sábado, 12 de janeiro de 2008

Cavalcantis.

Quem colonizou o Brasil? Segundo um mito corrente no qual muitos acreditam, Portugal mandou para cá, em grande maioria, ladrões e prostitutas; descenderíamos todos desses damnés de la terre. Mas é falso. As listas de funcionários que serviam no Brasil, os censos, os atos notariais, tudo isso existe aqui desde meados do século XVI. E vemos nessas listas que quem veio para cá era gente comum: artífices, militares, alguns agricultores, nos séculos XVI e XVII; muitos camponeses e comerciantes interessados em fazer fortuna no ultramar depois do século XVIII. No grosso, gente com algumas posses e algum status já conquistado.

E uma pequena elite, que é inclusive citada nos nobiliários portugueses, como a Pedatura Lusitana, de Alão de Moraes, e o Nobiliário de Famílias de Portugal, de Felgueyras Gayo. Gente com status nobre e, nalguns casos notórios, com proximidade à alta nobreza e à corte dos Avizes, isso no século XVI. Dou alguns exemplos:

— Primeiro cito, se me permitem, minha ancestral Clemenza Doria. Genovesa, filha bastarda de um banqueiro, Aleramo Doria, com grandes negócios junto à corte portuguesa, este consegue que a filha seja educada como pupila — criada — da rainha de Portugal, D. Catarina. A rainha manda Clemenza, junto com outra moça nobre, Catarina da Cruz ou Catarina de Almeida, também sua criada, para o Brasil, em dezembro de 1554. Dotadas ambas com cargos públicos na colônia para os futuros maridos, porque seu destino era o de casarem e povoarem o Brasil.

O dote ia além dos cargos que traziam para o Brasil, para seus maridos. A rainha supervisiona pessoalmente o rol de roupas e alfaias com que vêm para a terra recém-descoberta. E com as duas moças, Clemenza e Catarina, a coroa portuguesa gasta aí, em roupas e equipagens, mais de 70 mil reis. Quase tanto quanto os 80 mil reis que, pela mesma época, o pai de Clemenza, Aleramo Doria, recebe anualmente de juros numa letra sacada contra a coroa portuguesa. Doze vezes o teto dos valores sobre os quais podia julgar um juiz ordinário no Brasil, no século XVI. Muito dinheiro, portanto.

— Seu segundo marido, Fernão Vaz da Costa. Bisneto do navegador, cavaleiro andante semi-lendário dos Doze de Inglaterra, Soeiro da Costa, e filho, Fernão Vaz, do Dr. Cristóvão da Costa, chanceler da relação portuguesa — presidente do supremo tribunal — e reitor da universidade lusa, Fernão Vaz larga um morgadio e prebendas mais em Portugal, e se atira para o Brasil, onde morre entre 1567 e 1568, ou de doença tropical, ou de conflito com os índios, ou talvez num naufrágio.

— Terceiro personagem, Simone Acciaioli, ou Simão Achioli. Fixado na ilha da Madeira desde 1512, ao menos, é florentino como Filippo Cavalcanti, de quem vou falar com mais cuidado. Personagem discreto, embora comerciante rico, Simone Acciaioli foi fundador de um morgadio que persistiu, na Madeira, durante mais de dois séculos, e era também primo dos Médicis do ramo dos grãos-duques, sobrinho de vários dos Duques de Atenas da família dos Acciaiolis, e parente perto de frei Zanobi Acciaioli, bibliotecário do Vaticano em começos do século XVI, humanista, autor publicado pela casa editorial de Teobaldo Manucci em Veneza, ou seja, um editado de Aldus Manuntius.

— Ainda cito alguns que nem são italianos, nem portugueses. Como os primos Sebald Linz von Dorndorf e Christoph Linz, patrícios de Augsburg, banqueiros muito ricos, privados do imperador da Alemanha, Maximiliano II de Habsburgo — e colonizadores do Brasil, desbravadores de Pernambuco. E “Gaspar Wanderley,” ou Caspar von Neuhof, gennant Ley, ou ainda Caspar von Neuhof von der Leyen, da pequena nobreza do Brandemburgo, militar ligado a Maurício de Nassau, que passou dez anos no Brasil e aqui deixou quatro filhos.

Sobre essa gente faço perguntas que não sei como responder. A primeira delas: muitos desses personagens deixaram para trás fortuna e carreira na Europa, e se fixaram no Brasil. Que fascínio, que poder de atração tinha esta nossa terra, para fazer com que gentes com bens e perspectivas no lugar onde nasceram, deixassem tudo para fazer uma vida nova no Brasil?

Depois: por que, com colonizadores notáveis, de tal qualidade, chegamos ao Brasil de hoje com tanto pessimismo? Essa gente se perdeu? Foi engolida pela selva selvaggia dos trópicos? Embruteceu-se? Por que, apesar de termos tido entre nossos colonizadores, no século XVI, gente ligada aos centros de poder na Europa, nos vemos hoje como um país colonizado por degredados, ladrões e putas — e eternamente estigmatizado, inferiorizado?

Centro-me agora na história de um desses personagens, Filippo Cavalcanti, negociante florentino.


Filippo Cavalcanti.

Os Cavalcantis de Filippo Cavalcanti são patrícios florentinos, de fato. Não tem dúvida quanto a isso. Vou transcrever sua certidão de nobreza, mas primeiro dou-lhes a versão do latinório; se quiserem saber onde se lê também o facsímile, lembro que foi publicado por mim alhures :

Cosimus Medices Dei Gratia Florentiae et Senarum Dux II. Universis et singulis ad quorum manus presentes advenerint litere, salutem et omnem prosperitatem etc. Familia Cavalcantum in hac nostra Florentina civitate, pariter et Familia Mannellorum singulari nobilitate ac splendore refulgent, ex quibus multi hactemus prodiere viri de Nobis et nostris progenitoribus, universaque civitate benemeriti illi enim huius Nostre Reipublicae successivis temporibus quoscumque honores ac dignitates adepti sunt, et supremos Magistratus summa cum laude gesserunt, et propria suae agnationis insignia patritiorum florentinorum more gestantes suis campis probatisque coloribus distincta ut hic videre licet, veluti alii splendidissimi in patria optimates vixerunt. Quae inter Johannem Cavalcantem Philippi Cavalcantis patrem precipue conmemoramus, qui in hac civitate de gens Genepram Mannellam iam pridem clarissimam duxit uxorem, et predictum Philippum ex ea legitimo matrimonio suscepit filium, qui nobilissimo Lusitaniae Regno haudquaquam a suis parentibus degenerans honoratissimo sumptu commoratur. Quamobrem familias ipeas earumque gentiles, ut decet, diligimus, et ipsum Philippum propteres significamus prefatis ingenuis parentibus Johanne vz et Genepra legitimis natalibus, et benestissimis familijs ortum merito nobis esse carissimum, et harum literarum nostrarum testimonio, quas plumbei nostri sigilli appensione communiri iussimus, sue nobilitatis fidem facimus. Optamus insuper rogamusque in gratiam nostram quodcunque opportunum ipsi fuerit honoris, et commodi non vulgari benignitate conferrit. Erit enim id nobid gratissimum et quod maioris obsequij loco acceptum feramus. Datum Florentie in nostro Ducali Palatio, die xxiij Augusti 1559. Ducatus vero nostri Florentini xxiij Senensis iij.

