio em cada geração”; era coisa dos Dorias baianos, e eu sou o Antonio da minha, Tatá o da anterior, Tunico antes.

(Fazendo as contas, Tunico era Antonio IX, Tatá Antonio X. E essa lista acaba aqui.)

Depois também conto essa dos Antonios. Afinal, se Tatá era Antonio, vale também como história de Tatá.

E vai agora a primeira história.

Margô, Manuel e eu fomos uma vez, aqui em Petrópolis, ao lançamento de um livro na Casa de Petrópolis. A Casa de Petrópolis é mais conhecida, bem, como Casa Mal-Assombrada da Rua Ypiranga. Foi construída em 1884 ou 85 por José Tavares Guerra, um capitalista muito bem sucedido; a casa é uma casa vitoriana, parecida com outras que você pode ver, memória do século XIX, nos Estados Unidos - um ícone desses, a casa de Norman Bates, em Psycho, por exemplo. Do Tavares Guerra passou a seus netos, o pessoal Rocha Miranda. Ao lado, num terreno vazio, um dos netos, o arquiteto, Dr. Alcides da Rocha Miranda, construiu para os irmãos uma casa bem moderna, funcional tipo anos cinquenta, com um jardim de Burle Marx. Na frente da Casa Mal Assombrada, um jardim de Glaziou, jardim landscaped inglês, como os de Capability Brown, no fim do século XVII.

Quem administra a Casa de Petrópolis é Luiz Aquila, o pintor, filho do Dr. Alcides. Uma vez, conversando com ele, perguntei sobre a Casa Mal Assombrada - de gozação, um pouco. E ele me abre um sorriso de Drácula, todo caninos, arregala os olhos, e diz entre todos os dentes, “não é Casa Mal Assombrada, é a Casa Encantada.”

O livro lançado foi o Dicionário de Artes Decorativas, Nova Fronteira, de Stella Moutinho. Bom, fui lá para ver Stella, minha prima, viúva de Paulo Celso Moutinho, primo de papai. Porque tenho me lembrado, sempre, avisita de pêsames que Paulo Celso, Tasso da Costa Doria, e Jorge Moitinho Doria, foram nos fazer, a Tia Minha Helena, a papai e a mim, pela morte
de Tatá.

(Jorge Moitinho Doria *não é* o ator Jorge Doria. Este se chama Jorge Pires Ferreira, e, coincidência engraçada, vem a ser primo no lado materno de minha neta. Jorge, meu primo, era médico, sanitarista, diretor da Fábrica Bangu e membro da Academia Nacional de Medicina.)

Chegaram os três, Paulo Celso, Tasso e Jorge, com cara de velório, claro. Mas começaram logo a conversar entre si e a contar causos, histórias de Estância em Sergipe, terra de meu avô Doria, histórias de gente antiga da família, o tataravô - bisavô deles - padre que pulava a cerca e não podia ver mulher, a prima que era casada e não tinha filhos e sua irmã, solteira e cheia de filhos de vários pais, e piada e piada e piada. De repente papai, a meu lado, chorando de tanto rir, diz, “gente, vocês parem com isso, parem de contar piada, essa é uma visita de pêsames.” E Paulo Celso, direto, “você tem razão, Gustavinho, vamos chorar um pouquinho. Buáaaa. Bom, agora, vocês se lembram da história da tia...”

E foram em frente.

Antes de passar à segunda história, conto um pouco sobre Stella Moutinho, que foi minha madeleine para chegar a Paulo Celso Moutinho, e à visita de pêsames que nos fez devido à morte de Tatá. Stella é filha do Didi,ou Rodrigo Octavio Filho, membro da Academia Brasileira de Letras, escritor e político, tal como seu pai, Rodrigo Octavio Langaard de Menezes.

E' sina: Rodrigo Octavio era neto de um padre baiano, Rodrigo Ignacio de Souza Menezes. Não sei se da família do Agrário de Menezes - Agrário de Souza Menezes; talvez. (E Stella vai casar com Paulo, bisneto do cônego Azevedo meu tetravô; parece mesmo que é sina.) O filho do padre casa-se com a filha de um médico dinamarquês, Teodoro Langaard (pronuncia-se
Langôrd, acento no ô), radicado no Rio. O neto, Rodrigo Octavio, o pai, é escritor e político, assim como seu filho. As duas famílias sempre foram ligadas: quanto Tunico, Antonio, o nono do nome, Antonio Moitinho Doria, meu tio-avô, morre, em 1950, o Didi, Rodrigo Octavio Filho, faz-lhe um discurso à boca da sepultura. Muito tempo depois, em 74, quando visitamos, Margô e eu, Helena Moitinho Doria, última tia-avô sobrevivente, ela me dá o manuscrito do discurso do Didi. Discurso muito emocionado. Um dia publico.

(Tunico, segundo papai, era pouco inteligente. Inteligente era meu avô materno, o Velho Justo, Justo Rangel Mendes de Moraes, outro grande advogado. Preconceito de papai; nada de Justo; injustiça de papai contra o tio. Tunico escreveu um livro de ensaios, Cinquenta Anos de Profissão, surpreendentemente claro e fluido na escrita, e com boas idéias. Texto limpo, sem lugares-comuns. Já são seis gerações de gente que escreve, desde meu trisavô Doria, José da Costa Doria, que é dado como professor num documento de 1833, em Itapicuru, até meus filhos.)

Rodrigo Octavio, o pai, morre em 1944. Tenho dele a reedição de um livro, Minhas Memórias dos Outros, republicado pela Civilização em 1978. Faz um retrato de mais outro meu parente, o velho Prudente, Prudente de Moraes. E, en passant, conta a história da morte do filho bastardo de Prudente, José Marcelino (que chama, errado, de José Prudente). Porque, com aquela cara toda sizuda, o velho Prudente teve, aos dezoito anos, um filho bastardo. O original do testamento de Prudente estava conosco, estava com Tia Neta, que uma vez me mostrou o manuscrito. Não sei onde foi parar. Falava nesse filho, e nas filhas que o Zé Marcelino teve.

Não adianta ir na Genealogia Paulistana; Silva Leme omitiu-o.

(Vocês podem se perguntar como sei de tudo isso. A gente *tinha* que saber. Diziam: “hoje vamos visitar seu Fulano, ou tio Beltrano. Ele é parente assim, assado. Você *não* pode perguntar sobre a mulher dele porque ela é doente, fica internada - doença séria era tabu. O filho dele, Sicrano, também é meio esquisito, mas trata o rapaz como se você não notasse nada. A avó, Dona Filinha, é um encanto. Pergunta a ela pelo pai barão, que ela conta umas histórias engraçadas.” A gente aprendia tudo sobre todo mundo. Viver com esse povo era viver numa complicadíssima teia de relacionamentos super-emaranhados, e você tinha que aprender tudo isso, para se mexer sem problemas, ao menos sem gafes.)

Agora, a história de Tatá. E' a mais famosa de todas. Tem título: Helena não tem umbigo.

Tatá era casado com Helena, ou Tia Minha Helena. No início dos anos 50, como Tatá era diretor da SNAAP e vivia no Pará, os dois vinham esporadicamente aoRio, onde tinham um apartamento pequeno, quarto-e-sala, por aí, espécie de pied-à-terre, num edifício nos começos de Copacabana - esquina de Barata Ribeiro, ainda está lá, o Jabre. O almirante Castro Silva, sogro de Tatá, tinha morrido há pouco num desastre estúpido, e tinham mandado Dona Marieta, a viúva, para o Uruguai, onde a filha mais moça, Mary Castro Silva, era cônsul-geral.

(Mary, ou Maria Luisa Fialho de Castro Silva, era da mesma turma que João Cabral de Melo Neto no Itamaraty. Uma vez, eu já grandinho, Mary me pega, “vem me acompanhar no lançamento de um livro do Cabral.” Lá fui eu; foi no Marimbás. Entrei na fila da turma dos colegas dele do Rio Branco, e, quando me viu com Mary, Cabral botou na dedicatória, “para meu primo Francisco Antonio, com um abraço do João Cabral.” Bom, primos somos, com certeza, nas cucuias pernambucófilas, afinal.)

Começos de março, 51 ou 52; logo depois do carnaval. Mary e Dona Marieta estavam no Rio, de férias; tinham alugado um apartamento junto do de Tatá. Tatá tinha comprado a grande novidade: uma televisão. De repente, aparece no Rio uma funcionária do consulado em Montevideu, que sem ter o que fazer, ia toda noite ver televisão em casa de Tatá e Tia Minha
Helena. Como Tatá mesmo me disse, “seu Chico Antonio - ou seu Chicão, era assim que ele me chamava - o problema não era a mulher todo dia de televizinha; o problema é que ela era muito burra, e vivia dizendo montes de lugares-comuns. E você sabe que odeio conversa chata.” Odiava. Tatá foi uma das conversas mais inteligentes que conheci; adorava conversar com ele.

Uma noite, depois de um chorrilho de lugares comuns, depois que a infamada senhorita se manda, Tatá diz, “amanhã vou aprontar uma tal que nunca mais ela vem aqui.”

Dona Marieta objeta, “Mas Doria, amanhã não, por favor, porque amanhã Dona Sicrana - uma amiga de há muito de Dona Marieta - vem jantar conosco.”

“Vai ser amanhã, Marietinha querida. Não tem sursis. E Dona Sicrana pode ir se preparando para botar toneladas de ovos pela boca. (Isso porque Dona Sicrana, cujo nome não lembro, era muito formal e besta, e quando se incomodava, fazia aquela cara de quem estava botando um ovo pela boca, a tal da cara chupada.)

“Que é que você vai fazer?”

“Não sei. Vai ser a inspiração do momento.”

Dia seguinte. A moça do consulado chega, fila o jantar. Silêncio de todos, menos de Tatá, que conversava muito. De repente, a pergunta fatal, feita pela infeliz: “Comandante Doria, o senhor gosta de carnaval?”

Silêncio pesado. Todo mundo ali tinha horror a carnaval. Quando Tatá abre a boca, é porque chegou a hora. Todo mundo percebe. Começa a guerra:

“Adoro carnaval, minha senhora. Mas, infelizmente, não posso brincar.”

”Por que?”

“Questões de família.”

“Ora, comandante, já sou da família...”

(Grunhidos de Tatá.)

“...e o senhor pode contar.”

(Hesitação; negaças; a moça insiste, Tatá resiste, espicaçando-a.)

Clímax:

“Vou contar.”

Silêncio. Pausa.

