quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

De Arduino e Oria della Volta até Clemenza Doria

A linha é a seguinte:

1. Arduino.
Personagem do qual só conhecemos notícias através de tradições que nos vêm pelo menos do século XIII. Eis uma delas: Traggono la loro origine da Arduino, Visconte di Narbona, verso il 1050. Questo visconte passando da Genova per andare crociato a Gerusalemme si ammalò gravemente e fu ospitato in casa di una vedova della famiglia De Volta, dove curato si innamorò di una delle sue due figlie a nome Oria [Orietta] e la tolse per sua. Ebbe da lei un figlio: Ansaldo, che dal nome della madre fu detto “figlio d’Oria.” Outras variantes da narrativa tradicional dão o nome do pai desta Oria (Auria) della Volta; seria Corrado della Volta, ou de Volta. Há um fato que sugere a verdade ao menos parcial dessa narrativa: em 1161, as casas dos della Volta e dos Dorias eram lado a lado em Gênova, segundo Giovanni Scriba, vivendo juntos Ingo della Volta e seu filho Marchese, e, ao lado destes, Simon Doria. Além do mais, sempre houve uma associação política e comercial entre os dois grupos familiares, o que sugeriria um parentesco entre as famílias. E, enfim, uma ancestral de nome Oria para esta família é um fato que parece documentado indiretamente. Mas outra alternativa veria Arduino como idêntico a Arduino Conde de Canavese, provindo dos Arduinici, Condes de Auriate, donde o nome da família. Segundo a tradição, Arduino e Oria tiveram três filhos, dos quais segue:

2. Ansaldo.
Dado indiretamente como filius Auriæ. Este teria tido igualmente três filhos. Segundo a tradição foi seu filho:

3. Genualdo.
O nome deriva-se de Genua, baixo latim para Ianua, Gênova. Dado como um dos de filiis Auriæ num documento de 1110. Também dito Zenoardo, Gherardo, Genoardo. Pai de:

4. Ansaldo Doria.
Personagem historicamente documentado, nele começam as genealogias contínuas desta família. Foi cônsul de Gênova em 1134 e depois em 1147, e como cônsul esteve na tomada que os de Castela fizeram a Almería e Tortosa — pois há muito tinham os genoveses vínculos com a Espanha. Giovanni Scriba refere-se a este, em 1156, seja como Ansaldo Doria, seja apenas como Doria. Casou com Anna..., filha de Niccolò... Talvez tenha se casado com uma prima Doria em segundas núpcias. Do primeiro casamento, pai de:

5. Simon Doria.
Personagem de grande projeção no seu tempo em Gênova. Lá nasceu entre 1130 e 1140; foi cônsul de Gênova seis vezes, entre 1165 e 1188, quando combateu pelos interesses da pátria e de sua própria família na Sardenha. Participou também das negociações subsequentes entre Gênova e Pisa, intermediadas por Frederico Barbarroxa, pelas terras sardas. Combateu no assédio a S. João d’Acra ao lado de Filipe Augusto e de Ricardo Coração de Leão em 1191, tendo sido nomeado almirante em Gênova no ano de 1189 para o fim de comandar a frota genovesa que ia auxiliar os cruzados. Morre depois de 1195. Filho,

6. Niccolò Doria.
Teria nascido em Gênova por volta de 1150. Em 1188 testemunha um dos muitos acordos de paz com Pisa, este patrocinado pelo papa Clemente III. Em 1197, desafiando o podestà genovês Drudo Marcellino, lança-se ao mar numa expedição vitoriosa contra a Sicília; voltando a Gênova, viu que o podestà havia derrubado a casa-torre dos Dorias no borghetto da família, junto à igreja de San Matteo. Sua revolta só é contida pela ação do podestà em resposta. Foi cônsul da comuna em 1201. Em 1202 representa Comita II, sr. do julgado de Torres na Sardenha, nas negociações para o casamento de Maria di Lacon, filha do próprio Comita II, com o marquês Bonifazio di Saluzzo. Em 1207 comanda expedição militar à Sardenha contra os pisanos. Em maio de 1212 hospeda em sua própria casa, em Gênova, o jovem imperador Frederico II. Citado nos documentos genoveses pela última vez em 1224. Filho:

7. Manuele Doria.
Sr. de Valle Stellanello e de Andora. N.c. 1180 ou pouco antes, em Gênova; atestado em 1202, quando comprou, de um filho de Obizzo Malaspina, em sociedade com Guglielmo Embriaco, certos direitos de pedágio no Val di Trebbia. Em 1210, com trinta anos ou mais, casa-se com Giorgia (na forma dialetal sarda, Iurgia) di Lacon, filha de Comita II di Lacon, sr. do julgado de Torres, e neta de Barisone II de Lacon, por um breve período rei da Sardenha. Foi cônsul da comuna em 1215; representou então Gênova no quarto Concílio de Latrão. Podestà de Savona como o pai, em 1223; depois, em 1225, podestà de Albenga. Atestado desde 1223 nos feudos da família na Sardenha, em setembro de 1224 induziu o cunhado Mariano III di Lacon, irmão de Giorgia, a renovar a aliança com os genoveses.

Dois incidentes marcam, ainda, a vida de Manuele Doria. Em 1233 conspiram vários sardos contra o herdeiro de Torres, Barisone, uma criança, filho de Mariano di Lacon. Entre eles, mais notório, Michele Zanche, futuro sogro de Branca Doria. Mal sucedida a conspiração, os conjurados fogem para Gênova, onde pedem, já em 1234, a Manuele Doria e a seu filho Percivale, que sirvam de intermediários entre os conjurados e os Lacon. A paz é feita. Então, traiçoeiramente, já retornados à Sardenha os conjurados, entre os quais Zanche, provocam em 1235 uma insurreição na qual morre o pequeno Barisone.

Ainda em 1241, junto com o irmão Ingo, e mais o primo, o poeta Percivale Doria, Manuele Doria tentou derrubar o governo guelfo em Gênova. Fracassando, submetem-se todos e são os Dorias conspiradores banidos da pátria durante dez anos. Em 1246 esteve Manuele Doria em Florença, como vigário do podestà Frederico de Antióquia, um dos bastardos de Frederico II. Em 1248 Manuele é feito podestà em Como, na qualidade de um dos mais notórios gibelinos da Itália. Terminado o banimento, em 1251 volta a Gênova, quando, por influência do papa Inocêncio IV, um Fieschi, recebe uma quantia compensatória como espécie de anistia pelo seu exílio já cumprido. Torna-se, no mesmo ano, um dos conselheiros da comuna, quando negocia, junto ao filho Niccolò, um pacto com Florença para atacar Pisa. Filho:

8. Niccolò Doria.
N. pouco após 1210, é atestado em Gênova entre 1250 e 1263. Senhor vários dos feudos familiares na Sardenha, c. (por volta de 1230) c. Preziosa, filha natural (legitimada pelo pai e depois pelo papa) de Mariano III de Lacon, senhor do julgado de Torres na Sardenha, e sobrinha de Giorgia di Lacon, mãe deste Niccolò. É um dos plenipotenciários que assinam, em 13.3.1261, o tratado de Ninfeu com os Paleólogos imperadores de Bizâncio. Morreu em janeiro de 1276 e está enterrado em San Fruttuoso. Pais de:

9. Babilano Doria.
N.c. 1240 (data estimada, por ser primogênito de Niccolò o notório Branca Doria, n.c. 1230), † antes de 1316. É enviado por volta de 1270 por seu primo Oberto Doria, capitão de Gênova, à Riviera del Ponente, como vigário do governo genovês para pacificá-la e expulsar grupos de malfeitores lá estabelecidos. C.c. Leona, filha de Oberto Savignone, e teve dois filhos conhecidos, dos quais segue:

10. Federico Doria.
Atestado em Gênova em 1297. Obscuro, comprou em 1298, com seu irmão Niccolò, o feudo de Oneglia ao bispo Lanfranco, titular da diocese de Albenga, na Riviera del Ponente. Seus descendentes foram, todos, co-senhores de Oneglia; numerosíssimos no século XV, já não podiam mais viver dos rendimentos das terras e voltaram-se para o comércio, para subsistirem. Foram ambos, Federico e Niccolò, srs. de Borgo S. Agata. Federico teve seis filhos homens conhecidos, dos quais:

11. Percivale Doria.
Atestado em 1297, num mesmo ato notarial onde comparece seu pai. Obscuro. Pai de:

12. Giano Doria.
Seu irmão Ceva Doria está atestado em 1345; é este Ceva ou Sceva Doria quem, em nome da república, pacifica a Riviera do Levante em 1397. Pai, Giano, de:

13. Aleramo Doria.
Sua irmã Argenta Doria está atestada em 1395. Aleramo casou com Andreola... . Pais de:

14. Leonello Doria.
Atestado em 1427. Casou com sua prima Eliana Doria, filha de Niccolò di Acciò di Ceva Doria, este irmão de Giano Doria. (Ver acima.) Tiveram o filho (e.o.):

15. Aleramo Doria.
Segundo do nome, casou com Giacoba, filha de Melchiorre ou Marchio Vivaldi, que já era viúva em 1461. Três filhos citados, dos quais:

16. Francesco Doria.
Casou com Gironima Centurione, filha do banqueiro Luigi Centurione Scotto e de Isabella Lomellini. Centurione, com o cunhado Eliano Spinola — Eliano era casado com Argenta, irmã de Isabella; filhas de Battista Lomellini e de Luigia Doria, prima esta, no 2o. grau misto com 4o., do almirante Andrea Doria — e a Baldassare Giustiniani, ganham em 1471 o direito de explorar o alume de Tolfa, que pertencia ao papado. Aplicando seus ganhos, Centurione envia à Madeira, em 1478, Cristoforo Colombo como seu agente, para comprar caixas de açúcar, e apesar do insucesso deste negócio específico, permanece até o fim da vida ligado ao almirante (Luigi Centurione † 1499). Francesco Doria é o banqueiro de Sevilha que financia a parte de Colombo na viagem de Nicolau Ovando à América em 1502, e igualmente identifica-se ao pai de Cristóvão Doria, navegador natural de Faro, no Algarve. Filho:

17. Aleramo Doria.
Filho de Gironima Centurione, terceiro do nome Aleramo, nascido antes de 1508 em Gênova, é atestado num padrão de juros de 1.1.1557, passado em nome de D. João III em Lisboa, dando-lhe 80$000 rs perpétuos anuais sobre a alfândega de Lisboa. Neste padrão é dado como “genovês, vizinho da cidade de Gênova e lá morador,” e tem como agente em Lisboa a Benedetto Centurione. D. João III diz ainda que Aleramo Doria financiou-lhe, “a câmbio,” em parte, as expedições portuguesas à África e à Ásia. Este Aleramo Doria (“Alaramo,” “Laramo,” “Loramo”) é identificado ao “Lourenco” de Oria que é o pai da “criada da rainha D. Catarina” Clemenza Doria. Eis passagens do padrão de 1557: Dom Joam & c aquamtos esta minha quarta virem façosaber que considerando ...o lugar o quetenho em africa que pollos Reys destes Reynos foram ganhados ao muyto trabalho edespesa ...y nas partes da Jndia y alem della foy necesairo fazer gramdes guastos edespesas ...se tomou gramde somae camtidade dnr.o [de dinheiro] acaimbo ...ep.r quamto alarame doria genoves Vizinho da cidade degenova eLaamorador p.r meservir eajudar ...alarame doria porseu Respondemte benedito centurjão estamdo nestacidade ...pmr.o diadeJan.ro do dito anno de bLvij ...Afolhas Vay asynada p.lo barão daluyto... Aleramo Doria casou com Benedetta, filha de Alessandro Cattaneo. Filha:

18. Clemenza Doria.
N.c. 1540; genovesa de nascença e bastarda. Criada da Rainha D. Catarina, passou ao Brasil em 1555, onde casou duas vezes, c.g.; † após 1591. Tinha casas em frente ao convento de S. Bento, em Salvador. Da primeira vez, c.c. com Sebastião Ferreira, †1556; da segunda, c. 1557, com Fernão Vaz da Costa, filho do Dr. Cristóvão da Costa, chanceler da relação de Lisboa e reitor da universidade em 1526, casado em 1520 com Guiomar Caminha, filha do desembargador Dr. Fernão Vaz de Caminha, sobrinho ou sobrinho-neto de Pero Vaz de Caminha. O Dr. Cristóvão era filho de Afonso da Costa, alcaide-mor de Lagos, e neto de Soeiro da Costa, † 1472, alcaide-mor de Lagos e um dos “Doze de Inglaterra.” Eram dos Costas antigos. C.g.

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