Dou agora a tradução que aparece em Jaboatão, no Catálogo Genealógico:

Cosme de Médicis, por graça de Deus, segundo Duque de Florença e Siena etc. A todos e cada um, a cujas mãos chegarem as presentes letras, saúde e prosperidade etc. A família dos Cavalcantis nesta nossa cidade de Florença, como também a família dos Mannellis, resplandece com singular nobreza e luzimento, dos quais até este tempo têm saído varões de nós, de nossos progenitores, e da nossa república, beneméritos; porque eles têm alcançado em sucessivos tempos todas as honras e dignidades da nossa cidade, e têm servido os supremos magistrados com grande louvor, trazendo as armas próprias da sua família, à maneira dos patrícios florentinos, distintas em seus campos e cores conhecidas, como abaixo se pode ver, viveram com os outros mais luzidos fidalgos de sua pátria. Entre os quais contamos principalmente a Giovanni Cavalcanti, pai de Filippo Cavalcanti, o qual vivendo nesta cidade em tempos passados, casou com a nobilíssima Ginevra Mannelli, de quem teve de legítimo matrimônio ao dito Filippo Cavalcanti, o qual, não degenerando de seus pais, vive com toda a pompa no nobilíssimo reino de Portugal. Pelo que amamos, como nos é lícito, as mesmas famílias, e a seus descendentes, e até disso significamos que o mesmo Filippo Cavalcanti, nascido dos ditos pais nobres, a saber Giovanni e Ginevra, de legítimo matrimônio e de famílias muito nobres, com razão é muito amado de nós, e com o testemunho das presentes letras, que mandamos selar com o nosso selo pendente de armas, certificamos sua nobreza; e além disso desejamos e pedimos que por nosso respeito se lhe faça com toda a benignidade muita honra, porque nos será isso muito agradável. Dado em Florença em nosso Palácio dos Duques a 23 de agosto de 1559, e do nosso ducado florentino 23o., e do de Sena o 3o.

Pronto. Os Cavalcantis são, de fato, patrícios florentinos, e Filippo Cavalcanti, que veio para o Brasil, era filho de Giovanni Cavalcanti e de Ginevra Mannelli. Tais dúvidas sobre a origem de tal ou qual emigrante, ou primeiro ancestral de alguma família brasileira, são comuns, até porque é razoável supormos que a tradição oral intra-familiar tende a engrandecer os antepassados.

Mas, com estas gentes cuja história ando percorrendo, não há engrandecimento. Os Dorias são de origem genovesa, como está dito no depoimento do filho de Clemencia Doria genovesa, Cristóvão da Costa Doria, perante a inquisição, em 1592. E encontramos diversos Dorias, genoveses, exercendo a mercatura em Portugal, nos séculos XV e XVI. Os Acciaiolis são patrícios florentinos, como se afirma na certidão de nobreza de Simone Acciaioli, passada pelos priores de Florença em 1515, e na sua carta d’armas portuguesa, de 1529. E, agora, os Cavalcantis, igualmente patrícios florentinos.

Mas vamos ver abaixo um caso interessante, no qual aparentemente houve, teria havido interesse em apagar detalhes das genealogias, para esconder fatos considerados à época depreciativos ou até infamantes — heresias, suspeita de judaísmo. É o que acontece com os Holandas, me parece.


Mais Cavalcantis.

Esta família é muito antiga, e tem provavelmente origem nalguma casa feudal lá em cima, pelo século X. É uma família consular, o que quer dizer, no século XII, Florença era governada por funcionários designados como cônsules, e alguns dos Cavalcantis tiveram então tal cargo em Florença. Em 1246, um Cavalcanti, junto com um Adimari — outra família de raízes feudais — chefiavam a Parte Guelfa, o partido ligado aos interesses papais, sempre em Florença. Eram, no século XIII, grandes comerciantes, sendo membros da Arte di Calimala.

É possível que a origem feudal se reflita nas armas desta família: de prata, semeado de cruzetas recruzetadas de vermelho (cruzetas recruzetadas são cruzes simétricas, sem o pé alongado, onde cada um dos quatro braços termina numa cruz de três braços). Timbre, um hipógrifo (figura fantástica, parte de trás cavalo e parte da frente águia, com as asas abertas) de negro, alçando vôo de uma fogueira de vermelho e ouro. Digo que tais armas refletem, ou refletiriam uma origem feudal, porque armas com cruzes e cruzetas são, a essa época, usadas por famílias cujos membros foram cruzados.

Muito tempo depois, e após diversas peripécias, encontramos os Cavalcantis como mercadores abastados em 1520. Três irmãos Cavalcantis, Stoldo, Schiatta e Giovanni, acham-se então em Londres, onde comerciam. Servem à coroa inglesa, o que lhes faz merecerem um acrescentamento às suas armas, que lhes é concedido por Henrique VIII (um acrescentamento são peças e móveis novos adicionados a um brasão; assim, por exemplo, Luiz XI da França acrescenta, homenageando Piero il Gottoso de’ Medici, as flores de liz da casa real francesa às armas dos Médicis).

No caso dos Cavalcantis, o acrescentamento é: sobre o brasão com as cruzetas, uma asna de azul carregada de um leonel de ouro no seu ápice, entre duas flores de lis do mesmo. Explico: asna, ou chaveirão, é uma peça em forma de V invertido, como as vigas semelhantes que sustentam os telhados. A peça, de azul, tem um leãozinho — o leonel — dourado no ápice, e duas flores de lis igualmente douradas, um pouco mais abaixo do leonel, uma de cada lado sobre a asna.

Numa descrição moderna, as armas de Giovanni Cavalcanti passam a ser: de prata, semeado de cruzetas de vermelho, com uma asna de azul, brocante sobre o semeado, carregada de um leonel de ouro no ápice, entre duas flores de lis do mesmo. Elmo de prata guarnecido de ouro, paquife de negro e prata, e por timbre, saindo do virol, um cavalo alado saltante, a parte anterior de prata, asas de azul, saindo de um fogo de vermelho e ouro.

Giovanni Cavalcanti, de quem vou falar um pouco mais, é o pai de Filippo Cavalcanti, o que passa ao Brasil por volta de 1560.


O mistério de Filippo Cavalcanti.

O mistério é o seguinte: por que este homem, Filippo Cavalcanti, deixou a Itália e veio se fixar no Brasil? Não era um foragido político: os termos da certidão de nobreza que lhe passa Cosimo de' Medici em 1559, mostram um florentino em pleno uso e gozo de seus direitos como cidadão. Mais: era filho de um homem rico, e muito bem relacionado no Vaticano, em Florença e na corte londrina. E um de seus irmãos, Guido, vivia na França, junto a Caterina de' Medici, a quem inclusive serviu de embaixador.

Por que veio, Filippo Cavalcanti, para o Brasil?

Já se tinha alguma idéia da importância de Giovanni Cavalcanti, pai de Filippo, como mercador e cortesão, mas os trabalhos recentes de Cinzia Sicca detalharam-lhe em profundidade a biografia. Giovanni Cavalcanti nasceu em Florença em 8 de outubro de 1480; foi batizado em Santa Croce, em 11 de outubro, às 4 da tarde. Era filho de Lorenzo di Filippo Cavalcanti, e de Contessina, filha de Ugo Peruzzi. O avô paterno, Filippo di Jacopo di Filippo Cavalcanti, tinha se casado em 1458 com Francesca, filha de Lucantonio di Niccolò degli Albizzi, cujos costados exibem toda a história de Florença, nos séculos XIII e XIV.