Allegro con fuoco:

“Todo ano Helena minha mulher e eu saímos num bloco de nós dois sozinhos. Saímos fantasiados de índios, eu, com um cocar de penas bem emplumadas, e Helena, minha mulher, de biquini.”

(Atenção: 1952. Bikini ainda era o nome do atol, mudando para o nome do maiô de duas peças mínimo.)

“..com penas no soutien e penas na calcinha. Saímos sambando, e brincando de índio, uuuuuuuuú.”

(Tia Minha Helena tinha sumido; Marietinha estava apertada num canto, assustada, e Dona Sicrana punha dúzias de ovos pela boca.)

“Só que: Helena não tem umbigo.”

..... !!!!!

“E vinham aqueles caras de longe, viam que ela não tem umbigo, esticavam o dedo, e enfiavam na barriga de Helena.”

Tatá se levanta: aponta o dedo como um florete, esgrime-o no ar e ataca, enfiando num obtáculo invisível, uma Helena imaginária na sua frente; touché, quando mete o dedo no não-umbigo do fantasma.

“Mas como pode?” A mulherzinha se levanta fascinada.

“Assim.” Repete o jogo, a mise en scène. E vai levando a visita chata até a porta. Chega lá, abre, e diz, “boa noite.”

Foi quando a mulher se tocou. Não apareceu nunca mais.

Tenho o direito de ser como sou: nasci numa família ultra-surrealista.

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Devo ter nascido velhíssimo. Nasci num domingo, 18 de Novembro, ao meio dia, meio dia e meia, em Copacabana. Cresci em duas, três casas muito velhas. A casa dos meus avós maternos foi, digamos assim, a casa dominadora da minha infância. Era em Copacabana, no Posto 6, na Rainha Elizabeth. Primeiro, Rainha Elizabeth, 53. Depois, sei lá por que motivos, Rainha Elizabeth 129. Do outro lado da rua, exatamente em frente, moravam Tia Maria e Tio Werneck. Numa casa que era gêmea com a casa da Ligia, mãe do Luiz Antonio, um garoto que brincava conosco, chato paca. (Só duas diferenças: a casa da Ligia era amarelo-ocre e tinha árvores na frente; a de Tia Maria era branca e sem árvores, só com um canteirinho na entrada.)

A casa dos meus avós maternos era a Casa da Vovó. Ponto. Até porque meus avós paternos morreram logo. Já conto. (Ué, rimou; deixa assim.) Era uma casa imensa, de três andares, normanda, no meio de um terreno de quase mil metros, com um jardim que era quase um mini-parque, cheio de árvores e de esconderijos e de lugares para a gente brincar. O jardim, cercando dois terços da casa, era coberto de areia da praia, fina; de manhã o Oswaldo, o jardineiro, ancinhava toda a areia, e o jardim ficava com cara de jardim japonês. Fomos criados lá, eu, os filhos de Tio Luiz, os filhos de Tia Maria, que morava em frente.

Tinha galinheiro, tanque de patos, canil. Comi muito ovo fresco dali.

(Tia Maria, Maria Moraes Werneck de Castro - nasceu em 1909 e morreu em 93 - era casada com Tio Werneck, Luis Werneck de Castro. Eram militantes comunistas. Tia Maria era amicíssima do Prestes e de suas irmãs - conheci Dona Clotilde Prestes aqui em Petrópolis, passando o carnaval com Tia Maria. Tia Maria aparece em Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, várias vezes, e no Olga, de Fernando Morais. Porque Tia Maria esteve presa com Graciliano, Nise Silveira, Olga Benário - que ela chamava Maria Prestes, toda essa gente.

Já Tio Luiz, o Lula, como Tia Maria chamava, era de direita. Isso mesmo. Meteu-se em tudo quanto é golpe de direita no Brasil, Aragarças, Jacareacanga. Luiz Mendes de Moraes Neto. Morreu de uma morte trágica; não vou falar disso, ao menos por enquanto. Foi horrível.)

A Casa da Vovó era imensa. Contei uma vez: dez quartos. Em baixo, um hall central, uma sala imensa de visitas, uma sala de jantar maior ainda, com mesa para vinte pessoas, uma escadaria, e, junto à entrada, a saleta, espécie de escritório onde Vovô, o Velho Justo, Justo Rangel Mendes de Moraes, recebia os clientes. Logo junto da entrada principal da casa, que era protegida por uma porte cochère. A saleta estava cheia de livros; gozado, romances franceses do fim do século XIX e começos do XX, guias de viagem - uns Baedekers, ainda do século XIX -, a coleção do Henri Robert, Les Grands Procès de l'Histoire, que li sei lá quantas vezes, e retratos. Junto do telefone, pois tinha lá uma extensão do telefone, que era Ipanema-1149, virou 7-1149, e depois, toda minha adolescência, 27-1149 (a gente não esquece mesmo), junto do telefone tinha um busto em bronze de meu bisavô, que mamãe só chamava de Vovô Marechal, Luiz Mendes de Moraes, na farda francesa do exército de começos do século XX. Ficava num canto da sala. No outro canto, um retrato numa moldura especial, a foto autografada do Kaiser, Guilherme II, um garrancho, Wilhelm; o bivô viajara à Europa a convite do governo alemão em 1910, e o Kaiser recebera ao bivô e à bivó em audiência privada; foi quando lhes deu o retrato assinado.

Em cima da porta que ligava a saleta à sala de visitas, porta interna, o retrato do Velho Prudente. Acho que é o melhor retrato dele; foi pintado em 1899, um ano depois dele sair do governo. Mamãe só chamava ao presidente, Prudente o Velho, pois Prudente de Moraes Filho era tio direto dela, e o Neco, Prudente de Moraes, neto, o jornalista, era seu primo-irmão, e, creio, seu padrinho de batismo.

Testemunha no registro de mamãe, esse tio, Prudente de Moraes Filho.

O bivô, Luiz Mendes de Moraes, está em Silva Leme (vol. 7, p. 77, fácil de decorar). Vovô era vaidosíssimo da sua condição de paulista velho, embora tivesse nascido no Rio Grande do Sul - meu bisavô estava servindo lá, casou com minha bisavó, Cecilia Ferreira Rangel, em 11 de Novembro de 1880 (sei a data porque, para homenageá-la, mamãe e papai se casaram no
mesmo dia), “a maragatona da Cecilia.” Vovô vivia me dizendo, “vai à Biblioteca Nacional ver a Genealogia da Família Paulista - citava o livro de Silva Leme com o nome errado - e você vai ver minha família.”

(Família dele, não a minha...)

Um dia fui, tinha uns quinze, dezesseis anos, copiei a linha dos Moraes desde Dom Mem Alão, e ele se emocionou todo. O que, com o Velho Justo, não era pouca coisa. Aliás, Tia Neta, mulher de Tio Luiz e também Moraes, pois era prima-irmã de Vovô, vivia nos ameaçando quando íamos dormir, os primos, e a gente ficava fazendo bagunça no quarto, “ou vocês ficam quietos ou a Princesa da Armênia vem puxar os pés de vocês de noite.” A Princesa da Armênia era, bem, a Princesa da Armênia do Título Moraes, de Pedro Taques e Silva Leme. Mas, para mim, era uma cigana terrível, antepassada arquetípica, apavorante, imensa de poderosa com poderes mágicos. Não era bom desafiar a Princesa.

Volto a Tatá.

A família de papai costumava ir veranear em Friburgo, no sítio de Tatá, o Rosário, em Conselheiro Paulino. (Conhecíamos toda a história do Conselheiro Paulino, porque seu neto Fernando Paulino era, digamos assim, o cirurgião oficial da família.) Dessa vez estavam no Rosário, Tatá e Tia Minha Helena, Dindinha - Conceição, irmã de papai e de Tatá - e papai e mamãe. Eu, devia ter uns dez anos.

Converso com Tatá na varanda do sítio, Tatá lendo jornal. Tatá sentado na Ponte de Comando, uma poltrona preta, reclinável, muito gostosa, art-déco, que está agora comigo aqui em casa, na minha varanda. Jornal aberto na sua cara, Tatá me ouve e fala comigo de detrás do jornal.

“Tatá, você se chama Antonio Adolpho. Papai é Gustavo Alberto. Titio Gilberto é Luiz Gilberto. Como é o nome de Conceição?”

Sai direto, de trás do jornal:

“Maria das Conchas Conceição.”

Dou uma disparada para a cozinha, onde mamãe, Dindinha e Tia Minha Helena estavam ajudando a cozinheira a preparar o almoço. “Dindinha, por que é que você nunca me disse que seu nome é Maria das Conchas Conceição?”

Sai de lá da cozinha, passos firmes, furiosa, Dindinha, magra, alta, empertigada e empinada, chega na varanda e despeja, mesmo assim sem levantar a voz, terrível na sobriedade do comentário, “Tatá, você não tem o que fazer, fica ensinando besteira ao menino?”

Aí Tatá baixa o jornal, pendura os óculos na boca, franze a cara, “Conceição, respeite seu irmão mais velho, não admito que você fale comigo assim.” E fica de cara emburrada, feia, enquanto Dindinha vai embora, toda majestade ofendida.

“Seu Chico Antonio, ela não quer admitir que se chama Maria das Conchas Conceição.”

Levei muito tempo acreditanto nisso. Achava que era um nome de devoção estranho, tipo alguma Nossa Senhora das Conchas, coisa assim.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

O jequitibá da Rio-Petrópolis


Tem quatro ou cinco séculos. Fica — em linha reta — a uns cinco ou seis quilômetros de onde a família de vovó tinha terras. Me pergunto se, à maneira de ver dos jequitibás, ele viu algum dos meus antepassados de Inhomirim andando pela serra, no século XVII ou no XVIII.

Tatá no Rosário, 1967


Tatá, o Comandante, meu tio, Antonio Adolpho Accioli Doria (1901-1971), oficial de marinha, no Rosário, seu sítio em Friburgo RJ, em 1967, começos. Tatá está sentado na cadeira dele no canto da varanda, de onde ele comandava tudo à volta — era a “ponte de comando,” como a chamávamos.

Meu nome Antonio vem dele e de seu tio, meu tio-avô, Tunico, Antonio Moitinho Doria. Na linha Doria baiana direta (na verdade Moreira da Costa Doria), Tunico foi Antonio IX, Tatá Antonio X, e eu sou Antonio XI (o primeiro Antonio foi Antonio Moreira, pai de Martim Afonso Moreira, que nasceu cerca de 1550 e chega ao Brasil em 1567, e foi o pai de Antonio Moreira de Gamboa, Antonio II, casado com D. Antonia de Meneses, filha de Cristóvão da Costa Doria e de D. Maria de Meneses).

