domingo, 18 de fevereiro de 2007

Botão de Rosa


Alayr Antunes, o Nenho (eu ouvia Neno, mas me diziam que o apelido era Nenho), era o segundo neto mais velho do Coronel Accioli. Médico, foi secretário de educação da prefeitura do Rio, nos tempos do Distrito Federal, e era presidente perpétuo do conselho deliberativo do Fluminense e seu grande benemérito (o que muito me envaidecia, e que eu contava para todo mundo quando, pequeno, ia tomar banho de piscina no Fluminense).

Alayr foi quem me contou, pela primeira vez, as histórias dos Acciolis — ou Acciaiolis, como ele me ensinou, Acciaiolis ou Acciajuolis. (Nunca ouviu o nome da família na forma Azzaroli, pé no chão, distintamente plebéia, campesina.) Me contou o mito familiar estrito, canônico: no século XII, o membro de uma família de armeiros de Brescia foge da sua cidade natal, expulso por Frederico Barbarroxa, grão-inimigo dos guelfos. Fixa-se em Florença, onde faz fortuna, e etc. Mas acredito agora, mesmo, é na historia da azzarola, acerola, e que meus antenati na verdade eram campônios que enriqueceram e viraram banqueiros.

Foi também Alayr quem me contou as histórias do Coronel Accioli, complementando o que já ouvira de papai. O Coronel Accioli — major, com as honras de tenente-coronel — Francisco de Barros e Accioli de Vasconcellos nascera na Vila das Alagoas em 1846, e morreu de um derrame, no Rio, em 1907, quase no dia de seu sexagésimo primeiro aniversário (nasceu em 29 de setembro, e morreu a 25). Deixou os bancos da Escola Central, para onde viera estudar, concluído o ginásio em Alagoas, e alistou-se em 1864 nos Voluntários da Pátria. Foi ferido em combate, e de praça chegou a major, com as honras de tenente-coronel, em 6 de maio de 1870. Foi quem saudou o Conde d'Eu, quando este, o Marechal da Vitória, deixa o teatro da guerra, concluídas as operações militares, em inícios de maio de 1870, morto o López.

Na vida civil foi diretor-geral de terras e colonização, e organizou a imigração italiana para cá, sendo homenageado nas diversas colônias, do Espírito Santo ao Paraná, que têm seu nome, Accioli, Colônia Coronel Accioli. Ao fim do império, segundo me contou Alayr e segundo o registra Alberto Rangel, foi feito Barão de Accioli, mas nunca usou do título.

Casou-se com Nhanhã, Dona Maria do Carmo do Valle, filha de João Maria do Valle, que era comerciante na praça do Rio, e fidalgo cavaleiro da casa real portuguesa, e de Dona Antonia Brandina de Castro Pessoa. Depois falo mais deles. Tiveram cinco filhos: Quintilla, Lucilla, Inesilla (minha avó), Filenilla e Altamir, ou Chico.

Morava em frente ao Palácio Guanabara, então Palácio Izabel, numa casa assobradada, casa esta já demolida hoje. Como tudo no Rio.

Alayr chamava-o Botão de Rosa, porque era lourão, vermelhão, de olhos azuis. Quem muito se parecia com ele era seu sobrinho-neto, o historiador Roberto Bandeira Accioli, meu primo e grande amigo. Ao Coronel Accioli devo um sobrenome, Accioli, e o prenome, Francisco. A história desse prenome entre os Acciolis e Acciaiolis vem de longe, desde o século XIII. Depois conto.

(Na foto, que me pertence, de 1889, Botão de Rosa e Nhanhã.)

4 comentários:

Ana Fundo disse...

Parabéns pelo seu Blog.
Maravilhoso!!!
Um abraço
Ana Paula Fundo Pereira
Lisboa - Portugal

Francisco Antonio Doria disse...

Obrigado, Ana Paula. Vou fazer assim - contar histórias :))

Unknown disse...

Caro primo Dória
Voltei no tempo com a narrativa da casa da sua avó. Creio que as histórias, das grandes e misteriosas casas antigas, de todas as avós se parecem!
Maravilhoso.
Angela Tibau

Francisco Antonio Doria disse...

Oi, Angela,

Vai ter mais. Comecei a contar só um pouquinho :))

Obrigado :))