Sobre os ancestrais Cavalcantis mais remotos, só podemos, no momento, especular. Mas vou fazer isso, mais adiante.

Giovanni Cavalcanti fixa-se em Londres, como mercador, desde 1509, ou talvez um pouco antes. Torna-se logo fornecedor da corte inglesa: especializa-se em bens suntuários, de tecidos caros, damascos, panos tecidos com fios de ouro, até a negociação de objetos de arte, de quadros a esculturas e, enfim, o projeto de monumentos, sobretudo monumentos fúnebres. Uma das negociações, que Cinzia Sicca examina em detalhe, é o projeto de um mausoléu para Henrique VIII e sua mulher (de então), Catarina de Aragão.

Giovanni di Lorenzo Cavalcanti corresponde-se, no exercício de seu ofício, com artistas como Michelangiolo. É citado por Vasari. Suas atividades dão-se no eixo Londres-Florença-Roma. Ligado aos Médicis, devido à posição no ambiente político de Florença e através de parentesco ao ramo dito popolano da família de' Medici, torna-se uma espécie de quabrador de galhos para o Cardeal Giovanni de' Medici em Londres. Quando este é eleito papa em 1513 e torna-se em Leão X, Giovanni Cavalcanti é feito camareiro papal, o que lhe dá um status de primeiro plano ao se apresentar perante Henrique VIII. Envolve-se na diplomacia que cerca a concessão do chapéu de cardeal a Wolsey, principal ministro de Henrique; está ao lado do rei inglês quando este vai se encontrar com Francisco I de França no Campo das Tendas de Ouro (sabemos disso graças a uma citação feita em 1520) e, enfim, novamente participa de uma negociação entre o papa e o rei da Inglaterra, quando graças a um tratado que Henrique escreve contra Lutero, Leão X concede-lhe a Rosa de Ouro e o título de Defensor Fidei.

Em 1521, Giovanni di Lorenzo Cavalcanti está de volta a Florença, e lá se casa com Ginevra, filha de Francesco di Lionardo Mannelli. Francesco Mannelli era o sócio de Giovanni Cavalcanti em Florença nos negócios de produção, compra e venda de tecidos de seda, pois os Mannelli eram setaiuoli, donos de uma tecelagem de seda. Eram gente rica, recentes nesse comércio de seda, mas com uma história interessante, entremeada a fundo à história de Florença. Pois os Mannelli eram gibelinos — embora um ramo algo desgarrado do clã tenha optado pelo partido guelfo — e de origens feudais autênticas mas longínquas. Em 1260, Tommasino e Simone, filhos de Rinucinno di Benintendi Manneli, são conselheiros gibelinos da comuna; em 1261 encontramos Abate, filho de Abate Mannelli. Atestam-se como comerciantes depois de 1280, e por esta época uma violenta vendetta opõe os Mannellis à família Velluti. Em 1278 é chefe do ramo guelfo certo Mannello Mannelli, comerciante riquíssimo.

Giovanni di Lorenzo Cavalcanti era um homem de grande requinte e gosto muito elaborado: ainda jovem, corresponde-se com Luigi Guicciardini sobre a descoberta do Laocoon em Roma (isso, em 1506); em 1508, em cartas sempre dirigidas àquele Guicciardini, discute a descoberta de tumbas estruscas em Castellina. Foi quem atraiu para Londres o escultor Pietro Torrigiano, de quem conhecemos o busto de Henrique VII, hoje no Victoria and Albert Museum.

Giovanni di Lorenzo Cavalcanti morreu em Londres em 1542; teve com monna Ginevra três filhos, Schiatta, que aparentemente sucedeu ao pai na gestão dos negócios, Guido, que serviu a Caterina de' Medici e a acompanhou quando esta se mudou para a França, e Filippo, que vem para o Brasil.

Não há dúvida que o Cavalcanti ancestral da família Cavalcanti de Albuquerque é este Filippo di Giovanni Cavalcanti, filho de Giovanni e de madonna Ginevra Mannelli. Refaço então a pergunta que havia feito acima: por que este homem, criado em duas grandes cortes renascentistas, Londres e Roma, filho de um homem riquíssimo, vem se enfurnar no Brasil?


A linha (tentativa) dos Cavalcantis até Filippo Cavalcanti.

Em resumo: pelo que vi dos Cavalcantis, o ramo que veio para o Brasil, já documentado até meados do século XIV, e provavelmente ao século XIII, é aquele que passou a Nápoles em começos do século XIV. Por enquanto, meu argumento é só onomástico - é o ramo dos Giovannis e Filippos que se sucedem e se alternam nessa família - mas espero que logo apareça base documental mais firme.

Por outro lado, vejo que as genealogias manuscritas dessa família, Ammirato e Gamurrini, estão todas furadas, e erram longe longe com respeito ao ramo brasileiro.
No caso do ramo napolitano, que adquire logo uma grande importância no reino de Nápoles no século XIV, onde logo chegam a cargos da corte e são feitos barões, vejo nessa ascensão a ajuda sobretudo de Niccolò Acciaioli (1310-1366), grão senescal de Nápoles, um tremendo nepotista. Niccolò adotou formalmente - está no seu testamento - dois primos de Florença, um deles Ranieri Acciaioli, depois Duque de Atenas. Chamava messer Donato Acciaioli, primo algo longe, de “irmão.” E Mainardo Cavalcanti era casado com Andreina Acciaioli, irmã de Donato e Ranieri, e segundo testemunhos, Amerigo Cavalcanti, irmão de Mainardo, era casado com uma irmã de nome não sabido, de Andreina. (Amerigo Cavalcanti foi o avô de Ginevra Cavalcanti, casada em 1416 com Lorenzo de' Medici il Popolano, trisavós do grão-duque Cosimo de' Medici, o que assina a certidão de nobreza de Filippo Cavalcanti.)

A linha do nosso Filippo Cavalcanti, fixado no Brasil, principia com certeza documental noutro Filippo, que conhecemos, por enquanto, apenas através dos patronímicos de seu neto, Filippo di Jacopo di Filippo, que se casa em 1458 com Francesca degli Albizzi. Quem é, ou quem poderia ser, este mais antigo dentre os Filippi Cavalcanti?

Vivia no século XIV, é o que sabemos com certeza. Filippo não é nome frequente entre os Cavalcantis, mas no século XIV um se destaca, um homônimo, no nome e patronímico, do que passa ao Brasil dos séculos depois: é um primeiro Filippo di Giovanni, que vivia em Nápoles, onde era dos mercadores florentinos mais influentes junto à corte dos reis angevinos. Este Filippo Cavalcanti foi camareiro régio em 1343, e Barão de Sartano, investido em 1363. Casou-se com Isabella Adimari. Teve um filho conhecido, Amerigo Cavalcanti, governador de Cápua, Barão de Sartano; atestado até 1406. É com certeza aquele Amerigo Cavalcanti referido nas correspondências de Niccolò Acciaioli e de Ranieri Acciaioli, Duque de Atenas — porque se houvessem dois homônimos, isso certamente apareceria nos documentos.

Não é o Filippo que procuramos, pai de Jacopo Cavalcanti e avô de outro Filippo. O que procuramos nasceu por volta de 1360, porque seu filho Jacopo Cavalcanti nasce em 1392 — tem 35 anos em 1427, e ainda está solteiro, lemos no Catasto de Florença. Mas poderia ser filho do Filippo atestado em Nápoles. Poderia: é uma conjectura.