Dando aula, 1974


Sou eu mesmo, yours truly, dando aula; Instituto de Física, UFRJ, 2º semestre de 1974. Devia ser um curso de mecânica clássica; um intermezzo sobre álgebra linear no espaço de Minkowski. Ou talvez um curso de eletromagnetismo clássico, onde estava começando a introduzir a notação covariante de Einstein.

Mamãe no casamento, 1944


Mamãe — Silvia Cresta Mendes de Moraes — no dia do casamento, 11 de novembro de 1944, na casa da vovó, sala de visitas ou sala do piano. O piano está bem à esquerda; ao fundo a bay window da sala (em cima da bay window era a sacada do escritório de vovô, no segundo andar). Na bay window ficavam a mesa de Boulle e várias cadeiras pastiche Luiz XV, com o estofo pintado à mão.

Três fotos



No medalhão, com menos de dois anos, mamãe, em frente da mesa de Boulle. Deve ter sido na casa da bivó Cecilia (Mendes de Moraes) à rua Aristides Lobo, no Rio Comprido.

No retrato quadrado de baixo, vovó - Herminia Cresta Mendes de Moraes - tendo ao lado Tio Luiz (Luiz Mendes de Moraes Neto), mamãe no colo (Silvia Cresta Mendes de Moraes, depois Silvia Moraes de Accioli Doria), e Tia Maria (de casada Maria Moraes Werneck de Castro). Tia Maria está aí a cara de sua filha Herminia Cecilia. Local da foto: jardim da casa do Rio Comprido, da bivó, Cecilia Rangel Mendes de Moraes. Note-se a grama, inabitual em jardins àquele tempo.

No retrato de cima, vovó e bivó Leonor, Leonor Gomes de Mattos, levando pela mão Tia Maria. Ao fundo a casa de Aristides Lobo. A data é entre 1910 e 1911, começos.

O diploma do Dr. Filipe Gomes de Mattos


E' descoberta do Rodrigo Estrella. E mostra que, pelo menos desde o século XVIII, a família tinha letrados (teve outros antes, nesse lado e nos outros).

Mas aqui fica o diploma.

Vovó e sua família


Vovó, Herminia Gomes de Mattos Cresta, nasceu no Rio em 5 de maio de 1888 e morreu na mesma cidade em 9 de julho de 1977. Casou em 28 de julho de 1908 com vovô, o Velho Justo, Justo Rangel Mendes de Moraes.

Depois falo de vovô, Vovô Dindinho, porque era meu padrinho (fui batizado no dia do aniversário dele, 14 de janeiro de 1946, ele fazendo 63 anos).

Vovó e vovô viviam na casa imensa de Copacabana — no meio de um terreno de mais de mil metros, tinha dez quartos, uns três salões: sala de visitas, ou sala do piano, onde ficavam um piano Érard de meia cauda, uma mesa de Boulle que com certeza não era do Boulle original do século XVII, mas de algum carpinteiro especializado em marchetaria do século XIX, e vários quadros, entre os quais uma Madonna que me fascina até hoje; o hall central, que virou uma espécie de sala da televisão, enorme, com vigas no teto, expostas, pintadas de marron escuro, a tv num console com toca-discos e rádio num canto junto de um dos arcos se abrindo para a varanda; e a sala de jantar, com sua mesa para vinte lugares, e, numa bay window, separada da sala por um degrau, com uma mesa na qual os netos menores almoçavam antes do almoço formal dos adultos.

Vovó era filha de um italiano, genovês, Emmanuel Cresta, e de uma carioca, D. Leonor Gomes de Mattos. Depois falo do bisavô italiano, cujo nome se pronuncia Emânuel, nome de meu tio caçula, poeta e advogado, Emanuel de Moraes. Agora vou falar da surpreendente família de vovó, toda carioca até o século XVI. Ela não sabia disso; nenhum de nós sabia dessa ascendência, levantada pelo Rodrigo Estrella neste ano de 2007.

Vou dar a linha direta, varonia, dos Gomes de Mattos:

I. José da Silveira. (Tem alguma dúvida aqui, ou alguma confusão que ainda se vai esclarecer.) Senhor de engenho em Inhomirim. Inhomirim é na Raiz da Serra, ao pé da Estrada Velha de Petrópolis (ou da Calçada de Pedra, o antigo peabiru — caminho dos índios — que adentrava o país, e que foi calçado pelos bandeirantes). Nascera em fins do século XVI, nas ilhas, e seu nome seria de Toledo da Silveira.

O engenho poderia não ser de açúcar, mas sim um engenho de moer mandioca, já que a região era produtora de mandioca.

Se a interpretação dos documentos estiver certa, teria casado com uma Inês da Costa. Pais de:

II. Antonio de Toledo. Este personagem é certo. Teria nascido em começos do século XVII, e casou-se com Maria Lopes de Figueiredo, n.c. 1619, provável filha do vereador Alexandre Lopes de Figueiredo, n. 1585, e de Ana de Góes. Pais de:

III. Alberto de Toledo. Casou com Ana Gomes, filha de Dom Fernando Ramirez e de Inês da Costa (que seria a mesma supra). Pais de:

IV. Valério Gomes da Silveira. Nasceu em 1689 ou 1690 em Inhomirim: provavelmente foi batizado em 22 de janeiro de 1690, em Inhomirim, nas terras de sua família, na igreja de N. S. da Piedade.

Casou-se em 1736 com D. Maria do Bonsucesso, ou D. Maria Antunes de Mattos, nascida em 1710 e batizada em S. Gonçalo, filha do licenciado José Antunes de Mattos e de sua mulher Maria Vieira. Esta Maria Vieira era filha de Baltazar Vieira da Veiga e de Catarina de Siqueira, filha de André de Siqueira de Lordello, n. 1612, vereador, e de Madalena de Campos, n. 1624, filha de Bento Maciel Tourinho, da família de Pero do Campo Tourinho, donatário de Porto Seguro (Bento era filho de outro Pero do Campo Tourinho, que viveu no Rio, e não deve ser confundido ao donatário). Teve sesmaria em 1749 “nas bandas de um rio que chamam Piabanha,” junto das terras de Francisco Muniz de Albuquerque.

Pais de:

V. Dr. Filipe Gomes de Mattos. Primeiro a usar o nome Gomes de Mattos. Foi batizado na igreja de N. S. da Piedade de Inhomirim em 21 de maio de 1745, e casou em 1787 com D. Maria Joaquina de S. José, ou do Bonsucesso, filha de Bartolomeu Machado Ferreira, natural da Terceira, e de sua mulher Joaquina Ignacia da Luz.

Padrinhos de batismo do Dr. Filipe Gomes de Mattos foram Francisco Moniz de Albuquerque e sua mulher D. Maria de Meneses. O Dr. Filipe graduou-se em Coimbra em cânones em 1774 (o processo de concessão de seu diploma foi descoberto pelo Rodrigo Estrella). Francisco Moniz de Albuquerque tinha uma enorme sesmaria no caminho da Posse, aqui em Petrópolis, e ao lado desta sesmaria teve terras Valério Gomes da Silveira.

Daí segue a linha Gomes de Mattos. Bivó Leonor, D. Leonor Gomes de Mattos, era filha de Antonio Gomes de Mattos Jr., dado como o Pai da Marinha Mercante Brasileira, e de D. Joaquina Rosa de Oliveira Costa, que deu o nome à “Praia da Joaquina” perto de Florianópolis, e neta de Antonio Gomes de Mattos e de D. Bernardina Florinda Naite, casados em 1826.

Antonio Gomes de Mattos, o primeiro, era filho do Dr. Filipe.

Vovó descendia também de Antonio de Marins ou Mariz (o “Dom” Antonio de Mariz de O Guarani), e da irmã de Aleixo Manuel, que em meados do século XVI abriu a Rua do Ouvidor no Rio (Pedro me acrescenta: rua de Aleixo Manuel, depois rua do Desvio da Praia, e então rua do Ouvidor). E tem uma linha nos Meneses que chega longe, pela idade média. Depois posto isso.

Também assinalo as três escravas de que descendemos, nesse lado.

Na imagem: a concessão da sesmaria junto ao Piabanha, uma légua em quadra, a Valério Gomes da Silveira. (Obrigado, Rodrigo Estrella; imagem cedida pelo IANTT.)

A Casa da Vovó


A data da minha foto é 1955, meados do ano. A foto dos carros é de 1952, quando ganhei uma câmarazinha box, e saí tirando foto de tudo que aparecia na minha frente - lembro bem, usava filme preto e branco (a cores, nem pensar, era caríssimo e a gente tinha que mandar revelar no Panamá).

Minha foto: estou de pé no caminhozinho de pedras que ia até o poço, no fundo dos jardins da casa da vovó. O jardim era um jardim coisa como japonês, todo coberto de areia que vinha da praia a uma quadra de distância, e ancinhado pelo jardineiro todo dia de manhã. O endereço da casa da vovó era: Rua Rainha Elizabeth, 53. Depois a prefeitura mudou nome e número para: Avenida Rainha Elizabeth, 129, porque a rua era larga demais para ser apenas rua (a rainha Elizabeth homenageada era a rainha Elizabeth da Bélgica, mulher do rei Alberto, que visitou o Brasil).

Não lembro quem tirou minha foto.

A foto mais antiga, dos carros na frente da garagem (o chalet dos empregados, como vovó dizia), é de 1952, talvez do dia mesmo em que papai e mamãe me deram de presente a máquina fotográfica, ou máquina de retrato, que é como se dizia. O carro de vovô era um Hudson azul escuro, comprado em 1947 ou 1948; do lado esquerdo da foto aparece a caminhonete Bedford de Tio Luiz, Luiz Mendes de Moraes Neto, que era cinzenta e na qual ele nos levava — quando o carro funcionava — para tomar água de coco e comer camarão frito em São Conrado, então um deserto.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Texto do Manuel

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=442FDS009

domingo, 27 de maio de 2007

Cristóvão da Costa Doria e o inquisidor, 1592

Apenas como registro: um documento histórico inédito, que está nos ANTT.

Aos ujnte e seis dias do mes de ojtubro/ de mil e qujnhentos e nouenta e dous/ annos nesta cjdade do Saluador — / Capitanja da bahia de todos os Santos/ nas casas da morada do s.or ujsita-/dor do s.to offj.o hejtor furtado de men-/doça perante elle pareçeo sendo/ chamado Cristovão da costa o qual/ reçebeo o juramento dos Santos/ euangelhos em que pos sua mão de-/rejta sob cargo do qual prometeo/ dizer uerdade e foj logo amoes-/tado com mujta carjdade pello/s.or vjsitador que declare e com-/fesse todas suas culpas per que em-/tende ser chamado a esta mesa e por-/que lhe aprouejtara mujto para/ descargo de sua concjencja e seu// bom despacho, respondeo q não sente/ em si ne sabe por que he chamado &/ foi logo perguntado se despois que/ elle ujo aconteçer os casos de gaspar/ rebello disser que não era tamanho/ peccado dormir com pagãa como co˜/ cristãa, ¶ o caso de bernardo Rib.ro/ a cerqua dafee que se auja de saluar/ sobre os quais elle Reo Ja foj chamado/ e perguntado nesta mesa se tratou/ ou fallou, ou conuersou cõ os sobre dittos/ Respondeo que Sim se fallão mujtas/ Vezes e sam amigos, e o djto gaspar/ rebello he filho de hum prjmo de mar-/tim carualho cunhado delle e foj logo/ perguntado quem he ho que tratou/ cõ elle q não ujesse denunciar a/ esta mesa contra os Sobredictos casos/ Respondeo que njnguem lhe co-//meteo tal — perguntado se quando/ elle ueo a esta mesa denuncjar o q/ lhe contou NicoLao falleiro e o P.e joam/ fez. dentro nos trjnta djas da obrj-/gação d elle dejxou de denuncjar/ as djttas cousas dos sobredjttos seus/ amjgos lembrando lhe mujto bem/ se aduertio elle que em callar as dj-/tas cousas ficaua excomungado/ com forme o monjtorjo geral/ Respondeo que quando elle ueo a esta/ mesa no djto tempo, e despois delle/ o nunca lhes lembrarão as djttas cou-/sas e que por lhe não lembrarem as/ não dixe ne denuncjou porque se lhe/ Lembrarão não ouuera de deixar/ de as denuncjar por nenhures fejto/ Jnda q forão contra seu paj, e foi lhe/ declarado que esta forte presumpção// contra elle que pois elle he amjgo dos/ sobredjttos e sempre presentes na/ mesma terra e as sobredjttas cou-/sas de tanta sua tancja [?] que pareçe/ que não se auja a elle de esquecer — / respondeo que as sobredjttas cou-/sas acontecerão mujto tempo ha - / e que nunca lhe lembrarão se não/ quando elle s.or ujsitador lhe tocou/ nesta mesa na materja dellas, e foj/ logo amoestado que se as dejxou/ de denuncjar lembrando lhe , esta/ excomungado a qual excomunhão,/ não pode njmguem absoluer senão elle vjsitador, que portanto/ declare a uerdade, porque aquj/ tractasse da Saluação de sua alma/ respondeo que nunca lhe lembrarão/ como djtto ten e que tem djtto a uer-/dade e asignou cõ o s.or ujsitador/ Manoel fr.co Notr.o do s.to offj.o nesta vj-/sitação o escreuj. E foi lhe manda-/do que não se saja desta cjdade/ sem licença desta mesa o sobre-/ditto o escreueu Xpouão da Costa Mendoça



Aos vjnte e sete djas do mes do oi-/tubro de mjl e qujnhentos e noveta/ e dous annos nesta cjdade do sal-/vador capitanja da bahia de todos/ os sanctos nas casas da morada/ do sor. vjsitador do Sancto offj.o hejtor/ furtado de mendoça perante elle/ pareçeo Sendo chamado Cristovão/ da Costa conteudo nestes autos e/ recebeo Juramento dos Sanctos// euangelhos em que pos sua mão derejta/ sob cargo do qual prometeo dizer ver-/ dale e logo foj tornado amoestar/ pelo sor. ujsitador com mujta carj-/ dade que acabe de fazer confissao/ jntr.a e uerdadr.a e declare quem ho/ persuadio, que não denuncjasse/ as sobre djttos culpas nesta mesa/ contra os djttos gaspar rebello, e/ bernardo Ribr.o, respondeo que njn-/guem tal lhe cometeo ne˜ persuadio/ que tal dejxasse de denuncjar mas/ que ha uerdade he que lhe esque-/ceo e nunca tal lhe lembrou quãdo/ veo a esta mesa no termo do monj-/torio geral ne˜ despois se não quã-/do elle ditto sor. ujsitador manda-/do chamar a esta mesa despois de/ mujtas enterogaçõis lhe tocou na// materia das djttas culpas, porq˜ se/ dantes lhe lembraua nenhua rezão/ de cunhadio ne˜ parentesco ne˜ amj-/zade lhe ouuera de estouar que dej-/xasse de fallar a uerdade nesta mesa/ e foj perguntado de sua genelogia/ dixe que he cristão uelho filho de fer-/não vaz da costa e de sua molher cle-/mencja dorja genevesa não conhe-/ceo seus auoos mas ouujo q seu a-/voo paj de seu paj se chama cristo-/uao da costa desembargador que/ foi em Lix.a e sua avoo maj de seu paj/ se chamaua gujmar camjnha, e ouujo/ dizer que seu avoo paj de sua maj se/ chamaua andre dorja, teue tias Jr-/mãas de seu paj florença da costa/ e dona fr.ca da costa molher que foj/ de Ant.o correa moradoras em Lix.a/ não conheçeo tios da parte de sua maj/ teue hum jrmão, que matarão em/ Lix.a chamado Njcolao da Costa/ soltr.o e outros que morrerão e tem/ tres Jrmãas ujuas – S – Luisa dorja mo-/lher de Martim Carualho, e fr.ca de Saa/ molher de fr.co dabreu da costa e Anna/ dorja Jnda soltr.a e os djttos seus cu-/nhados são cristãos uelhos e djxe q˜/ Sabja a doutrjna cristãa e em/ fim pedjo despacho com breujda-/de e asinou co˜ o sor. ujsitador/ Manoel fr.co Notr.o dos +os offj.o nesta/ ujsitação o escreui.

Mendoça Xpouão da Costa

O Reo Affirma q não deixou/ de denunciar nesta mesa as cousas/ de q aqui se trata, por malicia,/ senão por não lhe lembrarem: E/ não ha do contrairo proua algua/ contra Elle. Pello q Vaa/ se Em boa hora. Baja 9/ dez.ro 1592 Mendoça

quinta-feira, 24 de maio de 2007

O gato do Zio Andrea



O quadro enche a parede lateral num dos salões do Palazzo del Principe. Não tem cores: só tons de marron, e violeta, e um vermelho-ferrugem onipresente. De largo, quase dois metros. Data, ao que parece, de 1560, ano da morte de Andrea Doria, e deve-se a um pintor veneziano anônimo, qualificado nos catálogos como “primitivo.”

Por que o Zio Andrea foi colocado diante do gato tabby que o observa? Não sei. Mas esse gato é igualzinho à nossa Domitilla, aqui em casa.

Em tempo: está aqui o parentesco a Andrea Doria — bastante próximo. Tiro isso de Battilana, Doria, tav. 23:

1. Niccolò Doria, filho de Babilano; atestado em 1292 e em 1310. Sr. de Oneglia. p.d. (e.o.):

2. Cattaneo Doria, † antes de 1314, c.c. Margherita.. . P.d.(e.o.):

3. Antonio Doria ou Aitone Doria, que morre na batalha de Crécy, onde comandava os besteiros genoveses a serviço dos franceses. P.d. (e.o.):

- Ceva Doria. c.c. Maria di Gaspare Grimaldi. Pais de Francesco Doria, atestado em 1417, c.c. Caterina Grimaldi, dos senhores de Antibes, filha de Giorgio Grimaldi. Pais de, e.o., Ceva Doria, co-senhor de Oneglia, † c. 1470, c.c. Caracosa Doria, filha de Enrichetto Doria, sr. de Dolceacqua. Pais de Andrea Doria (1466-1560), príncipe de Melfi.

- Lodisio Doria. C.c. Alterisia... P.d. Aloisia ou Luigia, atestada em 1417, c.c. Battista di Napoleone Lomellini. Destes descendem os Lomellinis da Madeira, e do casal Lomellini-Doria era filha a mulher de Lodisio Centurione Scotto, nostra antenata.

domingo, 20 de maio de 2007

Gênova, 13 de maio de 2007


Diante dos Dorias do século XIV, na Galleria degli Eroi, dando para os jardins do Palazzo del Principe. Mariana, sábado, me sugeriu que a gente desse um pulinho a Gênova — estávamos em Turim — e na manhã de domingo, dez horas, desembarcávamos na estação de Genova-Brignole. Fomos direto à Piazza San Matteo, ver a igrejinha (l'abbazia dei d'Oria) e os palácios medievais de Branca, Domenicaccio, Lamba e Andrea Doria — este último, na verdade construído em meados do século XV.

Depois fomos ao Palazzo del Principe, a residência de Andrea Doria. Aí em cima estou debaixo de Pagano Doria (o da capa vermelha). Ao lado, de veste verde, Luciano Doria. O de barba branca como eu é Pietro Doria. Pagano Doria venceu, no Bósforo, a frota greco-veneziana-catalã, em 1352; dois anos depois incendiou Parenzo, e de sua catedral trouxe as relíquias de S. Mauro e S. Eleutério, depositadas na igreja de S. Matteo. Era filho de Gregorio di Niccolò Doria (em Battilana, tav. 44). Luciano Doria, filho de Ugolino, saqueou Rovigo, e venceu em batalha ao almirante veneziano Vettor Pisani. Tomou, de Cittanova d'Istria, relíquias de S. Massimo, também depositadas em S. Matteo em 1381. (Sua filha Andreola casou com Niccolò di Acciò Doria, de quem descendo.) Pietro Doria, enfim, co-senhor de Loano, é quem quase tomou Veneza, tendo morrido em combate naquela cidade em 1380. Era trineto do grande Oberto Doria.

Melhor foi o comentário do carinha no bookstore do Palazzo del Principe: questo Andrea Doria il vostro zio era stato un vero furbaglione. Ou seja: vigaristão...

quinta-feira, 8 de março de 2007

Baudrillard em Petrópolis, 1983


Em 1983, mal chegando eu de volta à Escola de Comunicação, Muniz Sodré me pega e diz, Baudrillard quer passear por Petrópolis. Você convida ele? Claro que sim. Vieram Muniz, Marcio, Fabio Lacombe, Alfredo de Sá Earp Hertz, Claudia, minha cunhada, também arquiteta como Alfredo. Dia bonito, fizemos um churrasco.