Os Cavalcantis e a conjura dos Pazzi, 1478.

Filippo di Jacopo di Filippo Cavalcanti casou-se em 1458 com Francesca, filha de Lucantonio degli Albizzi. A mulher descendia de uma família oligárquica, monopolizadora do governo da cidade antes dos Médicis, mas pelo que sabemos, Filippo di Jacopo era dos palleschi, isto é, dos partidários dos Médicis.

Teve ao menos dois filhos, Lorenzo — Lorenzino — e Andrea, que vamos encontrar ao lado do Magnífico Lorenzo de’ Medici quando tentam assassiná-lo, em 1478.

Lorenzo de’ Medici, il Magnifico, era um homem excepcionalmente feio, com um rosto como que esculpido grosseiramente. No entanto, no trato pessoal era encantador, e tão excepcionalmente sedutor que sua feiúra como que desaparecia, ou era velada pelo trato amável, agradável, que sabia praticar junto aos com quem conversava. Era também culto, bom poeta e interessado nas artes plásticas, tendo servido como mecenas a diversos pintores e escultores em Florença na segunda metade do século XV — aliás, vários membros de sua família, como seu primo e homônimo Lorenzo di Pierfrancesco il Popolano, protetor de Botticelli.

O irmão do Magnífico, Giuliano de’ Medici, embora não tão brilhante quanto o primogênito, era ao contrário personagem de bela figura, e tão encantador quanto Lorenzo o era. No entanto, ambos eram detestados pelo papa, Francesco della Rovere, Sixto IV.

Os Médicis era vistos pelas famílias mais antigas de Florença como uma família de arrivistas e novos-ricos, gente “de baixa extração” que subira graças a golpes de sorte. A família do papa Sixto IV, eleito em 1471, era mais modesta ainda: Francesco di Savona era filho de um pescador, Lionardo, e adotou o nome della Rovere (do Carvalho) para simbolizar o que via como representação de sua personalidade. Frade franciscano, chegou a geral da ordem, e quando é eleito papa, é recebido com esperança.

Os Médicis eram então os banqueiros papalinos. Embora de início as relações entre Florença e o papa Sixto IV fossem cordiais, o primeiro confronto se dá quando Sixto IV deseja comprar Imola como um feudo para seu sobrinho Girolamo Riario. Lorenzo o Magnífico diplomaticamente se recusa a financiar tal compra, que via como lesiva aos interesses florentinos, mas o papa obtem um empréstimo adequado com os rivais dos Médicis em Roma, os Pazzi, através de um dos chefes desta casa bancária, Franceschetto de’ Pazzi.

(Os Pazzis eram do antigo grupo de famílias nobres que governavam Florença antes das constituições republicanas do final do século XIII, e desprezavam os Médicis como parvenus. Sua linhagem incluía até um cruzado, Pazzo di Ranieri, que teria estado no Santo Sepulcro em 1099; e lembremos que o nome da família significa “maluco.”)

Mais confrontos entre Lorenzo e o papa dão-se com a nomeação de Francesco Salviati, outro inimigo dos Médicis, como arcebispo de Pisa. O governo de Florença nega-lhe, em consequência, durante três anos, a admissão à sua diocese, e quando o faz, já tem contra si, unidos, os que serão os chefes da conjura dos Pazzi, o arcebispo Salviati, Franceschetto de’ Pazzi, e Girolamo Riario, o sobrinho do papa. Os conjurados contratam um condottiero, Gian Battista da Montesecco, para liderar as tropas que invadirão Florença, e pedem-lhe também que assassine Lorenzo e Giuliano de’ Medici. Montesecco vai a Florença, é recebido pelo Magnífico Lorenzo, que o seduz com seu encanto bem conhecido — e recusa-se a participar do assassínio, embora concorde em chefiar as tropas dos conjurados.

Montesecco é substituído por dois frades, e a oportunidade de se realizar o assassinato dos irmãos Médicis acontece num domingo, 26 de abril de 1478, numa missa na catedral, em homenagem a um sobrinho-neto do papa, Raffaele Riario, que — aos dezessete anos — acabara de receber o chapéu de cardeal. O ataque dá-se no momento da consagração da hóstia: Giuliano de’ Medici é morto por Bernardo Bandini Baroncelli e por Franceschetto de’ Pazzi, que, este, lhe perfura o corpo com mais de uma dezena de facadas. Os dois frades, Antonio Maffei e Stefano da Bagnone, atrás de Lorenzo, atacam-no com uma facada que, dada sem jeito, mal lhe fere o pescoço. Lorenzo pula, defende-se com a capa, e é cercado pelos amigos com os quais havia chegado na catedral, entre os quais Lorenzino Cavalcanti e seu irmão Andrea. Lorenzino é ferido quando tenta agarrar um dos frades assassinos, que logo em seguida mata mais um dos amigos do Magnífico, Francesco Nori.

O desfecho é terrível. O arcebispo Salviati, que com um bando de mercenários peruginos procura no Palazzo da Signoria o gonfaloneiro Petrucci, é por este desarmado, preso, e depois que rapidamente capturam-se os mercenários que o acompanhavam, o arcebispo é enforcado numa corda que se amarra nas ameias do Palazzo, assim como Franceschetto de’ Pazzi. Todos os conjurados são mortos, inclusive Montesecco e Jacopo de’ Pazzi, que hesitara longamente em entrar na conspiração. Baroncelli, que fugira até Constantinopla, é lá preso, recambiado a Florença, torturado, e enforcado como os outros, pendurado numa janela do palácio do Bargello.

Lorenzo, dito Lorenzino, de’ Cavalcanti, e sua mulher Contessina, filha de Ugo di Rinaldo Peruzzi, tiveram como filho a Giovanni di Lorenzo Cavalcanti, o mercador que vai servir a Henrique VIII. Contessina Peruzzi morreu em 1516.


Origem dos Cavalcantis.

Temos a genealogia dos Cavalcantis brasileiros desde meados do século XIV. Mas a família é bem mais antiga; traça-se, na confusão das genealogias manuscritas, até o século X. Só que tais genealogias são contraditórias e díspares, de modo que, sem a ajuda da base documental, nada podemos concluir de seguro.

Segundo tais genealogias, mas sem suporte documental, a família principiaria num certo Benedetto Cavalcanti, cavaleiro — donde o nome, cavalcante — de origem germânica, e que teria vivido entre fins do século X e começos do XI. Mas o primeiro membro atestado é Gianozzo Cavalcanti, cujo nome é conhecido através do patronímico do filho, este, personagem documentado. Gianozzo teria casado com uma Adimari, o que se infere do prenome do outro filho que lhe é atribuído, Adimaro Cavalcanti. Gianozzo Cavalcanti viveu nos começos do século XII; as memórias posteriores dão-no como filho de um Cavalcante di Giamberto di Benedetto, sendo este Benedetto o tal mais antigo ancestral desta família.

A família, no século XII, era muito rica. Possuía casas na região do Mercado Novo, em Florença, e um castelo no Val di Greve e outro no Val di Pesa.