Foi num sábado. Baudrillard passeou por Petrópolis, e ficou fascinado, encantado, com o contraste entre a arquitetura eclética, fim de século XIX, das partes tombadas da cidade, e o mato tropical furioso como pano de fundo. Depois veio cá pra casa, comer carne, beber cerveja e caipirinha. Botou uma sunguinha quase fio-dental, nadou, bebeu, comeu, nadou, mijou na grama e, no fim, se esticou ao sol, no gramado, e tirou uma soneca.

Na foto de cima: Muniz, Alfredo e Baudrillard. Na de baixo, Muniz, Alfredo, Baudrillard e Fabio.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Heracles, um ancestral do tempo da guerra de Tróia (século XIII a.C.)

Depois traço essa linha, com a ajuda do livro de Settipani, Nos Ancêtres de l'Antiquité. No atacado, digamos assim, deve estar correta — e descendemos de Heracles, o dos trabalhos, eu e todo o Ocidente.

Heracles é o primeiro ancestral da dinastia dos Filípidas da Macedônia, de onde provêm Alexandre o Grande e seu pai Filipe II. E' também o antepassado dos Heráclides, família real da Ásia Menor da qual descendia Heráclito de Éfeso. Segundo a lenda, foi o protetor de Podarces, depois Príamo, rei de Troia. Príamo é, com frequência, identificado a Piyama-Radu, um personagem cujas aventuras bélicas estão contadas na “Carta de Tawagalawas.” E Tawagalawas é, com certeza, Eteocles (Etewekelewes), irmão de Polinice, rei usurpador de Tebas, e filhos de Édipo. Kádmos, o fundador de Tebas, está atestado historicamente, segundo descoberta arqueológica recente. Todos unidos num mesmo contexto lendário, é plausível que tenha existido um personagem que vai dar substrato à figura mítica de Heracles. Assim como, decerto, Édipo, túrannos de Tebas.

Soeiro da Costa (c. 1390-1472), um dos “Doze de Inglaterra”

Soeiro da Costa era pai de Afonso da Costa, alcaide-mor de Lagos, e avô do Dr. Cristóvão da Costa. Foi um dos “Doze de Inglaterra.”

Não há prova de sua filiação; mas foi, com certeza, filho ou neto de Afonso Lopes da Costa, que é atestado em Lagos em 1401, talvez já falecido a esta data. Soeiro teve um filho Afonso, e descendia de outro Soeiro, na linha de Afonso Lopes, que provinha dos alcaides-mores de Évora.

É um herói da cavalaria tarda. Conta-se que, tendo sido doze damas inglesas da melhor nobreza ofendidas em sua honra por doze fidalgos da terra, apelaram aquelas a seu rei, para que designasse campeões que por elas se batessem; mas nenhum campeão que lutasse pelas damas foi encontrado na Inglaterra. Lembrou-se então o rei que portugueses batiam-se com bravura e destemor, e apelou a cavaleiros de Portugal, para que viessem lutar pelas damas ofendidas. Doze cavaleiros lusos enfrentaram então em justas os doze ingleses ofensores, e venceram-nos, assim lavando a honra das damas inglesas. Esses doze cavaleiros ficaram desde então conhecidos como os Doze de Inglaterra. Os nomes desses cavaleiros - na verdade treze, em número - são conhecidos, e são, todos, personagens historicamente atestados: Alvaro Vaz de Almada (depois Conde de Avranches); Alvaro Gonçalves Coutinho, dito “o grão Magriço”; João Fernandes Pacheco e Lopo Fernandes Pacheco (filhos de Diogo Lopes Pacheco, um dos assassinos de D. Inês de Castro); Alvaro Mendes Cerveira e Rui Mendes Cerveira, também irmãos; João Pereira Agostim; Soeiro da Costa; Luis Gonçalves Malafaia; Martim Lopes de Azevedo; Pedro Homem da Costa; Rui Gomes da Silva e Vasco Anes da Costa, dito “Corte Real.”

Destes nos vai interessar Soeiro da Costa. Assim, diz o cronista Gomes Eanes de Zurara (1410-1474) na sua Crônica dos feitos da Guiné, “Ca hera hi Sueiro da Costa, alcaide daquella villa de Lagos, o qual era homem nobre e fidalgo, criado de moco pequeno na camara delrrey dom Eduarte [D. Duarte] e que se acertava de seer em muy grandes fectos; ca elle fora na batalha de Monvedro, com elrrey dom Fernando dAragom contra os de Vallenca, e assy no cerco de Vallaguer, em que fezerom muy grandes cousas, e foe com elrrey Lancaraao [Ladislau], quando barrejou a cidade de Roma; e andou com elrrey Luis de Proenca [de Provença], em toda a sua guerra. E esteve na batalha da Ajancout [Azincourt], que foe hua muy grande e poderosa batalha entre elrrey de Franca e elrrey de Jngraterra. Efora ja na batalha de Vallamont, cabo de Caaes, com o conde estabre de Franca contra oduque dOssestre, e na batalha de Monseguro [Montségur], em que era o conde de Fooes [Foix] e o conde dArminhaque [d’Armagnac], e na tomada de Samsooes [Soissons] e no decerco de Ras [Rheims?] e assy no decerco de Cepta [Ceuta] Nas quaaes cousas sempre provou, coomo muy vallente homem darmas.” (Algumas datas, para se precisar a cronologia: em 1411 acontece a batalha entre Luiz de Anjou, rei de Provença e Ladislau de Durazzo, rei de Napoles; em 27.2.1412 ocorre a batalha de Murviedro; de 1.8.1413 a 31.10.1413, o cerco de Balaguer; entre 1412 e 1413, a batalha de Montségur; em 1414, o cerco de Roma; em 25.10.1415, a batalha de Azincourt; e em 1418-1419, o cerco de Ceuta.)

Podemos reconstituir a biografia de Soeiro da Costa, em parte sobre conjecturas, em parte sobre o testemunho de crônicas como a de Zurara, e em parte sobre documentos. Soeiro da Costa terá nascido c. 1390, muito provavelmente em Tavira ou em Lagos, se seu avô (pai?) tiver sido - como se discutiu já - Afonso Lopes da Costa, que recebeu em 1384, do Mestre de Aviz, o prazo de uma azenha em Tavira. Em seguida vemos, já com vinte anos ou quase, Soeiro da Costa batendo-se nos principais campos de batalhas de começos do século XV, como o fizeram também Alvaro Vaz de Almada e o “grão Magriço.” Nos documentos, Soeiro da Costa aparece pela primeira vez em 8.5.1433, quando D. Duarte nomeia-o para o cargo de almoxarife de Lagos no Algarve, dizendo-o “seu criado.” Em 18.5.1439 D. Afonso V chama-o alcaide em Lagos no ato em que lhe concede uma tença anual de 200 000 libras. Está como alcaide-mor e almoxarife até 1450, embora seu genro Lançarote da Ilha apareça como almoxarife em 11.4.1443. Soeiro da Costa renuncia à alcaidaria-mor de Lagos em 1452, e em 5.2.1452, a pedido do infante D. Henrique, D. Afonso V nomeia Afonso da Costa, filho de Soeiro, para o posto de alcaide-mor de Lagos (em 3.1.1486 D. João II confirma Afonso da Costa como alcaide-mor de Lagos).

Ainda outra notícia, de verbete enciclopédico: “Tantas ações de cavalaria já o faziam célebre na Europa, e estando bem firmados os créditos do infante D. Henrique pelos sucessos dos seus descobrimentos, a cidade de Lagos, contra as murmurações dos críticos, quis fazer novo armamento no ano de 1445, para destruir a ilha de Arguim, que muitos prejuízos causava, e entregou juntas 14 velas ao capitão Lançarote da Ilha (ou de Freitas), que fora criado do infante D. Henrique, no foro de seu moço da câmara, e era almoxarife de Lagos, por mercê do mesmo infante. Soeiro da Costa, apesar de já ter certa idade mas que não afrouxara como militar aguerrido, ofereceu-se generosamente, e lhe foi dada a capitania de uma delas; as quais, todas reunidas a mais 12, com que os de Lisboa e da ilha da Madeira, nesta facção mais de honra que de interesse, nada quiseram ceder aos de Lagos, saíram daquele porto a 10.8.1445. Separadas as caravelas por um forte temporal que sobreveio, cada uma com incerto rumo buscava sítio diverso ao longo da costa; mas como prudentemente, Lançarote havia determinado que, no caso de tempestade, todas demandariam a ilha das Graças para se reunirem, e ali se foram juntando umas às outras, e chegadas depois a Arguim, entraram na ilha afugentando todos os habitantes, podendo apenas lançar mão a 12 homens, que destemidos se arriscaram com as armas na mão a defender-se, combatendo com os nossos, dispostos a morrerem e não a se renderem. Nesta ação mostrou Soeiro da Costa qual seria o seu esforço em lances mais arriscados, e não contente com a vitória, com a espada tinta em sangue infiel, como quem prezava mais a religião que o valor militar, pediu que o armassem cavaleiro para de novo se alistar naquela conquista do Evangelho, e havendo recusado outras vezes esta honra na Europa e de mãos reais, agora a requeria em memoria daquele triunfo, aceitando-a da mão de Álvaro de Freitas, comendador de Aljezur, tendo a glória de o acompanhar o capitão Diniz Eanes de Gram, escudeiro do infante D. Pedro e sobrinho de Gonçalo Pacheco, que fora anteriormente criado do infante D. Henrique, e então já aposentado no oficio de tesoureiro­-mor da Casa de Ceuta, que recebeu conjuntamente a mesma dignidade de cavaleiro. Lançarote da Ilha seguiu viagem, ambicioso de maior gloria, e Soeiro da Costa retirou-se para o reino, acometendo de passagem o Cabo Branco e a ilha de Tider, recolhendo-se a Lagos vitorioso, e com muitas presas que trazia. Soeiro da Costa foi casado com Mécia Simões, filha de Gil Simões, alcaide-mor de Estoi (também no Algarve), de quem teve uma filha, que casou com o capitão Lançarote.”

Soeiro da Costa morre em 1472; já estava falecido de pouco em 14.8.1472, pois a partir de janeiro de 1471 ainda recebia, por mercê de D. Afonso V, uma tença de 5 mil reais de prata. Fora casado, como ficou dito, com Mécia Simões, ainda viva no tempo de D. João II, filha de Gil Simões que tinha a alcaidaria-mor de Estói, localidade junto a Faro.

A família mais antiga do Brasil?


A família mais antiga do Brasil ou descende de alguém que veio na frota de Cabral, ou descende de algum índio que aqui vivesse, comprovadamente, antes de 1500... Como nossos ancestrais da terra tinham apenas culturas ágrafas, a next best option está em encontrar algum antepassado na frota do “seu” Cabral.

(Tem famílias maias que podem traçar suas genealogias aos séculos XII ou XIII — ou o equivalente, nas suas culturas; tenho a reprodução de uma delas que conforme o caso posso reproduzir aqui.)

Ao que parece, o meu pessoal tem um avoengo na frota de Cabral, um tio-avoengo: Pero Vaz de Caminha. Explico o parentesco. Em 1520 o Dr. Cristóvão da Costa, lente da universidade em Lisboa e desembargador da relação na mesma capital, casa-se com a filha de um colega, Guiomar Caminha, filha do Dr. Fernão Vaz Caminha, também da relação de Lisboa e professor da universidade. Filha, e herdeira, do morgadio dos Caminhas. Penso que o Dr. Caminha — num recibo de 1501 assina, imponente, O Doutor Caminha — era filho de Rui Vaz de Caminha, meio-irmão mais velho de Pero Vaz de Caminha, nascido c. 1450 e † 1500 nas Índias, o escrivão da frota de Cabral. Rui Vaz de Caminha casou-se com Catarina Fernandes, filha legitimada de Fernão Vaz, “clérigo de missa,” e de Constança Afonso.

Ou seja, o nome “Fernão Vaz,” que ainda alcança um primo no século XX, vem desse Fernão Vaz, clérigo de missa, que esqueceu os votos e luxuriou-se com a moça Constança. Seu neto é o Dr. Fernão Vaz de Caminha, que por sua vez passa prenome e patronímico ao próprio neto, Fernão Vaz da Costa, futuro marido de Clemenza Doria.

Na imagem, cujo copyright pertence aos IANTT, o presente de 50 contos que D. Manuel, em 1.4.1520, dá ao Dr. Cristóvão da Costa, quando de seu casamento. Diz, “...Doutor Cristóvão/ da Costa, filho do alcaide-mor de Lagos...” na 5a. e 6a. linhas. E, igualmente ao pé do documento, “Cristóvão da Costa fo. do alcaide-mor de Lagos...”

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Por que o ódio contra a inteligência?


Conversei isso muito, hoje, com Margô, sobre o que segue. Primeiro, lembro da frase de Steve Weinberg, Prêmio Nobel de física em 1979: se não fossem as universidades de pesquisa, os Estados Unidos seriam hoje apenas grandes exportadores de soja. Lembra que país exportador de soja? Hem? Hem?

Tanto a família dela quanto a minha — e põe aí nossos ascendentes comuns — sempre exibiram gente com instrução formal. Ou gente que patrocinava a cultura. Lembrei de um Tourinho que o Caio Tourinho desencavou em Coimbra, começos do século XVII; era dos baianos e estudava cânones por lá. No século XIX, tem gente cultivada a dar com o pé, na família de Margô: Demétrio Tourinho, que implantou a cátedra de medicina legal na Bahia; Simplicio Coelho de Resende e seu genro Antonio de Sousa Rubim, bacharéis e jornalistas. No século XX, Tio Álvaro, Álvaro Rubim de Pinho, o grande psiquiatra baiano, o Doutor Rubim, que motivou o comentário de João Ubaldo: “cuca que doutor Rubim não desentorta, ninguém desentorta.” Simplicio, pai dela. Os três irmãos Madureira de Pinho, Péricles, Demósthenes e Demades.

O lado da parentela comum começa em Nicola Acciaioli (1310-1366), grão-senescal de Nápoles. Descendia de catadores de acerola, como se viu, mas quis dotar Florença de uma universidade, o Palazzo degli Studj, anexo à Certosa. Do ramo dos duques de Atenas foi Donato Acciaioli (1428-1478), humanista, tradutor de Plutarco, cujos filhos tiveram como tutor a Lorenzo il Magnifico.

(Mas na verdade houve um doutor em cânones, lontanissimo, entre os Acciaiolis, messer Leone degli Acciaioli, que trouxe para a Itália da Ásia Menor os despojos de S. Tomé, e que depois aparece como doutor em cânones, e membro da corporação de' giudici e notai em Florença.)

Os Dorias medievais são um bando de senhores feudais brutalizados, brutta gente, como diz Mariana, mas, surpreendentemente, há mesmo poetas entre eles, como Perzivalle Doria, poeta provençal, do dolce stil nuovo, e Isotta, Marquesa de Saluzzo, também poetisa. Começo, no entanto, a lista quase contínua dos intelectuais da família no Dr. Cristóvão da Costa, nascido em Lagos cerca de 1485, e falecido em Lisboa em meados do século XVI. Foi bacharel em cânones por Salamanca, 20.2.1512. Doutorou-se em leis por Lisboa, em fins da mesma década. Foi reitor da universidade de outubro de 1526 a novembro de 1527, depois de ter servido como vice-reitor do Dr. Jorge Cotão. Desembargador da relação de Lisboa, desde antes de 1520, chegou a seu chanceler, o cargo mais alto do judiciário português à época. Fernão Vaz da Costa, o segundo marido de Clemenza Doria, foi seu filho; deles descendo com uma quebra na varonia.

Fernão Vaz foi antes uma espécie de cavaleiro andante tardio, homem de ação. Mas, logo no século XVII temos uma cabeça brilhantíssima na família, o padre Antonio Vieira (1608-1697). De Vieira não preciso falar; descendo de sua irmã, D. Inácia de Azevedo, casada com Fernão Vaz da Costa, terceiro do nome. Vieira era próximo aos sobrinhos desse lado: apadrinhou no batismo o sobrinho-neto Manuel de Sá Doria, nascido em 1676, e teve o pai deste, Francisco de Abreu da Costa, também terceiro do nome, como seu representante e porta-voz em Lisboa.

Em começos do século XIX meu trisavô José da Costa Doria aparece como “professor,” num documento de 1833. Em 1857, em Aracaju, testemunha o ato de fundação do primeiro teatro de Sergipe. Seu filho Doloque, Diocleciano da Costa Doria (1841-1920) é doutor em medicina pela Bahia em 1869, e depois diretor de instrução e higiene públicas, em Santa Catarina. O neto Antonio Moitinho Doria, Tunico (1875-1950), funda a OAB, no Rio, é também jornalista, e deixa várias coletâneas de ensaios, num estilo maravilhosamente límpido. Não preciso citar os primos arquitetos, MMM Roberto, Marcelo, Mauricio e Milton Doria Baptista, filhos de Yayá, da primeira geração da arquitetura moderna no Brasil. De papai falo depois.

No lado Accioli, meu trisavô José de Barros Accioli Pimentel (1820-1879) forma-se em medicina pelo Rio, e é considerado o Pai da Medicina Alagoana. Seu filho o Cel. Accioli de Vasconcellos, a quem Alayr chamava Botão de Rosa, ainda que não tendo estudos superiores completos, interessa-se pela telegrafia, sobre o que escreve uma monografia, e publica o Guia do Imigrante para o Império do Brasil, quando era diretor-geral de terras e colonização no império. Ah, José Antonio do Valle, bisavô de Nhanhã, mulher do Coronel Accioli, Dona Maria do Carmo do Valle. José Antonio do Valle era um bacharel em cânones coimbrão, e teve funções como juiz. Chegou a tomar ordens menores.

Do lado Moraes, mais gente. Os bacharéis: Prudente o velho, Prudente de Moraes, Prudente José de Moraes Barros; Manuel de Moraes Barros, o Tio Manduca — tios trisavós. Meu avô, Justo de Moraes (1883-1968), pai de mamãe, também advogada. Um engenheiro, o bivô, Luiz Mendes de Moraes, general de divisão com as honras de marechal, ministro da guerra em 1909; gostava de ser chamado Doutor Moraes, e não General Mendes de Moraes. Também seu sogro, Justo de Azambuja Rangel, e o cunhado, Silvio Ferreira Rangel, Tio Silvio. Todos engenheiros, que projetam e constroem o ramal de Vassouras da estrada de ferro por lá passando.

E agora vejo que, do lado de vovó, Herminia Gomes de Mattos Cresta (1888-1977), temos também bacharéis e engenheiros. Bacharel em cânones, Filipe Gomes de Mattos, que recebe o grau em 8.7.1773, conforme me comunicou hoje o primo Estrela. Seu neto Antonio Gomes de Mattos Jr. é engenheiro naval; estuda em Portsmouth e é considerado Pai da Marinha Mercante Brasileira. Sua mulher — a Joaquina da Praia da Joaquina, D. Joaquina Rosa de Oliveira e Costa.

E não preciso falar da inteligência familiar recente: o Neco, Prudente de Moraes, neto, que morreu na presidência da ABI (1904-1977), Tio Emanuel, Emanuel de Moraes; papai; Francisquinho, Francisco Eduardo Accioli Rabello, conhecido na Faculdade Nacional de Medicina como o Rabellinho, porque seu pai, Dr. Rabello, meu tio-avô, fora também um grande médico, Eduardo Rabello Filho. Antonio Paes de Carvalho. Muita gente. Do lado de Margô, Tio Alvaro e o pai dela, Simplicio, senador amazonense pela UDN (1913-1962); os Madureiras de Pinho; Rafael Carneiro da Rocha, o homem de voz de catedral submersa, como o chamava pessoa amiga. Muita gente.

No Brasil de hoje, a inteligência é desprezada, e provavelmente odiada. Contrastes históricos: na Russia de Pedro o Grande e Catarina a Grande, ou na entourage de Cristina da Suécia, filósofos eram tratados como se da nobreza fossem. Em Portugal e na França, desde o século XVI, a condição de letrado tornava o bacharel, doutor, lente ou juiz, pessoa de status nobre — elevava-o à nobreza, noblesse de robe, como se dizia. No Brasil império, ao tempo de Pedro II, catedráticos possuíam automaticamente o “título de conselho,” isto é, eram “do Conselho de Sua Majestade o Imperador.” Ao tempo da república velha, sim, a república dos bachareis, os catedráticos eram funcionários equiparados, no nível e no status, aos ministros do supremo.

A derrocada começou no tempo dos militares, e se acentuou nos governos Collor, FHC e Lula. Hoje tem professor universitário de universidade federal ganhando dois, três salários mínimos. Por que esse ódio à inteligência?

Na imagem: em outubro de 1526, o conselho dirigente da universidade de Lisboa decide ir falar com o rei D. João III em Alcochete; acima a ata da reunião. A assinatura do Dr. Cristóvão da Costa, reitor em exercício, Cristofforus, está no alto à esquerda. (Reproduzido do Auctarium Chartularii Universitatis Portugalensis, ed. de 1973, vol. II.)

Sou de Petrópolis desde o século XVIII...