Foi filho de Gianozzo, Cavalcante de’ Cavalcanti. É um dos cônsules da comuna de Florença em 1176. Sendo guelfo, é dado como se tendo envolvido nos conflitos dos que se opuseram a Frederico Barbarroxa, quando este invadiu a Itália. Sua mulher poderia ter sido uma Aldobrandini, porque um de seus filhos tem esse nome. Um seu outro filho, Schiatta Cavalcanti, foi cônsul em Florença em 1214.

O tronco do ramo napolitano é um Pazzo Cavalcanti, filho do Cavalcante de’ Cavalcanti supra, de quem diz Gamurrini que era bisneto Mainardo Cavalcanti, casado com Andalò ou Andreina Acciaioli — casaram-se, Mainardo e Andreina, depois de 1370. Mainardo era irmão de Amerigo Cavalcanti. Se fosse correta tal afirmativa, seria filho de Pazzo o Giovanni Cavalcanti que se atesta em Nápoles em começos do século XIV, mas, pelas datas — o irmão de Pazzo Cavalcanti, Aldobrandino Cavalcanti, é atestado em Florença em 1215 — antes seria aquele Giovanni, neto de Pazzo.

Seguir-se-iam portanto o neto de Pazzo, Giovanni Cavalcanti, expulso de Florença em começos do século XIV (era guelfo, e bianco, ou seja, guelfo no partido aristocrático). Foi seu filho, nascido por volta de 1320, Filippo Cavalcanti, camareiro régio no reino de Nápoles em 1343. Casou com Isabella Adimari.

Teve diversos filhos, como Nicolao, que nasce em 1350, e se atesta em Florença em 1427; Amerigo, que foi Barão de Sartano, e colaborou com Niccolò Acciaioli, grão-senescal de Nápoles e com Ranieri e Antonio Acciaioli, primeiro e segundo Duques de Atenas; Mainardo Cavalcanti, também ligado, pelo casamento e pelos negócios, como dissemos, aos Acciaiolis, e — supomos, conjecturamos — o Filippo Cavalcanti, nascido cerca de 1360, que originará o ramo brasileiro.

De Amerigo, cuja descendência é conhecida até hoje, no sul da Itália, foi filho Giovanni Cavalcanti, pai de Ginevra Cavalcanti, que em 1416 casou-se com Lorenzo de’ Medici il Popolano, irmão mais moço de Cosimo de’ Medici, il Vecchio. Noto que alguns genealogistas dizem que a mulher de Amerigo Cavalcanti foi uma Acciaioli, irmã de Andalò Acciaioli, mencionada acima, sua cunhada.

E volto agora a Giovanni Cavalcanti, nascido em Florença em 8 de outubro de 1480, mercador de quem já falei. Casou-se, como disse, com Ginevra Mannelli, sepultada em 11 de abril de 1563 na igreja della Santa Croce, em Florença. Filha de Francesco di Lionardo Mannelli, e de Maddalena di Gianozzo di Giovanni Naldi.

E seu filho é o nosso Filippo Cavalcanti, nascido em 12 de junho de 1525 em Florença e batizado na igreja da Santa Croce. Atestado no Brasil desde 1560.


Guido Cavalcanti, o poeta, e Giovanni Cavalcanti, o humanista.

Um dos prazeres que tenho ao falar das famílias patrícias de Florença, é a presença nelas de gente como Guido Cavalcanti, Giovanni di Niccolò Cavalcanti, Donato Acciaioli — e, claro, Lorenzo de’ Medici, o Magnífico. Ao lado das gentes que parece que saem de romances de Michel Zevaco ou de filmes de Errol Flynn nos anos 50 do século XX, gente personagem de história de capa e espada, tem intelectuais também.

Guido Cavalcanti, o poeta, nasceu em Florença em 1255. Muito jovem ainda, noivou com uma filha de Farinata degli Uberti, Bicce ou Beatrice degli Uberti, que desposa em 1267. Guelfo, mas de partido bianco, o partido da aristocracia, aparece em 1280 entre os que garantem a paz negociada entre guelfos e gibelinos. Os neri, guelfos pertencentes ao partido rival ao de Guido, predominam em Florença. Cita-se dele que tentou assassinar Corso Donati, chefe do partido oposto ao seu. Por este motivo, e por motivos análogos, Guido Cavalcanti é exilado em Sarzana em 1300, de onde volta já doente de malária para morrer em Florença em agosto de 1300. Eram seus amigos e confrades Dante, Dino Compagni, o cronista da história de Florença, e muitos outros.

Depois de Dante foi o maior poeta florentino deste período pré-renascença. Era um homem de grande cultura, conhecedor da filosofia árabe ibérica, sobretudo Averróis, cujas obras então começavam a se difundir na Europa.

Era filho de um Cavalcante de’ Cavalcanti, que se achou exilado em Lucca em 1260, depois da vitória gibelina em Montaperti. Era neto de messer Schiatta Cavalcanti, cônsul de Florença em 1214; bisneto de outro Cavalcante de’ Cavalcanti, irmão de Pazzo Cavalcanti, de quem parece derivar-se-iam os Cavalcantis de Nápoles e, penso, do Brasil. Grande poeta — eis um de seus sonetos:

Io non pensava che lo cor giammai
Avesse di sospir’ tormento tanto,
Che dell’anima mia nascesse pianto
Mostrando per lo viso agli occhi morte.

Non sent’o pace né riposo alquanto
Poscia ch’Amore e madonna trovai,
Lo qual mi sisse: — tu non camperai,
Ché troppo è lo valor di costei forte —.

La mia virtù si part’o sconsolata
Poi che lassò lo core
A la battaglia ove madonna è stata:

la qual degli occhi suoi venne a ferire
in tal guisa, ch’Amore
ruppe tutti miei spiriti a fuggire.

O segundo personagem é quase contemporâneo a seu homônimo, o nosso Giovanni di Lorenzo Cavalcanti. Pois este nasce em 1480 e morre em 1542. Seu primo, o — também — humanista Giovanni di Niccolò di Giovanni di Amerigo Cavalcanti, nasce em Florença em 1444, e lá morre, moço ainda, em julho de 1497. Sobrinho de Lorenzo de’ Medici il Popolano, porque sua tia Ginevra, irmã de seu pai, casou-se com aquele pallesco em 1416, Giovanni di Niccolò foi grande amigo de Marsilio Ficino, e partidário de Savonarola. Teve breve carreira política: foi prior em 1488, e ainda em 1497, é um dos embaixadores de Florença a Carlos VIII da França, que os encntra em Sarzana. Enquanto preso por se haver recusado a pagar certo imposto em Florença, começou a escrever suas Istorie Fiorentine, que só serão publicadas em 1838.


Filippo di Giovanni Cavalcanti no Brasil, de 1560 até algo antes de 1614.

Primeiro vamos ver o que dele conta Scipione Ammirato, na sua Istoria della Famiglia de’ Cavalcanti :

Filippo di Giovanni Cavalcanti, irmão [de Guido e de Schiatta] foi grandíssimo homem, que por volta do ano de 1550 partiu de Florença e andou no reino de Portugal, em Lisboa, e de lá passou ao reino do Brasil, distante de Portugal três mil milhas pelo mar, e chegou na cidade de Pernambuco, à vila de Olinda no dito reino, no qual se fazem grandíssimas quantidades de açúcar, e se tornou rico. Se aparentou [casou-se] com a senhora D. Catarina, filha do senhor Jerônimo de Albuquerque, nobilíssimo senhor, de família nobre do reino de Portugal e Brasil. Da qual recebeu alguns engenhos de refinar açúcar, e com seu engenho e modo tornou-se riquíssimo, e naquele país, grandíssimo homem, que adquiriu [boas] graças com aquele povo, e governou com seu engenho, porque tinha grande cabeça, todo aquele estado com grandíssima satisfação geral daqueles povos, que o estimavam grandissimamente, e teve muitos filhos, Jerônimo, João, Lourenço, Filipe, que viveram naquele reino honradamente, e não tiveram sucessão todos porque naquele reino se usa que o filho maior é o verdadeiro herdeiro, e lhes toma todos os bens do pai como morgado, e é obrigado a apoiar os outros irmãos. Este foi Antonio, que nasce por volta do ano de 1560, e teve descendência.