Essa é uma descoberta de Rodrigo Estrela de Carvalho, primo do lado Gomes de Mattos, de vovó, mãe de mamãe. Filipe Gomes de Mattos, meu 5o. avô desse lado, era filho de Valério Gomes da Silveira, que teve uma das sesmarias mais antigas aqui da região, requerida em 7.2.1749. Tinha terras “nas bandas do Piabanha,” pelas alturas de Secretário. Filipe Gomes de Mattos foi avô de Antonio Gomes de Mattos Jr., Pai da Marinha Mercante Brasileira, casado com D. Joaquina Rosa de Oliveira Costa, filha dos 2os. Barões da Laguna, e a Joaquina que deu nome à Praia da Joaquina, em Santa Catarina; meus trisavós desse lado.

Em homenagem, mais uma foto daqui de casa, o alpendre junto à varanda.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Clemenza Doria (IV)


Alvará de 1559, no qual Fernão Vaz da Costa, “marido de Clemencia Doria, criada da Rainha minha senhora e avó,” é nomeado contador-geral das terras do Brasil.

A imagem tem o copyright do IANTT.

Clemenza Doria (III)






Eis aqui o rol das roupas e alfaias que “Clemencia” e “Catarina da Cruz” trouxeram para o Brasil; tudo preparado em dezembro de 1554. “Clemencia” é Clemenza Doria, e “Catarina da Cruz,” Catarina de Almeida, ou Catarina Lobo de Almeida.

Na última imagem, vê-se a assinatura: Raynha. Não é necessário enfatizar a proximidade das moças à real pessoa.

O copyright das imagens pertence aos IANTT.

Clemenza Doria (II)


Eis o depoimento de Cristóvão da Costa Doria perante a inquisição, em 1592, nas passagens onde diz de sua família. Ao pé do texto, sua assinatura.

O copyright da imagem pertence aos IANTT.

Aleramo Doria, banqueiro de D. João III


Esta é a primeira página do padrão de juros que Aleramo Doria, banqueiro genovês, teve de D. João III — 80 mil reis de juros perpétuos sobre a alfândega de Lisboa. Está dito que Aleramo Doria, genovês, financiou a câmbio a a exploração das Índias e da África (o que incluía o Brasil).

Foi Miguel de França Doria quem me falou desse documento, citado por Peragallo e por Morais do Rosário. Essa imagem foi-me enviada em 1998 por cortesia pelos IANTT, que têm seu copyright.

Clemenza Doria (I)

Esse é o texto On the ancestry and descent of Clemenza Doria, one of the earliest European settlers in Brazil, publicado online no site de Davide Shamà, a quem agradeço a gentileza. Foram feitas pequenas correções, face à documentação desde então descoberta nos IANTT. O link para o texto original é:

http://www.sardimpex.com/articoli/DoriainBrazil.htm



Brazil was discovered by a Portuguese fleet under the command of Admiral Pedro Alvares Cabral lord of Belmonte, in April 1500. Early colonizing efforts by the Portuguese crown were sporadic and consisted mainly of expeditions sponsored and directed by wealthy merchants like the Marchioni, Affaitati, or Fernão de Loronha, who was a converted and ennobled Jew. A more systematic colonial effort began after 1534 when King John III of Portugal spliced up the new land into a dozen or so chunks which were given as fiefs to merchants and enterprising noblemen who were supposed to settle in the colony and explore it.

We are here interested in some of the settlers that came to Brazil after 1548, when King John III decided that a centralized government was required to coordinate the Portuguese administration in the New World, and named Dr. Tomé de Sousa, a magistrate, as the country’s first governor-general. de Sousa belonged to a distinguished but partially impoverished family which traced its ancestry to King Alfonso III in the 13th century through illegitimate lines; he arrived in Brazil in early 1549 in a fleet one of whose ships was commanded by Fernão Vaz da Costa, another mid-level nobleman from the bureaucratic
establishment around the Portuguese crown. Fernão Vaz da Costa is one of our dramatis personae here.

Nearly half a century later his son Cristóvão da Costa, or Cristóvão da Costa Doria, as he is also
referred to in documents, gives a deposition before the inquisitor that had been sent to Brazil after 1590 to look for heretical and apostate misbehavior in the new continent. The portion of the deposition that interests us is:

..e foi perguntado de sua genelogia/ dixe que he cristão velho filho de fer/nao vaz da costa e de sua molher cle/mencja dorja genevesa não conhe/ceo seus auoos mas ouujo q seu a/uoo paj de seu paj se chama cristo/uão dacosta desembargador que/ foj em Lix.a e sua avoo maj de seu pai/ se chamaua guimar camjnha e ouujo/ dizer que seu avoo paj de sua maj se/chamaua andre dorja, teue tias jr/maas de seu paj florença da costa/ e dona fr.ca da costa molher que foj/ de Ant.o correa moradoras em Lix.a//

nao conheceo tios daparte da sua maj/ teue hum jrmão, que matarão em/Lix.a chamado Nicolao da Costa/ soltr.o e outros que morrerão e tem/ tres irmaas ujuas s. Luisa dorja mo/lher de Martim Carvalho, e fr.ca de saa/ molher de fr.co dabreu da costa e Anna dorja Jnda soltr.a e os djttos seus cu/nhados são cristãos uelhos e djxe q/sabia a doutrjna cristãa...

In full translation: when asked about his genealogy [Cristóvão da Costa Doria] answered that he is an old christian [had no Jewish blood], the son of Fernão Vaz da Costa and of his wife Clemencia Doria, a Genoese by birth; that he never met his grandparents but heard that his paternal grandfather was called Cristóvão da Costa, a supreme court justice in Lisbon, and that his grandmother on that side was called Guiomar Caminha; and heard that his maternal grandfather was called André Doria. Added that he had aunts on his father’s side, namely Florença da Costa, and Dona [Lady] Francisca da Costa, the widow of Antonio Correa, who both lived in Lisbon; on his mother’s side he didn’t know whether there were
uncles. He had a brother named Nicolau da Costa, single, who was killed in Lisbon; there were deceased brothers and sisters, and three surviving sisters, Luisa Doria the wife of Martim Carvalho, Francisca de Sá married to Francisco de Abreu da Costa, and Anna Doria, single. None of those people is of Jewish extraction and he himself was perfectly conversant with the Christian doctrine.

This deposition is dated 9 December 1592. The charge that had led Cristóvão da Costa Doria to the inquisition was a minor one, that he once overhead some heretical statement and
didn’t denounce it (see below) — he answered that he found it irrelevant and had forgotten about it, and the inquisitor let him go. One can see why: the charge was irrelevant, and Cristóvão da Costa Doria was very well connected by family ties to the Portuguese judicial establishment: his grandfather had been Chief Justice of Portugal (Chanceler da Relação de Lisboa) and a rector of the Portuguese University, then at Lisbon (later moved to Coimbra),
one of the oldest in Europe. One of his paternal uncles was also a supreme court justice, and it was probably felt by the inquisitor that one shouldn’t toy with such a well-connected individual.

Biographical data about Fernão Vaz da Costa are scarce, but we can recover a sketchy picture of his personality and that of his father. The father is the one who received a grant of 50,000 rs
(reais) in 1st May 1520 given by King Emmanuel I because of his marriage. Dr. Cristóvão da Costa becomes rector of the University of Coimbra in 1526 until late 1527, and is later made chancellor (chief justice) of the Portuguese supreme court. He was probably born just after 1480, and — since he is the one who received the 1520 grant — was the son of Afonso da Costa, alcaide-mor (military commander) of Lagos, and the grandson of Soeiro da Costa, a legendary navigator who explored the coast of Africa in the early 15th century, listed as one of those who took part in the semi-mythical exploits of the “Doze de Inglaterra” heroes. The family can be traced to the mid-12th century and bore the full da Costa coat of arms, as can be seen in a grant of arms dated 14 July 1605; it was assumed to be related to the homonymous da Costa family who held the hereditary offices of Portugal King of Arms from the 16th to the 19th century. (Thus the constant references to governor-general of Brazil Dom Duarte da Costa as an “uncle” of Fernão Vaz da Costa.) However such a connection remains to be proved.

Fernão Vaz da Costa is attested in Brazil from 1549 onwards; he was probably born around 1521-1525. He passed away (we know it from the transcription of the birth record of his last daughter Ana Doria) sometime between 1567 and 1568, and it is possible that his death was due to some accident such as a shipwreck or perhaps to some skirmish against the indians in Brazil, as he was still in his forties.

Was Cristóvão also well-connected on his mother’s side? Let’s review what we know about Clemencia, or Clemenza Doria, from first-hand sources.

— December 1554: two criadas da Rainha (see below) are sent to Brazil, with a comfortable amount of clothing, furniture and related stuff; the document is signed by the Queen of Portugal who personally supervised it. The girls are named: Clemencia [no surname] and Catarina da Cruz, and are identified as Clemenza Doria and Catarina de Almeida.

— 18 December 1556, letter from the aldermen of Salvador (Brazil) to the King of Portugal.
Reference is made among the casualties of a shipwreck to “...Sebastião Ferreira que hja por
procurador da cidade marido de Clemencja Dorja...” that is to say, Sebastião Ferreira, chief
alderman [speaker of the town council] of Salvador and the husband of Clemencia Doria. This
reference to Ferreira’s wife is highly unusual.

Sebastião Ferreira is a barely identifiable character. He was moço de câmara, that is, a kind of
equerry attached to the royal household with noble status. His position was an important one in the colony. The Ferreira family can be traced to the 13th century and belonged to the mid-level, non-titled nobility, but we cannot place this Sebastião Ferreira among its members for the lack of documents. Sebastião Ferreira and Clemencia Doria were married in early
1555, and had a daughter, Luisa Doria, who was married to Martim de Carvalho before 1592.

— 1559. Alvará (royal decree) naming Fernão Vaz da Costa chief controller (contador-mor) of the colony. He is referred to as “...fernão Vaz da costa m.or nas ptes dobrasyl casado cõ clemencja dorja crjada da Ra. minha sra e aVo q no cargo de qt.dor das teras dobrasil...” that is, Fernão Vaz da Costa who lives in Brazil and is married to Clemencia Doria criada of the Queen my grandmother, who in the position of controller of the land of Brazil...

We have to explain here the meaning of criada of the Queen. The word derives from the verb criar, to create, to educate. One followed here the feudal usage: a criada of the Queen was a young noble lady who was educated in court close to the queen and attended to the queen as a private servant (criada in today’s Portuguese means servant). It used to be an exalted situation, and many younger children of grandees appear among the criados and criadas of the royal household since the 15th century.