(Corrigi os nomes próprios, e noto que Ammirato faz referência indireta ao fato de Filippo Cavalcanti ter sido lugar-tenente do donatário de Pernambuco, isto é, o segundo homem da capitania.)

Pereira da Costa vai na mesma direção que Ammirato:

… como faz também o capitão loco-tenente de Jorge de Albuquerque [donatário da capitania] que é Felipe Cavalcanti…

Da documentação coetânea sabe-se que Filipe Cavalcanti foi lugar-tenente — segundo em comando — na capitania de Pernambuco ao menos entre 1588 e 1590, e possivelmente durante um período mais extenso. Segundo Pereira da Costa, Filipe Cavalcanti já residia em Pernambuco em 1566. E era rico:

Efetivamente, faustoso tratamento tinha Filipe Cavalcanti em Pernambuco. Filipe Sassetti, comerciante e viajante florentino de fins do século XVI, em interessantes cartas relativas ao comércio dos portugueses no oriente, fornece preciosas indicações sobre o seu compatriota Cavalcanti. Sobre o que escreve Sassetti, e pelo que se lê em trabalhos históricos sobre o desenvolvimento de Pernambuco, Filipe Cavalcanti possuía vários engenhos de açúcar, dispunha de extensos territórios e de muitos escravos, montava cavalos de raça ricamente ajaezados, organizava e tomava parte em cavalhadas e torneios públicos, vestia-se com grande distinção e elegância, orçando as suas despesas anuais em perto de oito mil escudos.



Os engenhos de Filipe Cavalcanti, nomeadamente Santa Rosa, Santana e Utinga, estavam situados numa légua de terra em quadra, que lhe concedera o segundo donatário Duarte Coelho de Albuquerque, situada no Cabo de Santo Agostinho, e pegadas com as terras de João Pais Barreto, correndo ao longo da ribeira do Arassuagipe, tanto da banda da dita ribeira como da outra, cujas terras foram judicialmente demarcadas em 12 de outubro de 1580.

Filipe Cavalcanti morreu em avançada idade, antes do ano de 1614 em que faleceu sua viúva, e foi sepultado na capela de S. João da igreja matriz do Salvador de Olinda, hoje catedral, da qual eles eram os seus padroeiros.

Filippo di Giovanni Cavalcanti casou-se, provavelmente entre 1560 e 1565, com Catarina de Albuquerque, nascida cerca de 1545, filha de Jerônimo de Albuquerque e de Maria do Arcoverde, a índia que a tradição quer filha do cacique Arcoverde. Deles falo depois. Agora vou falar dos filhos de Filippo e Catarina.

Foram: Diogo, falecido menino (seu nome deve lembrar os Jacopos da linha paterna de Filippo); Antonio Cavalcanti de Albuquerque, o herdeiro; Lourenço Cavalcanti de Albuquerque, governador de Cabo Verde depois de ter sido comandante de tropas portuguesas nas lutas contra os holandeses na Bahia, onde casou e teve descendência (o nome lembra o avô paterno de Filippo); Jerônimo Cavalcanti de Albuquerque; Filipe Cavalcanti de Albuquerque, o qual teria falecido de pouca idade; D. Genebra de Albuquerque, D. Joana Cavalcanti, solteira; D. Margarida de Albuquerque; D. Catarina de Albuquerque, D. Filipa de Albuquerque, D. Brites de Albuquerque — esta, solteira também.

D. Margarida de Albuquerque — dou-lhes, às senhoras acima, o dona porque assim o faz a tradição, mas não sei se o tinham ou usavam — casou com João Gomes de Mello, sr. do Trapiche do Cabo de Santo Agostinho. Casou novamente D. Margarida com Cosme da Silveira. Do casamento com João Gomes teve uma filha sabida, D. Anna Cavalcanti, que em 1618 casou com Gaspar Acciaioli de Vasconcellos, madeirense, como já dissemos. João Gomes de Mello era filho de um homônimo, e de Anna de Holanda, filha de Arnal de Holanda, personagem misterioso, de quem falo agora.

Noto, enfim, que Filippo Cavalcanti foi, duas vezes, denunciado à inquisição. Uma primeira vez porque possuía uma bíblia “em linguagem,” isto é, uma bíblia em latim. A segunda vez, por práticas homossexuais, práticas que eram algo corriqueiras na Florença dos séculos XV e XVI. Alessandro de’ Medici, Duque de Florença, e seu primo e assassino, Lorenzaccio de’ Medici, costumavam repartir a cama, com ou sem parceiras do outro sexo junto a eles. E Santo Antonino, que dirigiu a diocese de Florença no período, costumava verberar contra a sodomia, tanto hétero quanto homossexual, praticada pelos adolescentes e jovens florentinos; no caso da heterossexual, ou como método anticoncepcional ou como forma de preservar uma virgindade, digamos, técnica. Pregou sem grande sucesso. No Brasil, mergulhado na cultura religiosa da Ibéria, bem menos tolerante, denunciaram-no, ao nosso Filippo, à inquisição.

Os Albuquerques.

Os Albuquerques de Jerônimo de Albuquerque, sogro de Filippo Cavalcanti, eram os chamados Gomides Albuquerques, porque descendentes do casamento, trágico, de D. Leonor de Albuquerque e de João Gonçalves de Gomide.

João Gonçalves, homem rico, era de nobreza muito recente. O pai, Gonçalo Lourenço de Gomide, tão ou mais rico, esteve em 1415 em Ceuta acompanhando D. João I; diz-se que levou-lhe quatrocentos homens armados para a empresa. Foi recompensado: o próprio rei armou-o cavaleiro, e depois fez a Gonçalo Lourenço, senhor de Vila Verde dos Francos. Foi também — nome delicioso, que já não nomeiam cargos burocráticos com tal espírito — escrivão de puridade, ou seja, secretário particular, de D. João I.

O filho, João Gonçalves de Gomide, foi igualmente senhor de Vila Verde e escrivão de puridade do rei. Casou-se na boa nobreza de Portugal com D. Leonor de Albuquerque, filha de Gonçalo Vaz de Mello, senhor de Castanheira, Povos e Cheleiros, e de D. Izabel de Albuquerque. Aí aconteceu a tragédia: nalgum momento antes de 1437, João Gonçalves de Gomide assassina a mulher. É preso, condenado, e degolado em alto cadafalso em Évora. Aos órfãos de pai e mãe, determina-se que tomem o nome da mãe como apelido de família, e se lhes nomeia um tutor e curador, isso em 24 de março de 1437.

O filho primogênito, Gonçalo de Albuquerque, 3o. senhor de Vila Verde, segundo carta de 2 de abril de 1454, foi o pai, entre outros, do grande Afonso de Albuquerque, o conquistador da Índia. Um filho segundo foi João de Albuquerque, chamado o Azeite, senhor de Esgueira (carta de 18 de dezembro de 1454). Foi o pai de Lopo de Albuquerque, dito o Bode, casado com D. Joana de Bulhão, filha de Afonso Lopes de Bulhão, um burguês lisboeta. E estes, pais de Jerônimo de Albuquerque, cognominado o Torto, que veio para Pernambuco em 1535 com seu cunhado Duarte Coelho, casado com a irmã de Jerônimo, D. Brites de Albuquerque.

Da descendência de Jerônimo de Albuquerque, falo em oportunidades outras; a seguir, conto aquela que passa pelos Cavalcantis. Teve filhos com índias, uma das quais os cronistas chamam Maria do Arcoverde, que seria filha de um cacique, Arcoverde, e depois, casando-se porque obedecia a ordens da rainha de Portugal, D. Catarina, fê-lo com D. Filipa de Melo e São Payo. São, estes, em boa parte, os Albuquerques Mellos; os ramos descendentes das índias são os Albuquerques Maranhões, os Fragosos de Albuquerque, entre outros.


Holandas: judeus ricos?

Há uma lenda confusa e inverificável cercando o ancestral primeiro dos Holandas em Pernambuco, Arnal de Holanda, casado com Brites Mendes a velha. Seria Arnal de Holanda filho de um certo Hendrick van Rhijnburg (Rheinburg, na forma alemã), barão batavo, casado com Margrete Florenz, irmã do papa Adriano VI, Adriaan Florenz-Dedel. Só que, para começar, o barão não se consegue documentar de jeito nenhum, e o papa Adriano VI, que reinou um ano, de 1522 a 1523, não teve irmãs, só dois irmãos.

Nos documentos quinhentistas em que comparece, Arnal de Holanda nada fala sobre seus pais. Sua mulher era notoriamente judaizante, Brites Mendes “a velha,” conforme testemunhos no pedido de ingresso na ordem de Cristo de José Gomes de Mello, que dela descendia. Mas havia em Portugal, na virada do século XV para o século XVI, uma família de Holandas, muito rica, de comerciantes abastados e muito viajados. Que eram judeus.

Vamos ver.

Em 15 de julho de 1561, Diogo de Holanda, “o Salomão,” se apresenta à inquisição. É dado como filho de dois judaizantes, Jacob de Holanda e Leonor Mendes (citada nos nobiliários como Cosma, e apelidada a Dona Rica). Nascera Diogo de Holanda, o Salomão, em 1535.

Em 5 de setembro de1561, Francisco Jácome, irmão de Diogo, recebe armas (devo dizer, recebe-as surpreendentemente). Sem que se diga o motivo, nessas armas o primeiro partido reproduz o quartel principal das armas do papa Adriano VI. No texto da carta d'armas não consta sua filiação.

Nesse meio tempo entram em cena parentes afins dos Holandas portugueses, os Lins ou Linz von Dorndorf, fidalgos alemães, cristãos, banqueiros de Ulm, riquíssimos e prepostos em Portugal dos Fugger, de Augsburg. Em 1564, Maximiliano II, majestade cesárea, envia carta a D. Sebastião, pedindo-lhe que atenda aos pleitos de seu vassalo Sebald Linz. Sebald Linz é genro de Francisco Jácome, supra, e portanto sobrinho afim do judaizante Diogo de Holanda. E o filho de Sebald Linz, neto de Francisco Jácome, chamado Bartolomeu Jácome Linz, casa-se com Joana de Gois e Vasconcelos, filha de Arnal de Holanda e de Brites Mendes.

Dois dados são relevantes aqui, me parece. Diogo “Salomão,” tio de Jácoma Mendes, mulher de Sebald Linz, apresenta-se espontaneamente à inquisição e é dispensado. Sebald Linz é personagem com influência suficiente para obter da majestade cesárea uma carta em seu favor, em que é dado como vassalo do imperador. São com certeza comerciantes ricos e influentes, esses Holandas e Lins. Mais uma coisa: Bartolomeu Jácome Lins vive em Lisboa. Por que vai ao Brasil buscar uma mulher para se casar, se não fora devido a parentesco e às práticas endogâmicas dessa gente?

Tenho para mim que Arnal de Holanda era também filho de Jacob de Holanda, dito “Jácome” de Holanda. Judaizante, casado com Brites Mendes, que, penso, era irmã ou sobrinha de Cosma Mendes, ou Leonor Mendes, a Dona Rica. Vieram para o Brasil para fugir à inquisição, que devia pesteá-los constantemente. Os que ficam em Portugal devem ter negociado — e pago bem — a carta de brasão de 1561, que lhes limpa o sangue e apaga o passado judeu.


Descendência de Filippo Cavalcanti no Brasil.

Existiu uma linha varonil, descendente de Filippo Cavalcanti, a família Cavalcanti de Albuquerque e Lacerda, que persistiu até começos do século XX. Mas os ramos de presença notável na história do Brasil são duas linhas com várias quebras na varonia Cavalcanti (isso é gíria de genealogista; quero dizer, uma sucessão de homens e mulheres, mas todos mantendo o nome Cavalcanti).

São a linha dos Suassunas, e a linha dos Pires de Carvalho e Albuquerque, antes Pires de Carvalho Cavalcanti de Albuquerque, na Bahia. Sobre esta última já escrevi, de modo que, nesta nota, vou ficar nos Cavalcantis de Albuquerque do engenho Suassuna, em Pernambuco.

Catarina de Albuquerque, filha de Filippo Cavalcanti e de sua mulher, a primeira Catarina de Albuquerque, casou-se com Cristóvão de Holanda e Vasconcelos, falecido em 1614, filho de Arnal de Holanda e de Brites Mendes — que nunca aparece nos documentos contemporâneos à sua vida, como Brites Mendes de Vasconcelos, de modo que não sei de onde lhes chega este apelido.

Filho segundo do casal Catarina e Cristóvão foi Cristóvão de Holanda e Albuquerque, vereador em Olinda em 1651. Casou-se com Catarina da Costa.

Pais de João Cavalcanti de Albuquerque, senhor do engenho Apoá, vereador em Olinda, ouvidor-geral da capitania de Pernambuco, feito cavaleiro-fidalgo da casa real em 1713. Casou-se com D. Isabel da Silveira de Castelo Branco.

Foi filho dos precedentes Cristóvão de Holanda Cavalcanti, casado com a parenta D. Paula Cavalcanti de Albuquerque.

Tiveram a Antonio Cavalcanti de Albuquerque, casado com D. Maria Manuela de Melo.

A filha do casal, D. Ana Cavalcanti, casou-se com o coronel Francisco Xavier Bernardes; seus descendentes, no entanto, todos, mantêm o sobrenome Holanda Cavalcanti de Albuquerque. Diversas linhas saem deste casamento.

A linha primogênita vem do capitão-mor Francisco Xavier Cavalcanti de Albuquerque, casado com D. Filipa Cavalcanti de Albuquerque, e pais do Coronel Suassuna, na verdade brigadeiro (general), José Francisco de Paula de Holanda Cavalcanti de Albuquerque.

Deles falo mais adiante.