— 1580. In 16 June 1580 a plot of land was granted to the monastery of St Benedict (São Bento) in Salvador (Brazil). In the description of the limits of the land reference is made “...e pa. p.te da Cid.e parte com terra de Clemençia a Doria...” that is, and in the direction of the town, it is limited by land owned by Clemencia, the one who is a Doria. One should further notice that the way the lady’s name is spelled could be seen as the archaic version of Clemenza, as ç sounded as ts in the 16th century Portuguese spelling.

— 1591. A deposition by a priest to the inquisition. The incident described was said to have
happened in the house of Clemencia Doria, referred to as a widowed lady who lived next to the
monastery of St Benedict in Salvador in 1590.

— 1592. The quotation given above, of the deposition of Cristóvão da Costa Doria before the
inquisition.

The picture we can infer from these testimonials in the documents is that Clemencia (or Clemenza) Doria had an exalted status in the colony. She arrived in Brazil in early 1555 and her trip was personally supervised by the Queen. We can estimate that she was born
around 1540 later, and passed away after 1591.

She was Genoese, and the daughter of one “André Doria.” How can we identify her father in the Doria pedigree? There are several caveats to be taken into account here. First, “genoese” means, of immediate Genoese stock. She might have been born in Genoa — a very likely possibility — or in Portugal, of a Genoese father. Also, Clemenza was obviously illegitimate — her son doesn't mention her mother's name — but illegitimacy was however irrelevant both in Portugal and in Italy. Just to mention some Portuguese examples: the Aviz dynasty was of illegitimate stock, as well as the grandest nobles of Portugal, the Dukes of Braganza. The elder Vasconcellos line, soon to become Counts and Marquesses of Castelo Melhor, again derived from a bar-sinister line; the Pereira de Mello family, Marquesses of Ferreira and Dukes of Cadaval in the 17th century, originated in a string of illegitimacies; the Marquess of Montebello, Machado, had as first known ancestress a 12th century Vasconcellos lady said to be... a whore! — so that one cannot identify who sired her children.

Also one must avoid taking literally the reference to “André Doria,” since names became at that time easily garbled in translation. The British Sudeley became Sodré, in Portugal. Lomellini appears as Nominijm, or even Melim. Paretino Adorno was mutated into Paulo Adorno; his brother Ambrogio Adorno became Diogo, or even Joffo Adorno in Portuguese documents. Eliano Spinola was metamorphized into Lucano, and then Luciano Spinola. So, the safest way to proceed is:

— to look for a Genoese Doria in Portugal,
— who, moreover, was close enough to the Crown to place a daughter as criada da Rainha, as a noble lady in the Queen’s service.

His name — André Doria — in Cristóvão’s deposition should be taken as a guide, or as a pointer; a kind of first approximation. The Portuguese national archives (ANTT, or Torre do Tombo) document about twenty individuals with the Doria family name from 1450 to before 1600. They can be more or less organized into three groups:

— The Doria who settled in the Madeira. These are geographically well defined and clearly
characterized.
— The Doria in the Algarve. We identify one Luis “Douria” from Albufeira, 1529, and one
“Baltazar” Doria at Loulé, in 1522, both with minor official positions.
— Those that do not fit into the above categories, and they go from Afonso Anes Doria, who
received a pardon from King John II in 1490 to Aleramo Doria, who acted as a banker to King
John III.

Let us take a closer look at Aleramo Doria. He is attested in a padrão de juros (a kind of bill of
exchange) guaranteed by revenues from Lisbon’s customs and dated 1st January 1557. He is described, “alarame doria genoves Vizinho da cidade degenoa elaamorador pr meservir eajudar,” that is, Aleramo Doria, Genoese, born at Genoa and living there, as he served me and helped me [the King of Portugal]... Aleramo Doria lent money “a caimbo,” that is, through an exchange procedure to help finance the Portuguese explorations and military operations in Africa and India, a collective term that included Brazil at that time. The 1557 document guaranteed him the receipt of 80,000 rs of perpetual interest over the customs’ gains, a rather sizable sum, as it would be around $ 800,000 today. (This gives only an estimate of the current value; conversion was made by gold prices; and one should allow for a 30% margin of error.) Aleramo Doria acted through his representative in Lisbon, Benedetto Centurione, probably his kinsman, as our Genoese merchant was the son of Francesco Doria and of
Gironima Centurione, a daughter of Lodisio Centurione Scotto, the banker who sponsored Columbus in the Admiral’s first business dealings in the Madeira in 1478. Francesco Doria also financed Columbus, as he lent him money for a 25% share in the costs and revenues of Ovando’s 1502 expedition to the Americas.

We have here a line of Doria merchants one of whose business activities consistently has to do with the financing of the Iberic overseas explorations.

We therefore identify Aleramo Doria as the “André Doria” named by Cristóvão da Costa Doria as his grandfather. Aleramo > “André” is a reasonable enough mutation; and Aleramo was close enough to the Portuguese crown to have a daughter — illegitimate or not — placed as criada da Rainha. There are two more facts to be considered here:

— The Nobiliário de Affonso Torres, a lineage book composed around 1635 in Portugal by
Affonso Torres and of which just three copies are known, one of them in the Brazilian National
Library in Rio, mentions in the chapter on the Silva family a marriage between one Clemencia de Oria filha de Lourenco de Oria (daughter of Lourenco de Oria) and a Silva de Meneses. The
marriage actually took place between Braz da Silva de Meneses and Clemencia Doria the
granddaughter of our Clemenza Doria and her first husband Sebastião Ferreira, through their
only daughter Luisa Doria, who married Martim de Carvalho. There is here a confusion between the grandmother and the homonymous granddaughter but how are we to explain Lourenco ? A bad, tentative reading of Laramo, Loramo, or Aleramo’s name as it appears in Portuguese: Alarame, Larame.
— Aleramo Doria the banker had a brother Niccolò. This might be reflected in the name of Clemenza’s eldest son, Nicolau, who was killed in Lisbon. We notice that papponymic procedures are strictly followed in Clemenza’s children: Luisa, very likely due to Lodisio Centurione; Nicolau; Cristóvão, because of the paternal grandfather; Guiomar, the paternal grandmother, and so on.

(The alternative is to look for an Andrea Doria who was influential enough in the Portuguese
administration, but so far we have found none.)

We conclude with a sketch of a descent line from Clemenza Doria and Fernão Vaz da Costa. We notice that the da Costa Doria name is still used today by many members of the family.

Fernão Vaz da Costa b. Lisbon c. 1521-25; dec. Brazil, 1567/8, married in 1557 Clemenza Doria, b. Genoa (very likely) c. 1540, dec. Brazil, Salvador, after 1591, widow of Sebastião Ferreira in 1556. Several children, of which the second born was:

1. Cristóvão da Costa Doria
Bapt. Salvador, 17 July 1560, dec. after 1606. Married D. Maria de Meneses, d. of Jerônimo Moniz Barreto de Meneses and of first wife D. Mécia Lobo de Mendonça. Parents of:

2. D. Antonia de Meneses
Also referred to as D. Antonia Doria de Meneses in the 18th century Brazilian lineage books. Bapt. 1606 in Salvador (Bahia, Brazil); dec. after 1648. M. Salvador, 17 September 1631 Antonio Moreira de Gamboa, n. Salvador c. 1590, dec. after 1648. Son of Martim Afonso Moreira, b. Setúbal (Portugal) in 1550, dec. after 1622 (Salvador, Bahia) and of Joana de Gamboa. Eldest son:

3. Martim Afonso de Mendonça
B. 1632 Salvador (Bahia, Brazil), dec. after 1680. Fidalgo da Casa Real, that is, nobleman of the royal household. M. (1st) D. Inês de Carvalho Pinheiro, without issue. M. (2nd) D. Brites Soares, d. of Sebastião Soares, with issue. M. (3rd), 10 September 1665 at the Monte Recôncavo, D. Joana Barbosa, d. of Miguel Nunes Peixoto and of D. Concórdia Barbosa. Son, of the 3rd marriage:

4. Gonçalo Barbosa de Mendonça
B.c. 1675, dec. 1737, captain of militias. M. 24 April 1716 at the Socorro church, D. Antonia de Aragão Pereira, d. of Alberto da Silveira de Gusmão and wife D. Isabel de Aragão. Son:

5. Cristóvão da Costa Barbosa
(1731-6 May 1809), lord of sugarcane plantation and mill (engenho) “Ladeira,” S. Francisco do Conde (Bahia). M. cousin D. Antonia Luiza de Vasconcellos Doria (1744-1825), d. of Manuel da Rocha Doria and of D. Ana Maria de Jesus e Vasconcellos, a distant niece of Columbus’ wife Filipa Muniz. This marriage revived in the children the Costa Doria family name. Children:

— José da Costa Doria, lord of engenho (sugarcane mill) “Boa União.” B. 1765, dec. 2 December 1803. M. first cousin D. Luiza Arcângela de Menezes Doria, with descent that used the name Costa Doria.

— Manuel Joaquim da Costa Doria, b.c. 1775, dec. after 1843. M. first cousin D. Teresa Mariana de Menezes Doria, with descent that went on with the name Costa Doria.

Among descendants of this line are to be mentioned:

— Diocleciano da Costa Doria (1841-1920), doctor of medicine and politician; state representative in Sergipe (northeastern Brazil). Implemented major sanitary measures when responsible for educational and health services in southern Brazil. A grandson of Manuel Joaquim through his son José da Costa Doria.
— João Agripino da Costa Doria (1854-1902), mayor of Salvador (1895), professor of surgery at the School of Medicine in Bahia. A grandson of Manuel Joaquim through his younger son Antonio Joaquim.
— Antonio Moitinho Doria (1875-1950), who founded the Brazilian Bar Association. Diocleciano's son.
— Architects M M M Roberto (Marcelo, Milton and Maurício Roberto Doria Baptista), leaders of the modern Brazilian school of architecture. Grandsons of Diocleciano.
— Gustavo Alberto Accioli Doria (1910-1979), journalist and drama critic, one of the leading
theoreticians of modern theater in Brazil. Another of Diocleciano's grandsons.
— João Agripino da Costa Doria Neto (1919-2000), businessman and politician, a former federal representative (1962-1964) from the state of Bahia.
— João Doria Jr (b. 1957), his son, former head of the Brazilian federal tourist corporation
Embratur.
— José Carlos Aleluia da Costa [Doria], opposition leader at the Brazilian House of
Representatives (1998-2010).

Descended from other lines are many well-known Brazilians like e.g. composer Chico Buarque de Holanda, a 5th gson of D. Joana Angélica de Menezes Doria, sister of D. Luiza Arcângela and of D. Teresa Mariana above.