Mas José Francisco foi avô de um grande de Espanha, Don José de Cavalcanti de Albuquerque y Padierna, Marqués de Cavalcanti, com grande descendência na nobreza espanhola. Sua irmã D. Ana Maria Francisca Cavalcanti de Albuquerque, nascida em Madrid em 1838, e falecida em Bruxelas em 1890, casou-se com Jules de Villeneuve, Conde de Villeneuve pela Santa Sé (“conde do Papa”), com descendentes na mais rebrilhante nobreza do Almanach de Gotha, os Condes Schlitz zu Görtz, altezas ilustríssimas, e os príncipes de Sayn-Wittgenstein, altezas sereníssimas.
Ainda filha de Francisco Xavier Bernardes e de D. Ana Cavalcanti, foi D. Maria Ana Francisca Cavalcanti de Albuquerque, casada com Francisco do Rego Barros, e pais de outro Francisco do Rego Barros, Conde da Boa Vista, com cuja biografia começamos este capítulo.


Os Suassunas e sua Academia.

Foi um fenômeno interessantíssimo: radicais republicanos no interior de Pernambuco, em fins do século XVIII e começos do XIX; radicais de origens aristocráticas. E, enfim, autoritários quando chegam ao governo e passam a exercê-lo.

Na Academia Suassuna, em Jaboatão dos Guararapes, Luiz de Paula e Francisco de Paula de Holanda Cavalcanti de Albuquerque, membros de uma célula maçônica que existia no engenho dos Suassunas desde 1790, concebem projetos políticos mirabolantes. Em 1816, por exemplo, chegam a pensar no resgate de Napoleão Bonaparte, então prisioneiro em Santa Helena, para que chefiasse um império que teria Pernambuco em seu centro. As ideologias da revolução pernambucana de 1817, e depois, a da Confederação do Equador, em 1824, surgiram no grupo dos Suassunas; eram visões políticas republicanas, mais perto das idéias norte-americanas que daquelas da revolução francesa.

A revolução de 1817 começou num incidente banal, de tropa, que precipitou a ação dos conjurados. Em 6 de março de 1817 os revolucionários tomam o poder e nomeiam um governo provisório, aclamando presidente a Domingos Teotônio Jorge, e tendo como seus ministros ao padre João Ribeiro, a Correia de araújo, José Luiz de Mendonça, e Domingos José Martins. O levante durou setenta e quatro dias.

O governador legal da província, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, capitulou imediatamente e sem resistência. Mas tropas mandadas da Bahia, sob o comando de Luiz do Rego Barreto, depois premiado com o título de Marquês de Ferraz do Lima, reprimiram brutalmente o levante. Luiz do Rego fez executar aos dois Domingos, a José de Barros Lima, José Luiz de Mendonça, aos padres Miguelinho e Roma. Enforcado domingos Teotônio Jorge, a pedido de D. Carlota Joaquina, decapitou o cadáver, salgou sua cabeça, e enviou-a ao Rio, para que sua majestade a visse.

O ressentimento enorme contra essa repressão impiedosa estourou em 1824, quando do movimento da Confederação do Equador. Tudo explodiu depois que D. Pedro I dissolveu a assembléia constituinte. O Marquês do Recife, Paes Barreto, que presidia a junta governativa, demite-se, e é substituído por Manuel de Carvalho Paes de Andrade, eleito pelo povo do Recife. O movimento foi reprimido pelo pai de Caxias, Francisco de Lima e Silva, que fez executar os chefes, incluindo-se aí o frei Caneca, antes um panfletário que um conspirador ativo.

Uma nota final: em 1972, o governo do general Médici — sem parentesco algum à família histórica florentina, noto, nem parentesco nem similaridade de comportamento — fez repatriar os ossos de Pedro I, como parte das celebrações do século e meio da independência. Veio o caixão de Lisboa num boeing 707, cuja autonomia de vôo exigia uma parada no Recife para reabastecimento.

O que se segue me foi contado por um historiador alagoano: resolveram aproveitar a parada para fazer um velório do imperador que havia reprimido a conjura de 1824. O governador, acho que Moura Cavalcanti, fechou o Palácio das Princesas, e disse, aqui ele não entra. Na assembléia legislativa, o mesmo. Tentaram o Instituto Histórico, pior ainda. Acabaram forçando o velório dos restos de Pedro I nalgum salão oficial. Me completou o historiador meu amigo: jogaram até bomba contra o caixão.

Foi assim que me contaram. Sobre o que aconteceu mesmo, não adianta procurar nos jornais, já que a censura do tempo do Médici era total. Portanto, passo como me foi dito.


Muito agradeço à Profssa. Cinzia Sicca, que me passou detalhes da genealogia dos Cavalcantis e de sua prosopografia. Este texto foi extraído de meu livro Italianos no Brasil Colonial, no prelo pela Editora Revan.

7 comentários:

Ricardo C. disse...

Bom, já que fiz um comentário em um post mais recente seu, deixarei apenas dois pontos:

1) Sei que por parte de mãe venho dos Cavalcanti de Albuquerque; e

2) Um ex-cunhado meu, turinês, contou-me haver uma referência aos Cavalcanti na Divina Comédia, de Dante Alighieri. Mas falou disso com um sorriso maquiavélico nos lábios, dizendo que os Cavalcanti estão no Inferno, mais precisamente! (Risos!!)

(Trata-se de Cavalcante Cavalcanti, pai de Guido, que pergunta a Dante se não teria visto o seu filho, que era amigo do poeta. Ao menos o filho está vivo, diz o Canto X, ao que parece até ali só o pai estava no inferno...)

Francisco Antonio Doria disse...

Não sei se é Guido, ou Arnaut Daniel, o que é chamado il miglior fabbro.

vi: foi Arnaut Daniel:

Ara vos prec, per aquella valor
que vos guida al som de l'escalina,
sovenha vos a temps de ma dolor»

Então vos peço, por aquel/valor/que vos guia ao alto da escada/se lembre vós às vezes de minha dor.

Marcelo Bezerra Cavalcanti disse...

Parabéns pelo texto, quando sai o livro? Quer ver umas fotos dos castelos dos Cavalcanti na Toscana?

Você está quase certo na origem dos Cavalcanti, leia o apendice do livro "storie fiorentine" do Giovanni Cavalcanti, tem a origem da familia. Tá tudo no Googke Books.

Segue o link das fotos:

http://picasaweb.google.com/enzo.cavalcanti/MONTECALVI#

e
http://picasaweb.google.it/enzo.cavalcanti/CASTELLODELLESTINCHE#

inclui uma pesquisa nos livros historicos do medio evo.

Unknown disse...

Carissimi amici, ho letto l'articolo che mi è piaciuto molto per la precisione delle informazioni.
Mi sono commosso anche per la splendida passeggiata nel Chianti offerta dalle foto di Enzo.
Anche io volevo andare in Val di Pesa e al castello delle Stinche, ma ho sempre rinviato.

Per voi che, come me, amate la storia dei Cavalcanti mi permetto di suggerire una visita alla mia pagina web:
http://xoomer.alice.it/cavalcanti
Cordiali saluti
Silvio Umberto Cavalcanti

Unknown disse...

Gostaria de saber qual o ramo do Cardeal Arcoverde.

Marcelo Bezerra Cavalcanti disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcelo Bezerra Cavalcanti disse...

O livro sobre as origens da familia Cavalcanti esta disponivel no Google Doc https://docs.google.com/leaf?id=0B5OC4D3qMo_nNDc1ZjU3NjctYWQ5MS00NTA1LTg0ZjgtMjEyZmNhZDU4Yzhj&hl=pt_BR